As mensagens no grupo de WhatsApp da Associação dos Moradores e Amigos da Vila dos Comerciários (Mavicom) começaram a pipocar na noite de quarta-feira (16). Eram pedidos de ajuda para resgatar um cão que estava dentro de um bueiro na Rua Bernardino Caetano Fraga, na esquina com a Rua Abelardo Marques.
A pedagoga Analice Stigger Moreira foi a autora dos pedidos. "Queridos, tem um cachorrinho caído num bueiro. Estou tentando tirar e não consigo, alguém pode ajudar? Conseguimos tirar um", escreveu ela, enviando-nos junto a uma foto do filhote já resgatado com a ajuda do filho. A partir daí, vizinhos passaram a dar sugestões – como acionar os bombeiros e a prefeitura.
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– Liguei para os bombeiros, mas disseram que, como ele não era meu, não poderiam ajudar. Então, tentei a prefeitura. A menina que atendeu ficou sensibilizada, acionou o DMLU e a EPTC, mas sem garantia de que responderiam o chamado. Eu continuei pedindo ajuda no grupo – relembra Analice.
Diante das negativas, a pedagoga solicitou auxílio para um segurança que faz ronda de moto pela região. Apesar da boa vontade, ele acabou mordido pelo filhote. Assustada com a possibilidade de deixar o peludo à míngua, Analice manteve o S.O.S. no WhatsApp. Paulo Rizzo, morador da rua vizinha, se prontificou a ajudar tão logo acabasse o jogo de Grêmio x Cruzeiro. Foi então que eu mesma acabei entrando na história.
Deitada na cama, recebi uma mensagem da minha mãe: "Tu viu o grupo? Tem um filhote preso num bueiro e não conseguem tirar".
"Tem que tirar, vamos lá?", respondi.
"Sim, me vestindo", concordou ela.
Na garagem, passamos a mão em tudo o que pudesse colaborar para o resgate: guarda-chuva, toalha, capa de proteção dos bancos do carro. Quando chegamos ao local, por volta das 23h15min, Paulo e Analice tentavam atrair o cãozinho com ração. Lá de dentro do cano, só dava para ouvir os grunhidos furiosos dele. Com a ajuda do guarda – que já havia recebido um curativo no dedo mordido –, peguei o filhote que rondava desesperadamente o buraco onde o irmão estava metido. Enquanto isso, todas as ideias de resgate pareciam vãs.
A última cartada foi limitar o espaço no qual o cão se movia. Rizzo entrou – literalmente – no bueiro e agarrou o pequeno.
– Alguém puxa as minhas pernas! – gritou, com tronco inteiro dentro do buraco.
Paulo Rizzo foi puxado e o outro filhote, trêmulo, aguardava em minhas mãos. Entre fotos, lágrimas e uma enxurrada de mensagens contando o desfecho da história, eu e minha mãe pegamos a dupla canina e levamos para casa.
Agora, os recém batizados Max Bernardino e Tufão Abelardo estão em uma clínica veterinária para fazer e exames e tomar os medicamentos necessários para tratar uma anemia. Logo mais, vou pegá-los e apresentá-los à Carmem Lúcia, minha outra vira-lata, resgatada há cinco anos no Hospital São Pedro. Espero que se entendam.