*Por Tatiana Salem Levy
"Não reconheço este governo como tal, considero isso um golpe. O fato de o ministério não ser representado por nenhuma mulher, nenhum negro, nenhum homossexual, de não ter diversidade – só homens, brancos e de uma elite social brasileira – é um símbolo do que é esse governo. É um símbolo do que eles fizeram, que foi tirar a presidente, supostamente por corrupção, mas para entrar com um governo que já é corrupto. E acho que isso fala muito sobre quem são essas pessoas, uma elite política que não suporta ver mulheres na frente. Acho que nunca engoliram o fato de ter uma presidente mulher. Estão deixando claro que o lugar de mulher para eles é em casa, aquela história do 'bela, recatada e do lar'. E depois vêm com aquela desculpa esfarrapada: 'Ah, nós pedimos para os políticos indicarem nomes e nenhum indicou mulher'.
Comecei a olhar os comentários na internet e fiquei assustada, porque vi muitas mulheres falando que é uma questão de mérito, e não de gênero. Com discursos como: 'Ah, na minha vida sempre tive todos os direitos, como um homem, sempre trabalhei e nunca fui discriminada por ser mulher'. Todo esse discurso é muito falacioso. Primeiro, parece que dizem que não existem mulheres com mérito. Segundo: são esses os homens que têm mérito?
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É óbvio que vivemos numa sociedade profundamente machista, que a escolha não é fundada no mérito, são escolhas patriarcais, oligárquicas, brancas. É complicado, o governo tem de priorizar as diferenças. Tem aquele caso do primeiro-ministro canadense que escolheu um ministério formado por metade de homens e mulheres, além de incluir imigrantes, diferenças raciais, sociais. E quando perguntaram o porquê, ele respondeu: 'Porque estamos em 2015'.
No Brasil, a sensação é de que estamos voltando para trás.
Não votei na Dilma, ela foi uma presidente ruim sob muitos aspectos, mas o governo do PT incluiu mais as diferenças, E agora está chegando esse governo ilegítimo para voltar atrás. Colocar uma mulher agora não resolve, já não é no primeiro escalão. Naquilo que eles consideram sem importância (como a Cultura) querem colocar uma mulher. É bem patético. Querem colocar uma mulher para calar a boca, mas não vão conseguir calar a boca de ninguém."