Ela sorri o tempo todo. De capuz e blusão de oncinha, enrolada em um cobertor cor-de- rosa, Thailla parece bem no colo da mãe. Menos mal: não há onde largar o bebê de seis meses. Na única cama seca, dormem um menino de cinco anos, outro de sete e uma garota de 10. Entra lixo sem parar naquela casa - vem tudo boiando porta adentro, de garrafas a caixas de leite, de chinelos a boneca sem cabeça -, mas a situação nem é das piores se comparada à de outros chalezinhos da Ilha do Pavão, uma das que compõem o bairro-arquipélago, na saída da Capital. A água, ali, não passa de um palmo de altura. Está mais do que bom.
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Tanto é que Deise Correia Cordeiro, 22 anos, a mãe de Thailla, abandonou o próprio lar e foi para lá com o marido e os filhos. É a casa da sogra, dona Glaci - que ao todo recebe nove desabrigados. Desde que chegou, no sábado à noite, Deise teve apenas um contratempo: precisou bater com uma revista em um camundongo que nadava em torno do sofá em que ela e Thailla dormiam.
Com a filha Thailla, de seis meses, no colo, Deise buscou refúgio possível na casa da sogra, Glaci (Foto: Tadeu Vilani)
- Chorei tanto, moço - recorda Deise, mas o assunto é outro, não é o roedor. - Vi a roupa dos meus filhos boiando, a geladeirinha que comprei no brique, meu Deus, toda estragada. E a cama da Thailla estava cheia dágua.
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Paulo Germano
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