As manifestações de estudantes nas escolas particulares de Porto Alegre após as eleições presidenciais serão pauta de uma reunião na Câmara de Vereadores, nesta terça-feira (6), às 14h30min.
Embora seja oficialmente um evento de duas comissões do Legislativo – Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana e Comissão de Educação, Cultural, Esportes e Juventude –, o convite foi estendido a todos os vereadores e a mais de 50 entidades. Aberta ao público, a reunião será no plenário Otávio Rocha, o maior da Câmara.
Trata-se de um debate sem efeito legislativo. De acordo com a vereadora Comandante Nádia (MDB), presidente da primeira comissão, a iniciativa se deu em razão de um número significativo de pais de estudantes terem procurado vereadores para reclamar de "manifestações político-partidárias em escolas privadas da cidade de Porto Alegre". A vereadora assegura que o encontro servirá para que sejam ouvidos diferentes pontos de vista sobre o assunto.
— Venho de uma instituição (a Brigada Militar) que é reconhecida pela mediação. Se é um tema relevante para a cidade, cabe ao Legislativo não ignorar e abrir espaço para o diálogo entre as partes — declara Comandante Nádia.
Foram convidados 21 colégios particulares. Segundo a vereadora, em todos houve manifestações. Também foram convidados associações de pais e mestres, órgãos do Judiciário ligados à infância e adolescência, representantes de secretarias de Educação, de faculdades de Educação, sindicatos de professores, organizações estudantis e a Frente Gaúcha Escola Sem Partido, que defende um projeto de lei em tramitação na Câmara Municipal para coibir o ensino "ideologizado" em sala de aula. Atualmente, o projeto está em análise na Comissão de Constituição e Justiça.
Nem todos os colégios devem comparecer: o Colégio Bom Conselho anunciou que não irá por já ter se manifestado sobre o assunto. O Colégio Marista Rosário, um dos convidados, confirmou participação, mas ainda não havia definido quem o representaria até a noite de ontem.
Os estudantes serão representados pela União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas, cuja representante no encontro será Vitória Cabreira.
— Discordo que haja influência dos professores e de partidos nos atos dos alunos. Se houvesse influência partidária, as manifestações teriam ocorrido durante as eleições. De qualquer forma, acho que abrir espaço para debate será positivo — declara a estudante da Escola Técnica Estadual Parobé, de 18 anos, que também preside a União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre.
Representante do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro) no evento, Cecília Farias promete defender seu ponto de vista no encontro, mas enxerga a iniciativa da Câmara com ressalvas:
— Isso é uma questão pedagógica, quem entende da questão pedagógica é a escola, são os professores, são os alunos. E é nesse ambiente que deve ser tratado, e não no Legislativo ou nas varas de tribunais. Lembrando que a Constituição garante essa autonomia às escolas e professores.
Segundo a diretora do Sinpro, os alunos trouxeram o assunto para a escola, e não o contrário:
— O aluno passa quatro, cinco horas por dia na escola. O resto, ele passa em casa ou em outros ambientes. Em uma sociedade polarizada, a gente esperar que essa discussão não chegue à escola beira a ingenuidade. É claro que ela vai refletir isso e tem mais é que refletir, pois ela não está à parte da sociedade. É importante que os estudantes tenham espaço para se manifestar. Mas claro que de forma civilizada e como um espaço de discussão, não de disputa.