Para Raquel Moro de Farias, que completou 15 anos em março, não faltam motivos para celebrar a vida. Em novembro do ano passado, ela sofreu um grave acidente de carro, na Curva do Bigode, em Gravataí, no qual seu então namorado, 19 anos, faleceu. Ela quebrou sete costelas, o cóccix, seu baço estourou e sua bacia ficou deslocada. Mas, naquele momento, alguns anjos cruzaram o caminho da jovem.
Dois socorristas do Grupo de Resgate e Apoio Voluntário de Emergência (Grave) passavam pelo local – Gustavo Weber, 22 anos, e Luan Caparro Flores, 23 – voltando de um evento em Tramandaí quando perceberam o acidente.
– Naquele dia, depois que largamos alguns colegas em casa, percebi que tinha esquecido a chave do meu carro com um deles. Pedi para o Luan, que ainda estava comigo, para voltarmos. Passamos por lá totalmente por acaso – conta Gustavo.
No local também estava um outro socorrista, Mario Lessa, que dirigia a ambulância de uma empresa particular após um plantão e ajudou nos primeiros socorros. Raquel foi levada para o Hospital Dom João Becker, onde trabalha seu pai, o vigilante Everton Viana de Farias.
– No dia, não sabíamos disso. Ficamos sabendo um tempo depois, quando, ao levarmos outro paciente para lá, ele veio nos procurar para dar um abraço. A partir daí, acompanhamos a trajetória da Raquel de longe – diz Luan.
A recuperação incluiu alguns dias de UTI e 20 dias de internação. Raquel lembra pouco daquela noite, mas sabe da importância da presença dos dois.
– Lembro só depois de ir para o quarto. Se não fosse o Luan e o Gustavo, eu não estaria aqui para contar – diz ela.
Solidariedade
Neste ano, veio a oportunidade de aproximação entre eles. A festa de Raquel, que seria em março, teve de ser cancelada em função dos gastos que a família teve com o acidente. Mas, graças à ajuda de vários voluntários, no dia 22 de dezembro o sonho foi realizado.
– Após o acidente, os donos do salão que havia sido contratado prometeram que, se ela se recuperasse, eles dariam a festa. Ela ganhou tudo. Vários funcionários trabalharam de graça – conta a professora Eliane Moro de Farias, mãe de Raquel.
Eliane e Everton decidiram, então, convidar os socorristas de Raquel para participar deste momento: Luan, Gustavo e toda a equipe do Grave que estava de plantão na data foram buscá-la em casa, de ambulância.
– Eles foram anjos na nossa vida. Como ela tem muito carinho e gratidão por eles, nós resolvemos fazer uma surpresa. Agradecemos a Deus por ter colocado eles no nosso caminho. O acidente foi horrível, era para minha filha ficar com sequelas, mas só perdeu o baço. Foi um grande milagre, e só temos a agradecer a todos que nos ajudaram – relata Eliane.
Surpresa para a aniversariante
Outro detalhe emocionante desta história é que Raquel não sabia da iniciativa dos seus pais.
– Chegamos à casa dela com a sirene ligada. Quando explicamos do que se tratava, ela ficou paralisada. Nós nos emocionamos de um lado, a família se emocionou do outro. Foi uma noite mágica, muito especial – conta Luan.
A aniversariante conta que havia mencionado para os pais, meses antes, o desejo de que seus salvadores participassem da festa. Mas pensava que a ideia não tinha ido adiante:
– Estava em casa, esperando a hora de ir para o salão, quando ouvi a sirene. Eu fiquei muito nervosa, mas muito feliz.
Além de acompanhar a debutante na entrada da festa e dançar a valsa, os socorristas também receberam homenagens.
– Nunca esperávamos por isso. Nós ganhamos medalhas, e a equipe do Grave ganhou um troféu. Naquela hora, passou um filme na nossa cabeça. Ver a Raquel bem e sorrindo após o acidente foi magnífico – finaliza Gustavo.