Em 1º de dezembro, 190 mil pessoas estão convidadas a não andar de táxi em Porto Alegre como forma de protesto pela agressão cometida por taxistas contra um motorista do Uber, na última quinta-feira, dentro do estacionamento do supermercado Carrefour da Avenida Bento Gonçalves, bairro Partenon.
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Um evento criado no Facebook pelo publicitário Marcio Callage já conta com mais de 27 mil confirmações e tem como objetivo expulsar motoristas "violentos e baderneiros" das ruas da Capital. O presidente do sindicato da categoria, Luiz Nozari, disse entender a indignação coletiva e afirma que "há muitos motivos para boicote":
- Se realmente isso ocorrer, vai servir para nos darmos conta de que precisamos melhorar em muitos aspectos. Por mais que o motorista do Uber também esteja cometendo um crime, ninguém tem o direito de agredi-lo. Orientei de forma muito clara para que não caíssemos nessa armadilha. Os colegas não foram inteligentes e caíram na cilada. Se a consequência é o boicote, ok - afirma Nozari.
A onda de indignação nas redes sociais começou logo após a informação de que o condutor do Uber Bráulio Pelegrini Escobar, 40 anos, levou socos e pontapés por cerca de 10 minutos até ser socorrido por pessoas que estavam no local. A divulgação de um vídeo (veja abaixo) que mostra o crime gerou ainda mais revolta.
Escobar foi levado ao Hospital Cristo Redentor, onde fez exames e recebeu alta por volta das 23h. Os agressores foram presos em flagrante e encaminhados para a 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Porto Alegre. Cauê Cavalheiro Varella e Alexandro dos Santos Scheffer prestaram depoimento e foram reconhecidos pela vítima no Palácio da Polícia.
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Na página do evento de boicote no Facebook, Escobar não poupou críticas ao prefeito da Capital, José Fortunati, que declarou na quinta-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha, que "o Uber achou que era terra de ninguém".
"Alguns ossos trincados e um traumatismo craniano leve não irão me derrubar. Infelizmente, foi assim que cheguei em casa na TERRA DE NINGUÉM do prefeito FORTUNATI. Os hematomas e contusões no meu rosto e no meu corpo estão aqui para lembrar que atitudes como a desta corja infiltrada entre taxistas são imperdoáveis. Esses covardes merecem a maior punição possível. Sempre tive muito respeito pela classe dos taxistas, e acredito que hajam SIM muitos motoristas sérios e de boa índole. Estes não temem o Uber", escreveu o condutor agredido.
Idealizador da ideia, o publicitário Marcio Callage afirma que não é contra todos os taxistas. Porém, ele entende que as agressões passaram dos limites:
- Quando vi o vídeo da agressão, fiquei horrorizado com a brutalidade. Isso é muito maior do que a discussão contra ou pró-Uber. É a barbárie tomando conta. Fiz um post espontâneo pedindo um boicote, e pensei por que não trazer o debate? O objetivo é mostrar que hoje o poder está na mão do usuário e do consumidor, não do corporativismo.
Para o presidente do Sintáxi, o momento é de reflexão e mudanças para toda a categoria. Caso contrário, ela corre risco de ser "engolida pela lei do mercado". Mesmo reconhecendo as queixas dos usuários, ele criticou o que chama de estratégia de polêmicas empreendida pelo Uber:
- Em todos os locais, eles começam a agir sob a polêmica. Botam o pé na porta e a sociedade fica a favor deles. Se colocam na posição de vítima. Em nenhum momento foi citado que ele (Bráulio) estava cometendo um crime. De qualquer forma, se a sociedade reagiu, está indo conforme os interesses do Uber. Temos de mudar nossa postura e agir com inteligência. Quem vai querer andar com quem é hostil e agressivo com os outros?
Outros casos relacionados ao Uber
Na madrugada de sábado, pouco mais de um dia após o início do Uber na capital, um motorista do novo serviço em operação teve a passagem bloqueada por taxistas no bairro Mont'Serrat, quando tentava transportar um passageiro.
O estudante de 20 anos - que prefere não ter seu nome divulgado - conta que chamou o Uber pelo aplicativo à 0h32min em um bar na Rua Tenente Coronel Fabricio Pillar. Conforme o jovem, que estava com a namorada e iria para a zona sul da Capital, os taxistas disseram que só liberariam a rua depois que a EPTC ou a Brigada Militar chegassem.
Também no sábado, a EPTC multou e guinchou um carro do Uber no bairro Independência. Na manhã de quarta-feira, outros dois carros foram recolhidos. O diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, disse que a EPTC prevê pedir carros pelo aplicativo para multar motoristas e apreender veículos em flagrante.
Ainda na quarta os vereadores de Porto Alegre aprovaram o projeto que proíbe o funcionamento do Uber até a regularização.
* Zero Hora