O governador de São Paulo, João Doria, anunciou na tarde desta quinta-feira (31) a renúncia ao cargo. Esse passo era dado como certo nos últimos meses, desde que ele foi escolhido pré-candidato do PSDB à Presidência da República em prévias no ano passado, mas havia ficado incerto nas últimas horas.
— A omissão é a fantasia dos covardes. A coragem é a marca dos líderes. Daqui para frente, nosso trabalho continua em São Paulo, mas pelas mãos competentes de Rodrigo Garcia, que a partir do dia 2 será governador do Estado de São Paulo. Quero mostrar, a partir do dia 2, que é possível ter uma nova alternativa para o Brasil — afirmou Doria, confirmando a renúncia e a pré-candidatura presidencial.
Em uma reunião na noite de quarta-feira (30), Doria avisou o vice-governador paulista, Rodrigo Garcia, que ficaria no cargo, desistindo da disputa ao Palácio do Planalto. Essa decisão colocava fim a um acordo político costurado no Estado, pelo qual Garcia migrou do extinto DEM ao PSDB para ser o candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes, liberando Doria para concorrer ao governo federal.
A reversão da decisão de Doria ocorreu após reuniões ao longo do dia e, principalmente, com a carta divulgada pela direção do PSDB reforçando que o governador paulista era o nome definido pela sigla para a disputa presidencial. O governador de Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que também renunciou ao cargo, ainda mobiliza-se para ser o candidato do partido, apesar de ter sido derrotado nas prévias.
No discurso, Doria relembrou o pai, João Doria, cassado pela ditadura militar em 31 de março de 1964, com o golpe militar. Citou pontos de seu governo no Estado, como volta da inflação e a pandemia, com o "negacionismo", além de ataques à democracia.
— Sofri ao lado da minha família sórdidos ataques — relatou.
Disse que os familiares foram os mais sacrificados em sua escolha de entrar na vida pública, mas que se fizesse isso, estaria "traindo o compromisso" com seus pais, que ensinaram a "buscar o caminho mais difícil".
O tema da pandemia foi retomado ao lembrar o investimento do Estado de São Paulo no desenvolvimento da vacina CoronaVac contra o coronavírus, que viabilizou o início da imunização no Brasil, em janeiro do ano passado.
— Corremos em busca da ciência e da vacina para salvar vidas, que estavam sendo negligenciadas no governo negacionista de Jair Bolsonaro — disse.
Doria enumerou realizações de sua gestão em diversos campos e agradeceu o apoio dos prefeitos que participavam do encerramento de um evento municipalista no Palácio dos Bandeirantes.
Ao final do evento, em entrevista a jornalistas presentes, Doria afirmou que a movimentação de véspera, em que sinalizou que poderia desistir da pré-candidatura à Presidência, fez parte de sua estratégia política.
— Eu diria que é um comportamento estratégico, isso faz parte da vida política, você ter estratégia para poder construir caminhos e solidificar esses caminhos — afirmou Doria, que chamou de "golpista" a articulação para viabilizar o nome de Eduardo Leite como o representante do partido no pleito presidencial. — Quem faz golpe é ditadura, governos autoritários. Quero lembrar Eduardo Leite, hoje é 31 de março, dia do golpe militar. Não caminhe por essa linha, Eduardo.