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Fenômeno da disputa pela prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) enfrenta questionamentos judiciais que podem tirá-lo da corrida eleitoral. O empresário e influenciador digital é suspeito de abuso de poder econômico e ainda pode sofrer reflexos de um uma ação judicial pelo controle do partido.
Marçal já sofreu duas derrotas recentes. No final de semana, o juiz eleitoral Antonio Maria Patiño Zorz suspendeu as contas do candidato em seis redes sociais (Discord, Facebook, Instagram, Meta, TikTok e X, ex-Twitter). A decisão foi confirmada em segunda instância nesta quarta-feira (28) pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
A liminar foi mantida em uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) que apura suposta remuneração de apoiadores do candidato.
Para mobilizar o público, o ex-coach estimula a publicação de vídeos curtos com recortes de sua participação em entrevistas, debates ou atividades de campanha. Assim, ele cria uma competição, na qual os 30 cortes de maior repercussão ou engajamento são premiados com dinheiro.
Na primeira decisão, Zorz justificou que a suspensão das redes sociais de Marçal visa "coibir flagrante desequilíbrio na disputa eleitoral e estancar dano decorrente da perpetuação do ‘campeonato’". O entendimento é semelhante ao do desembargador Claudio Langroiva Pereira, que negou recurso impetrado pela defesa do empresário. Segundo Pereira, a medida busca “garantir além da integridade do pleito, os direitos fundamentais dos demais candidatos à igualdade, ao equilíbrio e à correção do pleito".
Com 19,6 milhões de seguidores somente nos perfis de maior relevância, Marçal é o candidato de maior popularidade digital no Brasil. Como não terá propaganda de rádio e TV, já que o PRTB não alcançou a votação mínima exigida pela legislação em 2022, sua principal ferramenta de campanha é a internet.
Ele reagiu à decisão inicial reclamando de censura e imediatamente abriu novos perfis nos aplicativos. No Instagram, onde tinha 13,1 milhões de seguidores, ele já arregimentou 3,4 milhões na conta reserva.
— Tentaram me derrubar, mas acabaram me empurrando para frente. Até quem não gosta de mim está me defendendo. Foi uma péssima escolha fazer isso — declarou.
Marçal nega que tenha remunerado os criadores de cortes – embora ele mesmo já tenha revelado a prática em ocasiões anteriores – e diz que o pagamento é feito pelas próprias plataformas como Youtube e Tik Tok. Todavia, conversas nas comunidades forradas por criadores de conteúdo revelam receio de suspensão dos pagamentos. Em alguns casos, o valor chegava a R$ 10 mil.
Na semana passada, a Justiça havia negado pedido do Ministério Público para suspender a candidatura de Marçal em ação semelhante. Outra ameaça é um processo movido pela viúva de Levy Fidelyx, fundador e que por 27 anos presidiu o PRTB. Aldinea Fidelix alegou à Justiça Eleitoral que o atual presidente da sigla, Leonardo Avalanche, não honrou compromisso de divisão de poder interno, incluindo o comando do partido em São Paulo.
Na ação que tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Aldinea pede a suspensão dos atos da direção nacional e de alguns diretórios. No domingo, a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, intimou o partido a se manifestar. Caso os atos sejam anulados, a manutenção da candidatura de Marçal dependerá de novo acordo interno.
O empresário também enfrenta questionamentos judiciais sobre as candidaturas à deputado federal e à Presidência da República em 2022. ambas barradas pelo TSE. No ano passado, ele teve sete endereços vasculhados pela Polícia Federal numa investigação de lavagem de dinheiro, apropriação indébita eleitoral e falsidade ideológica eleitoral.
Segundo a PF, Marçal e os sócios fizeram doações milionárias às campanhas, "sendo que boa parte desses valores foi remetido posteriormente às próprias empresas das quais são sócios". Os mandados de busca e apreensão foram assinados por Zorz, mesmo juiz eleitoral que suspendeu as redes sociais do candidato no final de semana. Em nota, a defesa de Marçal afirmou que "nenhum ilícito foi praticado e nenhum centavo de dinheiro público foi utilizado nas campanhas eleitorais, sendo todas as prestações de contas apresentadas aos tribunais eleitorais competentes para julgamento".