A esperança de conclusão da duplicação da RS-118, reacendida no fim do ano passado com a aceleração dos trabalhos, foi frustrada mais uma vez. Moradores e comerciantes que vivem à beira da rodovia reclamam de interrupção dos trabalhos em mais um trecho das obras, que completam 13 anos em julho.
Em Sapucaia do Sul, a Toniolo, Busnello, responsável pela construção da nova pista e reforma da atual nos primeiros cinco quilômetros, paralisou atividades há 10 dias — a Justiça já autorizou a recuperação judicial da empresa. Quem circula pelo local ainda vê cones e as placas que pedem “Atenção - Obras na pista”, mas, na prática, os caminhões já não circulam pelo local.
Donos de empresas às margens da rodovia já apontam uma redução de cerca de 30% no número de clientes. Na Arme Materiais de Construção, o proprietário tirou dinheiro do próprio bolso para corrigir alguns buracos no entorno da loja.
— Teve que ser assim, do próprio bolso mesmo, para deixar menos esburacado. Se não for assim, os caminhões não entram. O acesso à loja fica complicadíssimo. E aí vamos perdendo clientes — conta André Mattos de Souza, proprietário do estabelecimento.
Perto dali, Luiz Eduardo Sander, um dos proprietários da Mecânica São João, também vê o número de clientes reduzir a cada ano. Com negócio no local há três décadas, ele acompanhou todo o começo da obra na RS-118:
— Eles estavam trabalhando, a gente pensou que a obra ia andar, mas não. Pararam há alguns dias. E aí ficam os buracos aqui e o movimento caindo. Mas a gente não tem como pensar em sair, já estamos enraizados.
Apesar de haver sinalização, as obras atrapalham os motoristas. Os congestionamentos são comuns no trecho de Sapucaia do Sul, principalmente no começo da manhã e no fim da tarde. Em alguns pontos, chama atenção ainda a grande quantidade de lixo que se acumula nos locais onde havia obras.
Carlos Arlindo Galas, 81 anos, morador do bairro Capão da Cruz, mora há mais de 30 anos na região. Ele sentiu diretamente o impacto dos longos anos da rodovia em obras:
— Fali três vezes por causa dessa estrada e dessa obra. Abri um depósito de ferro, um motel e uma máquina de microtratores, mas todos fecharam porque as pessoas não conseguiam chegar. Hoje vivo do aluguel de apartamentos aqui. Não acredito no governo — lamenta.
Recuperação judicial
No último dia 9, a Justiça autorizou a recuperação judicial da Toniolo, Busnello. O pedido tinha sido feito pela empresa, alegando crise econômica e financeira motivada pela redução de investimentos estrangeiros e limitação de orçamento dos órgãos públicos.
Antes de paralisar os trabalhos, a empresa vinha reduzindo o serviço gradativamente. A decisão foi tomada por três motivos: falta de fornecimento asfáltico, falta de informações do governo sobre o orçamento para a duplicação em 2019 e dívida do governo com a empresa.
GaúchaZH procurou a empresa novamente nesta segunda-feira (15) e aguarda retorno.
No total, são 21 quilômetros de obras. A construtora Sultepa é responsável pelo restante da duplicação, em 16 quilômetros da rodovia entre Gravataí e Sapucaia do Sul. A empresa também está em recuperação judicial e suspendeu a obra por falta de pagamento a partir de janeiro. Os trabalhos foram retomados em março, com a promessa de que o Piratini vai voltar a pagar.
A empresa Sogel, responsável pela construção do viaduto sobre o Trensurb, em Sapucaia do Sul, não realiza obras desde o começo do ano.
A construção do viaduto da Avenida Theodomiro Porto da Fonseca e das pontes sobre o Arroio Sapucaia, ambas em Sapucaia do Sul, está em andamento.
Previsão
A última previsão dada pelo governo do Estado para a conclusão das obras é dezembro de 2020. Segundo a Secretaria dos Transportes, faltam R$ 120 milhões de verba para a obra, entre dinheiro para restauração, duplicação e construção de viadutos e pontes.
A secretaria informou ainda que o governo segue em busca dos recursos disponíveis para a definição de um cronograma financeiro para as obras da RS-118 - depois disso, será possível estabelecer uma data para a retomada dos serviços.