História e lazer se encontram em uma área de 4 mil metros quadrados no limite entre o Centro Histórico e a Cidade Baixa. Prestes a completar um ano revitalizado, o Largo dos Açorianos, que mantém preservada uma ponte do século 19, virou um dos xodós de quem mora e trabalha em áreas próximas, reunindo centenas de pessoas à tardinha e nos finais de semana de sol.
— É um local de circulação, mas como é uma área nobre, queríamos fazer um convite às pessoas usufruírem do espaço. As arquibancadas trazem justamente a ideia do lazer contemplativo. Foi um sucesso, e continua sendo — conta o Alex Souza, arquiteto autor do projeto de reurbanização.
Além da instalação de arquibancadas voltadas para o espelho d’água, o local teve o lago rebaixado para permitir uma melhor visualização da Ponte de Pedra, e recebeu chafarizes. A devolução à comunidade, em 22 de agosto do ano passado, recuperou o potencial para atrair o público que a área já demonstrou em outros momentos. Quando a manutenção e a iluminação ainda eram precárias, em 2012, o Açorianos viveu o ápice de sua ocupação com a chegada do Bar Tutti Giorni, que desceu a escadaria da Borges para se instalar no local — e despediu-se dois anos mais tarde.
A reinauguração depois de quase três anos em obras também chamou atenção de imediato para uma demanda reprimida dos porto-alegrenses por áreas de lazer para além da orla do Guaíba. Por outro lado, expôs a dificuldade da população em preservar esses locais: em janeiro deste ano, uma ação de limpeza retirou mais de 250 quilos de resíduos do espelho d’água. Conheça oito fatos sobre o local:
1 - O Dilúvio já passou por ali
Quando foi aberta ao público, em 1848, a ponte de pedra (que substituiu outra, em madeira) cruzava um dos braços do arroio Dilúvio, que se bifurcava onde hoje está o Colégio Estadual Protásio Alves. Depois que o curso d´água foi canalizado, em 1937, a obra perdeu sua função de ligar o Centro Histórico à Zona Sul (trajeto hoje passou a ser feito pelas avenidas Borges de Medeiros e Praia de Belas).
2 - Já pensaram em derrubar a ponte
O projeto original da 1ª Perimetral, na década de 1970, previa a demolição da estrutura para permitir a construção de oito alças viárias de acesso ao Viaduto dos Açorianos. Mais tarde, a Ponte de Pedra foi agregada ao projeto urbanístico do novo viaduto e integrada ao plano de paisagismo da arquiteta e urbanista Enilda Ribeiro. Ela foi quem concebeu a praça onde um espelho d’água liga a Ponte de Pedra com o Viaduto dos Açorianos, remetendo ao Arroio Dilúvio.
3 - Agora, ninguém pode mexer com a ponte
Testemunha do passado da Capital, a Ponte de Pedra foi tombada pelo município em 1979. Naquele ano, o local recebeu o espelho d’água sob os arcos da estrutura. Em razão do alto nível da água, rebaixado na revitalização, boa parte da construção ficou encoberta durante décadas.
4 - Já foi palco de outras aglomerações
Hoje procurada pelos moradores do entorno, principalmente, nas tardes ensolaradas e no fim do dia, o Largo dos Açorianos foi palco de diversas aglomerações noturnas entre 2012 e 2014, quando o bar Tutti Giorni migrou da escadaria do Viaduto Otávio Rocha (para onde retornou posteriormente) para um prédio em frente à praça. À época, o local atraía centenas de pessoas ao redor do espelho d’água. A movimentação provocou diversos atritos entre moradores e frequentadores do bar, que chegou a ser interditado pela prefeitura.
5 - Revitalização levou mais de mil dias
O primeiro prazo para a entrega da obra de revitalização da área, que teve ordem de início em outubro de 2016, era maio de 2017. Em razão de uma série de problemas, a devolução do local à comunidade sofreu nada menos que sete adiamentos, contabilizando quase três anos em obras. Enquanto os prazos foram postergados, com anuência da prefeitura, o valor estipulado inicialmente teve incremento de 15%, passando de R$ 4,7 milhões para R$ 5,4 milhões.
6 - Um barco atracou por lá
Em outubro do ano passado, um barco de papel de dois metros de altura chamava a atenção de quem passava pela área verde. A estrutura que flutuava sobre o espelho d'água era obra do artista plástico e arquiteto Roberto Freitas. A intervenção artística, cuja proposta era resgatar a memória afetiva de quem brincava com barquinhos na infância, foi promovida pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) em celebração à 9ª Semana Municipal da Água.
7 - Alvo de vândalos
Levou quatro dias, depois de ter sido reaberto ao público, no ano passado, para que o local fosse alvo de vandalismo após a revitalização. Horas depois da ação, uma equipe do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) fez a limpeza das paredes do viaduto e dos bancos de concreto que foram riscados com tinta vermelha. Na ocasião, o então secretário Ramiro Rosário afirmou que o município não iria se "curvar ao vandalismo" e que faria a limpeza quantas vezes fossem necessárias. A pichação voltaria a se repetir pelo menos mais uma vez, em dezembro de 2019.
8 - Tem gente que acha que é depósito
Menos de cinco meses depois de o Largo dos Açorianos ter sido devolvido aos porto-alegrenses, em janeiro deste ano, uma empresa retirou 250 quilos de lixo do local. Contratada pela OAB, que adotou o largo em dezembro, a empresa responsável pela limpeza encontrou de tudo no espelho d’água: de garrafas a perucas, passando até por um vibrador. Um mergulhador precisou adentrar no laguinho para retirar dejetos que os equipamentos não conseguiram alcançar.