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A Câmara Municipal de Porto Alegre reúne-se, nesta segunda-feira, para votar o projeto de autoria do vereador Nereu DÁvila (PDT) que prevê a convocação de um plebiscito para decidir sobre o cercamento do Parque Farroupilha - uma discussão que já dura décadas na Capital. O projeto chegou a ser discutido na semana que passou, mas sua votação foi adiada por falta de quórum.
Historiador especialmente dedicado ao passado da cidade, Sérgio da Costa Franco, autor do Guia Histórico de Porto Alegre, sempre foi contra o cercamento. Hoje, afirma ter mudado de ideia devido aos recorrentes vandalismos sofridos não apenas pela Redenção, mas por outras praças e parques da cidade.
Em sua opinião, o que se pode esperar de uma Redenção cercada? E por que essa proposta volta com tanta recorrência a ser discutida na cidade?
O poder público, e não só a Prefeitura, mas o Governo do Estado também, tem se mostrado incompetente para guarnecer e vigiar os nossos logradouros. A destruição dos monumentos da cidade e o vandalismo praticado em nossas praças e parques chegam até a recomendar essa ideia de cercar. Eu sempre fui contra, sempre achei que as praças deveriam ser abertas ao público, mas confesso que hoje estou mudando de ponto de vista. Tal é o grau de insegurança dentro da Redenção e de outras áreas verdes da cidade, que já acho que a ideia de fechar à noite é boa. Apesar de isso implicar despesas grandes, acho que valeria a pena.
O senhor acredita que esse cercamento será de fato efetivo para atacar a questão da insegurança? Há relatos de frequentadores roubados durante o dia, às vezes até mesmo de manhã cedo.
Talvez não resolva nada. Todas as medidas que se aplicam em nome da segurança não eliminam o problema básico, mas acho que, a esta altura, vale a pena pensar no cercamento. Na Redenção e em outras praças. A verdade é que esses espaços se conservavam muito mais quando eram cercados. A Praça da Matriz, lá por 1880, teve um período em que foi cercada por um gradil por um período de uns 20 ou 30 anos. Depois, esse gradil foi retirado e ela nunca se isentou de depredações. O próprio monumento a Júlio de Castilhos que lá está tem sofrido pichações e outras coisas. Acho que, sem resolver de todo o problema, pelo menos vai minorá-lo em matéria de preservação dos monumentos e dos equipamentos das praças.
Porto Alegre tem uma tradição de se isolar de seus pontos mais preciosos, como o próprio muro diante do Guaíba, e de destruir prédios históricos. Cercar o parque pode ser um novo episódio desse mesmo tipo de mentalidade?
Porto Alegre é uma cidade que se autodestruiu, quase nada conservou do seu passado. A população, não sei por que motivos, não tem muita autoestima. Isso é um fato que pode ser verificado ao longo da história. Mas a ideia do cercamento das praças não acho desarrazoada, não. A princípio, eu achava que as praças deveriam estar abertas, em nome da democracia e assim por diante. Hoje, mudei de ponto de vista. Esses dias li na própria Zero Hora um relato sobre os danos causados aos monumentos da cidade, que ninguém sabe mais a quem homenageiam, porque roubam as placas. Acho que a Redenção é um parque muito estimado, a juventude toda ama a Redenção. Mas na prática o vandalismo é muito forte. Não imagino bem as razões dessas pessoas que são declaradas inimigas das coisas da cidade. É um problema de psicologia social meio complicado para fazer uma análise sumária.