O que será que existe nas 228 toneladas de material que, todos os anos, são retiradas em dragagens de arroios e valas de Porto Alegre? São resíduos poluentes? Tem areia de boa qualidade no meio desse lodo todo? Será que esse mineral poderia ser reaproveitado para obras de saneamento da Capital? É para responder a essas e outras questões que 100 toneladas de sedimentos serão retirados a partir desta quarta-feira dos arroios Dilúvio, Santo Agostinho, Salso e de valas do bairro Ponta Grossa.
São quatro carretas carregadas que tomarão a BR-386 em direção a Nova Santa Rita. É que lá fica a empresa que a prefeitura, por meio do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), contratou para a analisar e classificar os resíduos, a Sapotec Sul, que receberá R$ 31 mil pelo serviço.
Em um ano, técnicos e engenheiros terão a missão de fazer uma varredura no material, para identificar que tipo de metais e substâncias orgânicas e biológicas estão ali. No fim, dirão se o lodo de cada um dos locais estudados é "perigoso" ou "não perigoso"; darão a receita de como fazer a descontaminação para que sejam devolvidos à natureza de forma correta e, se tudo der certo, anunciarão que a areia ali presente tem qualidade suficiente para ser usada na fabricação, por exemplo, de bocas de lobo, tubos e tampas de galeria - o que representaria economia de R$ 2 milhões por ano aos cofres do município.
Dilúvio é contaminado desde as nascentes, na divisa de Porto Alegre e Viamão
Hoje, funciona assim: as máquinas retiram os sedimentos para que a água possa seguir seu curso, e não ocorram alagamentos em épocas de chuva. O material fica 21 dias secando nas bordas dos arroios e valas. Após esse período, nos locais onde é possível se chegar com um caminhão, os resíduos são retirados e levados para a estação de transbordo do DMLU, na Lomba do Pinheiro, e aterros da Capital. Não se sabe se contêm ou não poluentes, são apenas depositados em outros cantos da cidade.
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A ideia é que, com o estudo, sejam identificados os tipos de poluentes presentes em cada arroio ou vala. Assim, antes de ser destinado a locais apropriados - ainda estudados pela prefeitura -, o material recolhido será descontaminado. E, se tiver areia de qualidade, com elementos suficientes que garantam estabilidade para uso em obras, fará parte de uma cadeia sustentável.
- É um passo importante na busca de uma solução definitiva para o material retirado com as dragagens. Vamos ver se esse material pode ser descontaminado, por exemplo, com queima ou lavagem, e reutilizado na produção de tubos e tampas de boca de lobo e outras peças utilizadas por várias secretárias e órgãos municipais - afirma Tarso Boelter, diretor-geral do DEP.
Primeiros resultados devem sair em abril de 2016
De acordo com a engenheira sanitarista e ambiental Viviane Todeschini, da Sapotec Sul, ainda é cedo para saber se o mineral presente nos sedimentos dos arroios poderá ser reaproveitado. Somente os estudos confirmarão a hipótese, que tornaria Porto Alegre um pouco mais alinhada com as cidades que pensam no seu meio ambiente.
- Precisamos que os resultados sejam compatíveis com o que estamos imaginando. Na parte da composição do material, verificaremos se ele tem os elementos e a resistência necessários para ser empregado na construção civil, ou então, em outra área. Porque também não podemos usar material de baixa qualidade em obras do município - explica a engenheira.
Os primeiros resultados devem ser entregues pela empresa até abril de 2016. Depois, os estudos seguem por mais meio ano, quando devem vir as respostas para as perguntas iniciais.
Um passeio pelas águas sujas e abandonadas do Arroio Dilúvio:
* Zero Hora
Tem areia nesse lodo
Prefeitura estuda usar resíduos do Dilúvio em obras de Porto Alegre
Empresa contratada pelo DEP deve analisar resíduos poluentes de material retirado de arroios e valas da Capital e verificar possibilidade de reaproveitamento da areia
Bruna Scirea
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