Para levar todo o lixo produzido em Porto Alegre até o Aterro Sanitário de Minas do Leão, que fica a mais de 100 km, a prefeitura da Capital gasta pelo menos R$ 43 milhões ao ano. A Rádio Gaúcha percorreu todo o caminho do lixo, desde a residência de moradores da cidade, passando pelo trabalho dos garis até o destino final e comprovou que muito poderia ser economizado neste processo.
Seu Guilherme mora sozinho numa casa na zona sul de Porto Alegre. Mesmo assim, descarta bastante lixo quando o caminhão da coleta passa. “Três, quatro sacolas. Separo o lixo seco do orgânico”, afirma.
Um pouco mais a frente, encontramos Dona Diná. “Sacos de lixo, eu largo um. Três pessoas vivem na minha casa. Eu separo sempre o lixo. A importância disso é preservar a natureza e fazer um reaproveitamento”, alerta Diná.
Clóvis largou na frente de casa um saco de 50 litros de resíduos orgânicos. Faz isso três vezes por semana. “Segundas, quartas e sextas. Lixo seco: terças e sábados”, conta Clóvis.
Depois de acompanharmos o início do descarte dos resíduos de Guilherme, Clóvis e Diná, pegamos carona no caminhão do motorista Cláudio, que trabalha há seis anos com coleta de lixo.
“Os piores dias são segunda e terça. É muito lixo. Tudo misturado”, conta o motorista.
Em Porto Alegre, são geradas em média 2,2 mil toneladas de lixo por dia. É pouco mais de 1 kg por habitante. Há quatro anos o gari Jonas recolhe lixo nas ruas. Conta que tem muita gente que não separa os resíduos.
“Normalmente o pessoal não separa. Muito PET. Garrafa PET, papelão. Tudo misturado junto com o orgânico”, lamenta Jonas.
Das oito horas de trabalho, Paulo Ricardo passa a maior parte correndo e pegando lixo. “Acho que umas cinco horas delas”, conta o gari.
O descaso é tanto com o lixo e com quem faz o recolhimento dele, que muitos não sabem o risco que isso pode provocar.
“Até seringa eles botam no lixo. Já me machuquei também. Cortei a perna, ficou cicatriz. Peguei um saco correndo e joguei e passou na perna”, diz Paulo Ricardo.
O barulho dos sacos cheios de garrafas batendo no caminhão indica que muita coisa que poderia ser reaproveitada, vai para baixo da terra, no Aterro de Minas do Leão. Depois de percorrer cerca 10 km coletando lixo, o caminhão ficou cheio, hora de descarregar na Estação de Transbordo da Lomba do Pinheiro, que recebe todo o lixo domiciliar urbano de Porto Alegre.
Além do gasto com a coleta, que é necessário, ainda há o gasto com o recolhimento de focos irregulares de lixo, como destaca o diretor-presidente do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, André Carús.
“Nós temos hoje uma média, das 2,2 mil toneladas que são coletadas por dia, 600 toneladas são provenientes dos focos irregulares de lixo. É um número muito grande. E isso representa uma média de gasto de R$ 1,2 milhão por mês. O que deixa de ser investido pelo município em obras sociais de muito mais importância”, lamenta Carús.
Segundo o DMLU, os focos crônicos irregulares de lixo caíram 20% de 2013 até hoje.
Da Estação de Transbordo, todo o lixo é transportado para o Aterro Sanitário de Minas do Leão, que fica a mais de 100 km de Porto Alegre. O gasto com transporte e destinação final sai, em média, R$ 3.639.984,98 por mês, o que corresponde a 43 milhões ao ano. André Carús admite que sairia mais barato destinar os resíduos para um aterro em Porto Alegre, mas pondera.
"Nós temos um déficit de áreas que comportem essas 2,2 mil toneladas, em média, que são coletadas por dia em Porto Alegre. Existem três aterros sanitários que estão fechados. E hoje é feita apenas a gestão do passivo ambiental desses locais. E foram fechados justamente por incapacidade de receber novos resíduos”, destaca André Carús
Veja a rotina da coleta de lixo na Capital:
Na próxima reportagem, saiba como estão os locais que recebem os resíduos no Rio Grande do Sul.
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