
Para quem está habituado a circular em grandes cidades, avenidas quase sempre são sinônimo de vias largas e asfaltadas, com várias pistas para a circulação de veículos, canteiro central, pontos de ônibus e comércios múltiplos, que não raro atravessam bairros inteiros.
Em um dos mais tradicionais de Porto Alegre, no entanto, o conceito é bem mais flexível. Das 25 avenidas do Petrópolis, 18 não chegam a um quilômetro de extensão —quatro delas têm menos de 500 metros. Entre as que recebem a nomenclatura, há ainda vias de sentido único, com pavimentação de paralelepípedos e que não são atendidas por coletivos. Boa parte não tem mais de duas pistas.
A Protásio Alves, que liga a Capital a Viamão e atravessa o Petrópolis, comportaria nada menos do que 35 avenidas do tamanho da Pirapó. A passo tranquilo, são necessários menos de cinco minutos para percorrer toda a via, localizada entre a nem tão maior Avenida Guaporé e a Rua Sinimbu. É a menor avenida do bairro, com cerca de 380 metros de extensão.

— Acho engraçado que tenha esse nome. Sempre digo que é uma rua metida à besta. A única coisa que tem de avenida é que é difícil de estacionar — sorri Hélade Antypas, 42 anos.
Proprietária de uma doceria na esquina da Pirapó com a Rua Sinimbu, Hélade escolheu o ponto para estabelecer seu comércio, um dos dois únicos da via — há ainda um salão de beleza — pela conveniência. Ela é moradora da Rua João Caetano, uma extensão da miniavenida. Apesar do estranhamento com a nomenclatura, conta já estar habituada com o tom hiperbólico usado nas vias do bairro. Anos atrás, quando conseguiu um estágio na Avenida Iguassu, entre as avenidas Carlos Gomes e Montenegro, surpreendeu-se ao deparar com as pequenas proporções da via, de quatro quadras e cerca 650 metros de extensão.
Para quem nasceu e criou-se no Petrópolis, a discrepância entre nomenclatura e proporção das vias só chama a atenção quando questionada. Moradora de uma de sete casas enfileiradas da Avenida Itaqui, a pouco mais de um quilômetro da Pirapó, há mais de sete décadas, Lourdes Farias Fernandes, 72 anos, diz que nunca estranhou o nome da via de menos de 400 metros de extensão, cuja abundância de casas e prédios baixos mais lembra uma cidade de interior.

— Avenidas geralmente são compridas, mas sempre achei normal — conta a aposentada, que vive em uma casa de dois pavimentos com irmãos e sobrinhos.
Lourdes recorda que, na infância, tanto a Avenida Itaqui quanto as adjacentes eram tranquilas e repletas de casas de madeira. Enquanto em parte das vias as casas deram lugar a prédios altos, o paralelepípedo foi substituído por asfalto, e começaram a circular linhas de ônibus, a sua foi das que manteve o ar bucólico — na sexta-feira em que a reportagem esteve no local, por volta do meio-dia, um homem dormia sentado em uma cadeira aberta sobre a calçada e quase não circulavam carros. Ônibus e lotações não passam pela Itaqui, onde, segundo os moradores, o trânsito se intensifica no fim do dia.
Já na diminuta Avenida Montenegro, uma ladeira entre as avenidas Protásio Alves e Bagé, a circulação de veículos é intensa durante quase todo o dia. A movimentada via, de cerca de 450 metros e sentido único, ostenta ainda diversos comércios e uma escola. São os alunos do colégio Florinda Tubino Sampaio os principais clientes do Mercado Miranda, um clássico secos e molhados de bairro à esquina com a Rua João Abott. Natural de Progresso, no Vale do Taquari, o proprietário Jair de Miranda sente-se em casa no local, que, na sua visão, não tem cara de avenida.
— Quando abri aqui já conhecia a região, que é boa. Mas essa é uma rua normal. Avenida é Protásio (Alves), Nilo (Peçanha). Tem de ser maior, né?

Mudança na interpretação do termo pode explicar miniavenidas
Segundo o Dicionário Aurélio, rua é uma "via pública para circulação urbana, total ou parcialmente ladeada de casas", enquanto avenida é uma "via urbana mais larga do que a rua, em geral com diversas pistas para circulação de veículos". Se a própria definição linguística é imprecisa, para a prefeitura de Porto Alegre tampouco há critérios claros em relação aos termos. Mais atualizada legislação sobre o tema, o Plano Diretor fala sobre "perfis viários", sem entrar no mérito da nomenclatura.
Para estudiosos do assunto, a origem das miniavenidas do Petrópolis pode ter relação com a mudança do entendimento do termo avenida. Segundo o arquiteto Luís Merino, observa-se que, na literatura do começo do século 20, eram chamadas avenidas as vias originárias de loteamentos, em geral destinadas a moradia. É o caso do Petrópolis, que começou a se formar a partir de chácaras loteadas.
— Antigamente o termo não tinha o sentido de grandes ruas. Uma avenida era uma rua com casas populares. Eram pequenas, em geral novas, construídas muitas vezes para habitação social. Depois que veio esse conceito mais grandioso.
Outra peculiaridade do bairro é a escolha do nome das avenidas. Das 25 existentes, 13 têm nomes de cidades gaúchas. Segundo o livro Memória dos Bairros — Petrópolis, elas foram batizadas por um dos loteadores da região, em razão de exigência da Câmara Municipal. À época, várias vias do bairro tinham nomes próprios femininos, que homenageavam mulheres da família dele. O Legislativo exigiu que fossem trocados, prioritariamente, por nomes relevantes no âmbito nacional ou regional, de preferência homens. O loteador sugeriu que fossem substituídos por cidades do Interior.