As homenagens a personagens da ditadura ou a seus opositores poderão ser eliminados das ruas de Porto Alegre caso os projetos dos vereadores Carlos Comassetto (PT) e Mônica Leal (PP) sejam aprovados na Câmara Municipal. No entanto, parte da população que vive próximo ou utiliza os locais na mira dos projetos tem opiniões divergentes sobre as iniciativas dos legisladores.
Confira as entrevistas:
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Boa parte dos alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Presidente Costa e Silva, no bairro Medianeira, sequer sabia quem era o ditador até que uma professora de História explicasse. É assim que o diretor da escola, Milton Souza, resume o panorama na instituição. Ele acha desnecessária a mudança porque o nome do antigo presidente não rotula a instituição.
- Eu ficava transtornado porque vivi o período da ditadura. Hoje, não vejo os alunos associarem o presidente ditador com a escola. Quando se toca no assunto, se surpreendem, acham um absurdo, mas no dia a dia, não associam como uma homenagem. Sou a favor do ensino, isso não vai apagar o passado. O que apaga mesmo é ir para frente, e não ficar remoendo - afirma.
Em frente à escola mora a pensionista Oracelia Rodrigues Perin, 83 anos. Diferentemente do diretor, ela defende a eliminação de todos os nomes dos militares da ditadura militar das ruas de Porto Alegre porque sofreu muito durante o período. Ela trabalhava na Associação dos Ferroviários, na Avenida Farrapos. Uma imagem de Mao-Tsé-Tung colada em uma parede de uma sala foi o motivo dos seus horrores.
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- Eu nem sabia quem era Mao-Tsé-Tung, e os militares queriam saber de onde vinha o meu amor por ele, queriam que eu entregasse os "outros comunistas". Acabei sendo demitida, fecharam a associação, e eu precisava cuidar de dois filhos e da minha mãe. Me levaram para um porão onde só me davam pão e água. Esses ordinários acabaram com a vida da gente - recorda, acrescentando que não chegou a ser torturada fisicamente.
Do outro lado da cidade, perto da orla do Guaíba, o Memorial a Luiz Carlos Prestes ainda não está pronto, mas também levanta debate. Em novembro do ano passado, o local foi palco de protestos contra a figura de Prestes, criador da chamada Coluna Prestes.
Na tarde desta segunda-feira, um grupo de alunos de Publicidade e Propaganda da PUCRS fazia um trabalho de vídeo em frente ao Memorial. Entre os estudantes não houve unanimidade: alguns criticaram Prestes devido à violência da Coluna.
A distância temporal para os acontecimentos balizou algumas respostas. Alguns acham que inaugurar, hoje, uma rua chamada Che Guevara, por exemplo, não teria "nada a ver". Mas não haveria motivo para tirar um nome que já batiza algum bem público, pondera Thais Scheer, 17 anos.
- Pode ser ruim (uma homenagem a Prestes), mas não deixa a gente esquecer a história - diz Bernardo Liz, 17 anos.
Estudantes de Publicidade da PUCRS gravam vídeo me frente ao Memorial Luiz Carlos Prestes
Foto: Ricardo Duarte, Agência RBS