Seis anos se passaram desde que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. Apesar do avanço, lésbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBTs) ainda enfrentam olhares de reprovação e até agressões físicas e verbais quando demonstram afeto pelos parceiros. A suposta agressão motivada por homofobia, durante festa de formatura na Associação Leopoldina Juvenil, traz a problemática mais uma vez à tona.
Defensora da causa homossexual, a ex-desembargadora Maria Berenice Dias entende que essas reações evidenciam a dificuldade que as pessoas têm de conviver com o diferente, especialmente com as minorias. A advogada lembra que essa realidade sempre existiu, mas que, no passado, de forma "muito invisibilizada, sempre no armário":
– Com essas mudanças que vêm acontecendo no mundo, particularmente no Brasil, com o reconhecimento de direitos, as pessoas começaram a viver de maneira mais ostensiva, e isso desperta mais ainda a reação homofóbica. Eles estão enxergando. Antes, sabiam e não viam, mas, agora, ao verem, reagem presos em preconceitos conservadores – diz ela, que defende que uma mudança na legislação, tornando a homofobia um crime, teria caráter pedagógico.
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O crescimento do conservadorismo que vem ocorrendo não apenas no Brasil, mas no mundo, é outra explicação para a violência contra LGBTs. No país, um homossexual é assassinado a cada 25 horas, segundo o Grupo Gay da Bahia – em 2016, foram 343 mortes, um número recorde em 37 anos de levantamento.
Na avaliação do coordenador do Grupo Somos, Gabriel Galli, é como se o movimento desse um passo à frente e dois atrás: após comemorar o reconhecimento do casamento gay, em 2013, os brasileiros elegeram o Congresso mais conservador desde a ditadura militar no ano seguinte.
– É um momento de temor, e os movimentos sociais precisam continuar alertas porque a gente está no limite para perder uma série de direitos, não só dos LGBTs, mas das mulheres, da população negra. Não podemos perder a esperança, pois temos de entender que, quando se trata de direitos humanos, avança-se um pouco e se regride muito – analisa.