A conversa entre o prefeito da Capital, José Fortunati, e o diretor do Uber no Brasil, Daniel Mangabeira, começou tensa ontem. Foi o primeiro contato após a agressão a um motorista do serviço, ocorrido na tarde quinta-feira.
Por telefone, o prefeito demonstrou estar chateado com a postura da empresa de começar a operar em Porto Alegre sem avisá-lo e deixou claro que nenhuma proposta de regulamentação avança "se não for séria". O empresário mostrou-se preocupado com a agressão sofrida na quinta-feira por um de seus motoristas, que foi espancado por taxistas no estacionamento do Carrefour, no bairro Partenon, e procurou o Executivo para voltar às negociações, interrompidas desde que os carros começaram a circular no dia 19 de novembro. Ambos desligaram o telefone mais calmos e dispostos a buscar o consenso - foi marcada uma reunião para segunda-feira.
Em comunicado, Fortunati condena violência contra motorista do Uber
De acordo com Fortunati, ainda não há uma proposta de regulamentação por parte da prefeitura. Para o prefeito, é hora de ouvir as ideias do Uber antes de tomar qualquer atitude. Mas afirmou que o serviço não será autorizado "sem que minimamente tenha contribuição para a cidade".
- O Uber, obviamente, é a força mais expressiva, mas estou preocupado em normatizar o transporte individual em Porto Alegre. Não quero colocar amarras, apenas seguir as regras que dão segurança para os cidadãos e à cidade como um todo - disse Fortunati.
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Veículos executivos podem ser alternativa
A prefeitura organizou grupo de trabalho para lidar com o assunto, mas ainda não há definições de como será a regulamentação. Em três meses, deverão ser apresentadas novas diretrizes para o transporte via aplicativos e demais plataformas digitais ou a criação de uma nova modalidade de serviço de táxi, com veículos executivos.
Fortunati ressaltou que está retomando "um diálogo que não fui quem rompeu". Em entrevista à RBS TV ontem, disse que "se houver a regulamentação, serei o primeiro a usar o serviço". As declarações contrastam com a posição do prefeito na quinta- feira pela manhã, quando disse à Rádio Gaúcha que "o Uber achou que Porto Alegre era terra de ninguém". Ontem, no Twitter, escreveu que é "selvagem a forma como o novo sistema de mobilidade procura tomar os mercados nas principais cidades do mundo."
Vereadores aprovam projeto que proíbe o Uber em Porto Alegre
Uma das estratégias pensadas pelo prefeito até o anúncio da tentativa de regulamentação é a implantação de táxis executivos para combater o Uber, inspirada no modelo adotado pela administração municipal de São Paulo.
No final da tarde de quinta- feira, o motorista do Uber Bráulio Pelegrini Escobar, 40 anos, foi agredido com socos e pontapés e teve seu carro danificado no estacionamento do hipermercado Carrefour, no bairro Partenon, em Porto Alegre. Ele precisou ser socorrido por testemunhas e foi levado ao Hospital Cristo Redentor. Dois taxistas foram presos em flagrante e encaminhados para a 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Porto Alegre. Cauê Cavalheiro Varella e Alexandro dos Santos Scheffer prestaram depoimento e foram reconhecidos pela vítima no Palácio da Polícia.
- Ele (um dos agressores) se passou por passageiro, me fez circular por várias partes da cidade até me levar ao supermercado, onde houve a agressão. Tentaram me parar em blitz para meu carro ser apreendido. Tentaram me levar para o Campo da Tuca, mas desistiram porque comecei a não obedecer mais - contou Escobar.
Para juiz, "intervenção quase divina" evitou morte de motorista do Uber
Nessa sexta-feira, a Defensoria Pública da Capital protocolou uma ação na Justiça para a liberação do Uber em Porto Alegre. O serviço é alvo de fiscalização da Empresa Pública de Transporte e Circulação e, na quarta-feira, um projeto de lei proibindo a atividade foi aprovado pelos vereadores. O principal argumento do órgão é de que a Constituição garante a livre atividade de motorista privado, a despeito de leis municipais que não teriam validade frente à determinação federal.
Fortunati afirmou que não está preocupado com o projeto aprovado pelos vereadores, e que seu foco é fazer com que qualquer empresa - seja de tecnologia ou não - respeite regras que beneficiem os moradores da Capital.