Ao discursar durante entrega de um conjunto habitacional nesta sexta-feira (30) em Viamão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o governo anterior e conclamou os políticos a trabalharem por mais igualdade social. Durante 22 minutos de pronunciamento, Lula reclamou das brigas causadas pela polarização política e disse ter procurado o papa Francisco para deflagrar uma campanha mundial de combate à desigualdade.
— Eu fico imaginando, aqui no Rio Grande do Sul, que só tem dois times grandes que disputam título todo ano, Grêmio e Internacional. Mas nem por isso a gente sai do estádio e vai brigar no bar. É melhor a gente sentar e tomar uma cerveja junto — comparou.
Na sequência, Lula disse que o antecessor, Jair Bolsonaro, priorizou violência política e fakes news à realização de obras.
— Quero que me digam uma obra pública feita pelo governo anterior. Não tem uma obra. Não sei o que foi feito nos últimos quatro anos a não ser mentira, destilação de ódio. O povo brasileiro não é assim — afirmou.
Lula desembarcou no Rio Grande do Sul pouco depois das 11h para cumprir três agendas. O primeiro compromisso foi a entrega de 446 residências do programa Minha Casa Minha Vida, em Viamão. Do aeroporto Salgado Filho, foi de helicóptero até o conjunto habitacional na Estrada Caminho do Meio.
O presidente chegou acompanhado do governador Eduardo Leite e dos ministros Jader Filho (Cidades) e Paulo Pimenta (Comunicação Social). De imediato, visitou uma residência. Por cerca de 30 minutos, conheceu o interior da casa e posou para fotografias ao lado dos futuros moradores. Acompanhando tudo por num telão, o público gritava "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula". À beira do palco, alguns apoiadores de Lula seguravam bonequinhos de lã do presidente. Alguns pediam para que o Eduardo Leite não fosse vaiado.
O prefeito de Viamão, Nilton Magalhães (PSDB), não teve a mesma sorte e recebeu vaias da plateia. Logo surgiu um coro de "inelegível", em referência ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro que ocorria no mesmo momento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No início da solenidade, Loiva Medeiros, tesoureira da Coometal, cooperativa responsável pelo empreendimento, reconheceu o empenho do prefeito, do governador e do governo federal na realização da obra. Loiva fez uma menção especial à ex-presidente Dilma Rousseff, em cuja gestão o contrato foi assinado e que prevê a titularidade do imóvel em nome da mulher da família, e não do marido.
— Essa versão do Minha Casa Minha Vida tem a cara dela, o esforço dela — afirmou, pedindo maior apoio ao cooperativismo habitacional.
Em pronunciamento antes de Lula, o governador também citou o trabalho conjunto entre os entes da federação. Salientando investimentos de R$ 20 milhões em recursos estaduais em 18 empreendimentos do Minha Casa Minha Vida no RS, disse que preside um partido de oposição, mas está pronto para atuar em parceria com o governo federal.
— A gente tem diferença dentro de casa, uma família não pensa no mesmo jeito. Mas é importante que a gente possa encontrar momentos de convergência em favor da população, especialmente para quem mais precisa. Onde for para divergir, vamos fazer o bom debate — comentou Leite, antecipando que a duplicação do Caminho do Meio teve o projeto atualizado e foi enviado ao governo federal como prioridade do RS no novo PAC.
Último a usar a palavra, Lula disse que pretende construir 2 milhões de casas populares no país. Lembrou ter vivido de aluguel até se tornar presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) para salientar todo governante precisa ter olhar atento à população mais vulnerável:
— A gente precisa cuidar das pessoas. O povo não quer muita coisa. Quer ter direito de ter um bom emprego, direito de ter uma casinha, qualidade de educação pros filhos, comprar um carrinho pra levar a família pra passear. No final de semana, fazer um churrrasquinho, assar uma costela. A coisa mais barata é cuidar do povo.
Condomínio com casas de 48,61 metros quadrados
Batizado de Viver Coometal, o condomínio é praticamente um bairro, com 10 ruas se entrelaçando num terreno de nove hectares na Estrada Caminho do Meio, região limítrofe entre a Capital e Viamão. Cada imóvel tem 48,61 metros quadrados, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. As casas têm laje no teto, prevendo uma eventual expansão para um segundo piso, e sistema de energia solar para aquecimento do chuveiro.
Construído pela Coometa, cooperativa vinculada ao Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, o empreendimento foi aprovado pelo Minha Casa Minha Vida em 2013, no governo Dilma Rousseff. No ano seguinte, foram liberados R$ 5 milhões para a compra do terreno. As obras começaram em 2019, já na gestão Jair Bolsonaro, e tiveram ao menos uma interrupção nos repasses financeiros, no mesmo ano, o que reduziu em 80% a atividade no local.
Passados quatro anos, o residencial ficou pronto em janeiro de 2023, ao custo total de R$ 39,9 milhões. Cada residência tem financiamento de R$ 82 mil, pela Caixa Econômica Federal, com um ano de carência e 10 anos para pagamento a partir da assinatura do contrato. O condomínio, com porteiro 24 horas por dia, 16 câmeras de segurança, salão de festas e espaços de convivência, como playground, academia e cancha de bocha, terá taxa mensal de R$ 142.
No total, Lula permanecerá cerca de seis horas no Estado. Além da entrega das casas em Viamão, ele almoça com o governador Eduardo Leite no Palácio Piratini. Depois, inaugura as novas instalações do Hospital de Clínicas. O retorno para Brasília está previsto para as 17h45min.