Uma das notícias mais aguardadas pela coordenação do Programa Integrado Socioambiental (Pisa) em Porto Alegre deve chegar nos próximos meses. É a licença definitiva para operação da ETE Serraria, concedida pela Fepam. Desde março do ano passado, a estação de tratamento foi autorizada a funcionar sob um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado pela Fundação, Dmae e Ministério Público Estadual, após mais de um ano de discussões sobre o ponto em que o esgoto tratado deveria ser lançado no Guaíba.
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O emissário final, a tubulação que lança o efluente na água, foi construído com 1,6 mil metros, mil a menos do que o projeto inicial previa. O Dmae justificou a alteração ressaltando que havia modernizado o sistema de tratamento, o que garantiria um resíduo final mais limpo e menos poluente, sem consequências para a orla do Guaíba na região.
A fundação ambiental temia um acúmulo de coliformes e também de nitrogênio e fósforo na água, o que poderia causar uma proliferação de algas no Guaíba e até um dano ambiental ainda maior ao curso d'água. Com o TAC, o Dmae se comprometeu a monitorar o Guaíba e a avaliar a qualidade da água, trabalho que vem sendo feito mensalmente desde então.
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Conforme o biólogo Evandro Colares, diretor de Tratamento e Meio Ambiente do Dmae, os estudos iniciais de monitoramento já foram concluídos e indicaram que a qualidade da água não sofreu alterações significativas nos pontos em que poderia ter sido impactada pelo lançamento do esgoto tratado no curso d'água. Os relatórios de monitoramento já foram enviados à Fepam, que recebeu os resultados com bons olhos.
- Está tudo sendo encaminhado para que a licença saia nos próximos meses, estamos apenas aguardando questões burocráticas. Acredito que até a metade do ano a ETE Serraria esteja com a licença definitiva - aposta o hidrólogo Diego Carrillo, da Divisão de Planejamento, Qualidade e Geoprocessamento da Fepam.
Mau cheiro gera transtornos
Para os moradores de regiões próximas à ETE Serraria, o primeiro ano de operação da estação trouxe transtornos. Muitos têm reclamado do forte odor que exala da estação e se espalha por alguns quilômetros. O presidente da Associação Comunitária dos Moradores e Amigos da Zona Sul, José Paulo de Oliveira Barros, que mora a cerca de dois quilômetros da ETE, afirma que é principalmente durante a madrugada que o cheiro de esgoto se intensifica.
- Tenho conversado com pessoas da comunidade e algumas reclamam do mau cheiro, principalmente lá por volta das 5h. Talvez, isso seja uma estratégia técnica, de liberar os resíduos em um horário que as pessoas estão dormindo. Eu me preocupo, pois a quantidade de esgoto que chega lá é cada vez maior. Se agora está assim, quando a todo vapor, como vai ser? - questiona.
Conforme o engenheiro Valdir Flores, coordenador do Pisa, a ocorrência deste odor com maior intensidade à noite tem causas atmosféricas, já que a temperatura e a pressão diminuem de madrugada e as correntes de vento são capazes de espalhar o cheiro forte. O especialista diz que os processos de tratamento estão sendo constantemente ajustados, e entre eles está o tempo de permanência do esgoto bruto que chega à estação, principal responsável pelo cheiro ruim.
- O Dmae está buscando processos de abatimento de odores junto a outros órgãos de saneamento que operam grandes estações. Com a regularização dos volumes de esgoto que chegam à estação, as variações serão menores e haverá eliminação gradual desses odores - garante.