O sequestro de um recém-nascido na ultima terça-feira (24) na maternidade do Hospital Santa Clara, do Complexo da Santa Casa de Porto Alegre, chamou atenção para a fragilidade do controle de fluxo de pessoas em hospitais. Nas últimas semanas, a reportagem da Rádio Gaúcha esteve em seis hospitais públicos da Capital, para conferir como estão funcionando os sistemas de segurança.
Até onde uma pessoa sem identificação consegue ir? Como são os procedimentos de entrada e saída de pacientes e visitantes nas instituições? Dois repórteres, com roupas comuns, e sem qualquer identificação, fizeram o teste.
Hospital Cristo Redentor
Foi fácil passar pelo acesso principal do hospital. Apenas um vigia fica na porta principal. Em um descuido dele, não foi necessário identificação. A reportagem entrou em vários quartos de internação em diferentes andares sem ser questionada, além de salas com materiais de limpeza e depósito de roupas sujas. Nenhum vigilante foi visto no interior do Hospital. Na UTI, ninguém controlava a porta, que fica aberta. O acesso à área de Tratamento Intensivo foi liberado, até dois leitos antes da abordagem por um médico.
O resultado positivo foi encontrado no acesso da emergência, na área das ambulâncias, onde um vigilante não permitiu a passagem.
Hospital Nossa Senhora da Conceição
Nos dois principais acessos do hospital às áreas de internação, vigilantes impediram a entrada sem identificação. Mas através do ambulatório, não foi difícil chegar na UTI e até mesmo no bloco cirúrgico. Na UTI, a entrada em um leito onde o paciente respirava com ajuda de aparelhos foi facilitada, e em outro onde um aviso dizia que era área de isolamento. Neste ponto, uma funcionária que estava na porta disse que o local tem acesso restrito. No bloco cirúrgico, uma faxineira impediu a entrada.
O gerente de administração do Hospital Conceição, Alexander Lopes da Cunha, reconhece que o controle de fluxo precisa melhorar, e afirma que um novo sistema está em fase de estudo para ser implementado até o ano que vem em todo o Grupo Hospitalar Conceição.
Complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - Hospitais Santa Clara, Dom Vicente Scherer e Da Criança Santo Antônio
Em duas datas diferentes, a reportagem visitou três hospitais do Complexo: o Santa Clara, Dom Vicente Scherer e o Da Criança Santo Antônio. Neste último, está o melhor controle. Não há acesso sem passagem por um segurança ou por portas que exijam crachá. Não foi possível entrar na área privativa do hospital.
No Dom Vicente, a reportagem conseguiu acesso a áreas restritas a funcionários, como salas de descartes de equipamentos, lavanderia, almoxarifado e até mesmo à porta do Heliponto do Hospital. Tudo feito através de um elevador para servidores. Não houve questionamentos em nenhum momento. Em um segunda manhã da mesma semana, o acesso ao elevador restrito já estava bloqueado, por um segurança, e uma porta com acesso restrito.
No hospital Santa Clara, porém, o acesso continuava parcialmente liberado. Foi possível ir até quartos com pacientes internados pelo SUS. Era possível andar no corredor, passar por enfermeiros, e não ser barrado. A reportagem circulou por corredores como o da maternidade.
Por meio de nota, a Santa Casa justificou que está aprimorando o sistema de segurança. O modelo atualizado já funciona no Hospital da Criança Santo Antônio onde todas as pessoas são identificadas por documentação com foto. A maternidade do Hospital Santa Clara será a próxima a receber o sistema, no mês que vem. Os demais hospitais também serão equipados com mais câmeras de vigilância, mas a instituição não determina um prazo para a mudança.
Hospital de Clínicas
É a instituição com o melhor controle de acesso, mas também apresenta falhas. A reportagem argumentou que participaria de um seminário de medicina, e recebeu um crachá para passar nas catracas. Depois, foi a todos os andares do prédio sem ser parado. Na área de internação, acesso em quartos de adultos e crianças liberado, além de salas com materiais de limpeza e roupas sujas. Já os leitos de UTI, salas de cirúrgia, setor psiquiátrico e laboratórios são fechados e só se tem acesso com crachá de funcionário.
Responsável pela segurança do hospital de clínicas, Ademir Rama diz que o controle na distribuição de crachás de identificação será aprimorada.
Hospital Parque Belém
No hospital Parque Belém, houve muita facilidade para circular por toda a instituição. Somente um vigia fica na porta principal. A reportagem entrou e circulei pelos corredores com tranquilidade, além de visitar alas da instituição. A presença foi questionada apenas na UTI, por um médico, mas a reportagem continuou pelo hospital, passando por quarto com pacientes internados por convênios, além de salas de almoxarifado e alas desativadas.
A reportagem entrou em contato com a administração do Hospital Parque Belém, mas ainda não obteve resposta.
Hospital Vila Nova
No Hospital Vila Nova, foi encontrada uma das melhores seguranças, pelo fato de ser a menor instituição visitada. Apenas uma entrada leva aos quartos, e ela é vigiada por uma atendente. Circundando, a reportagem entrou pelos fundos de um prédio anexo, na sala de diálise, que deveria ser aberta somente para funcionários, e pacientes já em tratamento. A saída foi feita pela porta da frente, passando pelas atendentes, sem ser questionada a presença.
O Diretor Administrativo da Associação Hospitalar Vila Nova, Jalmir Pin, admite que o acesso não é barrado no setor, mas garante que há câmeras de segurança, e qualquer atitude suspeita, a Brigada Militar é acionada.
Confira a reportagem em vídeo: