Quem defende a intervenção militar para enfrentar a crise brasileira se dispersou do protesto iniciado no Parcão e rumou para a frente do Comando Geral do Sul - o Quartel General (QG) do Exército -, no centro de Porto Alegre, na tarde deste domingo. Para os participantes, pedidos de impeachment se tratam de "ignorância política" e, por isso, optaram por marcar oposição à manifestação majoritária.
- É trocar seis por meia dúzia. Queremos uma intervenção geral, e só as Forças Armadas podem fazê-la - explicou a enfermeira Beatriz da Silva Jorge, 58 anos.
Promovido por grupos pró-intervenção (entre eles, Cruzada pela Liberdade, Comando de Caça aos Corruptos e Pátria Amada Brasil), o protesto desvinculou-se do ato pró-impeachment no qual, segundo os organizadores, houve hostilização nas marchas anteriores. Às 16h30min, a reportagem contou pouco mais de 80 pessoas na caminhada - que, naquele momento, seguia pela Rua Riachuelo. Organizadores estimam que 300 tenham passado pela mobilização.
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Do alto de um carro de som, saíam os pedidos de intervenção, os gritos de apoio às polícias civil e militar e ao Exército e as frases em defesa da família. Em mais de cinco vezes, o hino nacional ecoou dos alto-falantes - e, em pelo menos uma, a trilha sonora do filme Tropa de Elite animou os manifestantes. Alguns seguravam cartazes: "Invertenção já! Intervention now!", dizia um. "Por um Brasil sem comunismo. SOS Forças Armadas", falava outro.
Ao longo do percurso, que passou pela Avenida Independência e bloqueou, momentaneamente, vias do Centro, alguns participantes marchavam e, com as mãos, faziam continência. Roupas em estampa militar também faziam referência ao objetivo do ato. O ápice dos gritos se deu na chegada ao QG. Ao se encontrarem com policiais do Exército, alguns disseram: "Devíamos ter lhes dado mais valor".
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- O que esse país mais precisa é do que está escrito na sua bandeira: ordem. E os militares sabem preservá-la - disse a comerciante Maria Tereza Domingos, 53 anos, que segurava um cartaz com os dizeres "Fora comunismo" e usava um nariz de palhaço.
Vestindo calça militar, coturnos, chapéu gauchesco e uma camiseta do movimento Cruzada Pela Liberdade, o gerente de vendas Daniel Barbosa, 42 anos, era um dos mais animados no ato - pudera, estando entre os organizadores e empunhando o microfone sobre o carro de som por mais de duas horas. Ele esteve acampado, até o final de maio, por 72 dias em frente ao Congresso Nacional e se classifica como um "patriota".
- Nosso movimento é o Brasil. Não temos nenhum tipo de ligação política com ninguém. Defendemos a intervenção constitucional, que é quando o povo ordena que seja feita uma limpa na casa - pontuou Barbosa.
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Sobre as críticas ao movimento, os participantes respondem que não houve ditadura no Brasil "porque quem pediu a intervenção militar foi o Congresso, que elegia presidentes" e que quem sofreu tortura tinha ligação com a "ditadura comunista" - trabalhadores não sofriam repressão, afirmam.
- O número de intervencionistas é muito maior, tanto aqui, quanto no Brasil, mas as pessoas têm medo e receio de dizer porque, em outras manifestações, fomos achincalhados. E um dos motivos para não fazemos o mesmo percurso dos "impeachmistas" é que, na última manifestação em Porto Alegre, queriam nos proibir de levantar faixas de intervenção. Então, é para não deixar dúvidas de que existem dois grupos - esclareceu o montador de móveis Régis Eduardo Callegari, 40 anos.
Por volta das 17h, depois de uma salva de palmas aos soldados do Exército que espiavam - fosse de dentro do quartel ou de prontidão na calçada -, o ato, os manifestantes se dissiparam. Ainda não há nova mobilização do grupo prevista para a Capital.
Confira imagens do protesto que pediu a intervenção militar em Porto Alegre:
* Zero Hora