O Sub-Zero, o Donatello, o Ryu e o Pac-Man seguem na ativa em Canoas — e você pode tomar uma cerveja com eles todas as noites de sexta e sábado, se quiser.
O reencontro nostálgico com fliperamas das décadas de 1980 e 1990 ocorre no Old School House Beer Burguer, aberto em 2016 na cidade da Região Metropolitana. São 50 máquinas à disposição da freguesia do “barcade”. E outras 30 estocadas – já não há espaço físico para acomodar todas as aquisições na casa alugada na Rua Santa Rosa.
Os proprietários são dois analistas de sistemas “com o coração no século passado”: Michel Bohn da Silva, 37 anos, e Evandro Oliveira Silveira, 46 anos. Eles decoraram o local com pôsteres dos Cavaleiros do Zodíaco e do ator Arnold Schwarzenegger em O Predador (1987), embalagens dos bonecos de Comandos em Ação, fotos dos carros de Nelson Piquet e Ayrton Senna e a máscara do Jason, de Sexta-Feira 13. A trilha sonora remete à mesma época – tocava The Outfield e Michael Jackson na última sexta – e até o cheiro de gordura que vem da cozinha lembra hambúrguer de mãe.
Mas se você é fanático por fliperama, é capaz de nem reparar nisso. Vai estar ocupado demais dando fatalities no Mortal Kombat, descarregando sua pistola no jogo do Exterminador do Futuro ou derrapando nas curvas do Cruis’n USA — sem sair do banco de madeira do gabinete de 1981. O freguês paga R$ 19,90 para entrar no Old School e deleita-se em uma espécie de open bar de games: dá quantos starts estiver a fim.
— Tu vem para cá e entra numa zona de teletransporte. Parece que não está mais em 2019 – descreve o técnico em operações Erasmo Motta de Oliveira, 35 anos, o o vencedor do mais recente campeonato de Street Fighter realizado no bar.
Michel tem dificuldades para apontar os arcades mais raros da casa — teria que "falar de todos", diz. Mas fica claro que uma de suas preferências é Tartarugas Ninjas, de 1989, porque, conta ele, foi a primeira máquina para quatro jogadores ao mesmo tempo. Isso também explica o motivo pelo qual abriu o Old School: ver as pessoas se divertindo juntas. A voz chega a embargar quando lembra uma história da infância:
— Um dia meu pai foi promovido e me trouxe um saco com 80 fichas. Não era uma coisa que fazia normalmente, ensinava a dar valor pra conquistar as coisas, mas ele sabia o quanto eu gostava. A primeira coisa que eu fiz foi entregar fichas para as pessoas do flíper, para jogarem comigo. E eu acho que esse lugar existe muito por isso, pelo mesmo sentimento que eu tinha quando era pequeno e queria jogar com mais pessoas.
Ocorre também da geração dos Millennials descobrir o fliperama com a família. Lisiane Dann Martins, 14 anos, orgulha-se de ter colocado o nome nos recordes de uma pinball de 1983, a mais antiga da casa.
Talvez ela seja a última a brincar nessa máquina. É que, pouco depois, a pinball estragou, e ainda não conseguiram consertá-la — os donos fazem por conta a manutenção, contando apenas com a ajuda de um senhor de Sapucaia do Sul que trabalhou na fábrica da Taito.
A jovem deu entrevista enquanto disputava um jogo de tiro com a mãe, a advogada Anne Luise Dann Martins, 36 anos. A alguns metros, na máquina do Pac-Man estava o pai, Elvis Martins, 40 anos, "nerd assumido" que chegava a matar aula para jogar fliperama quando criança. Não é incomum a família estar entre os primeiros clientes a chegar, às 19h, e os últimos a sair, perto da meia-noite.
Funcionamento
O Old School abre nas noites de sextas-feiras, sábados e vésperas de feriado. Fica na Rua Santa Rosa, 162, Bairro Marechal Rondon, Canoas.
Crianças precisam estar acompanhadas de pais ou responsáveis para entrar.