Em entrevista a rádio Arapuan, da Paraíba, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (26) que o vice Hamilton Mourão "por vezes" atrapalha o governo. Além de criticar seu companheiro de chapa, Bolsonaro comparou a figura do vice-presidente a de um cunhado:
— Você casa e tem que aturar, não pode mandar embora.
O comentário ocorreu em meio a uma fala sobre a decisão de não apoiar candidaturas nas eleições municipais de 2020. O presidente declarou que a escolha do vice em 2022 será feita com mais cuidado, não “a toque de caixa” — em 2018, Bolsonaro teve dificuldades para encontrar um nome para compor a chapa que disputaria a eleição.
— A escolha do meu vice na última foi muito em cima da hora, assim como a composição das bancadas, principalmente para deputado federal. Muitos parlamentares, depois de ganharem com o nosso nome, transformaram-se em verdadeiros inimigos. O vice é uma pessoa importantíssima para agregar simpatia. Alguns falam que um bom vice poderia ser de Minas Gerais, de um Estado do Nordeste, de uma mulher ou de um perfil mais agregador pelo Brasil — declarou.
Mourão já reclamou de não participar do governo e disse que não sabe o que se discute, sendo até mesmo afastado de reuniões com ministros.
— É chato deixar o vice fora de reuniões com ministros — reclamou o vice-presidente em junho deste ano.
Nesta segunda, Mourão embarcou com destino a Lima, no Peru, onde participará da posse de Pedro Castillo Terrones, recém-eleito presidente do país vizinho. Há poucos dias, o vice foi escalado por Bolsonaro para intervir diretamente na gestão de uma crise privada que envolve denúncias sobre a atuação da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola.
Na mesma entrevista, Bolsonaro disse que, caso o senador Ciro Nogueira (PP-PI) seja julgado e condenado em qualquer uma das ações em que é réu, será afastado do governo. O presidente indicou na semana passada que Ciro deverá assumir a Casa Civil do governo no lugar do atual ministro Luiz Eduardo Ramos. Entre as denúncias, Nogueira é réu no caso que investiga parlamentares do PP, aceito pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2019 e investigado pela PF em outros supostos envolvimentos em esquemas de propina.
À rádio Arapuan, Bolsonaro reforçou que se ele for afastar do seu convívio os parlamentares que são réus ou que têm inquéritos abertos, perderia quase metade do parlamento.
— Tenho que governar com quem o povo mandou para cá. Acho que todos nós só somos culpados depois da sentença transitada em julgado — disse Bolsonaro ao lembrar do caso em que é réu por injúria e apologia ao crime de estupro contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
Segundo o presidente, sem o apoio dos partidos de centro, o governo não seria capaz de aprovar nada na Câmara com os pouco menos de 300 votos restantes, principalmente propostas de emenda à Constituição, as quais dependem do voto afirmativo de três quintos da Casa, ou 308 deputados.
— Temos que nos aproximar do maior número de partidos que possam trazer apoio para a gente poder governar. Poder ter voto dentro do parlamento. O centrão é nome pejorativo de vários partidos de centro, que têm sido úteis para nós aprovarmos muita coisa — afirmou Bolsonaro, que citou o reajuste ao Bolsa Família como proposta que depende do apoio do grupo.
O presidente também disse que, diferentemente de 2020, estuda a possibilidade de criar alianças e apoiar candidaturas nas próximas eleições, nas quais devem ser escolhidos governadores, deputados estaduais e federais, senadores e o presidente da República.
Bolsonaro declarou que não quer precipitar o lançamento de candidaturas e que em 2020 não apoiou formalmente nenhuma porque estava sem partido.
— Nós poderíamos dividir votos e alguém do outro lado, da extrema-esquerda, que tem bastante aí no Nordeste, chegar com 30% dos votos e nós ficarmos com aproximadamente 20%. E, por outro lado, preciso de apoio para governar o Brasil. Se eu começasse a entrar em todo Brasil em candidaturas no meio do meu mandato, ia arrumar muitos inimigos — disse.
— Tem muitos deputados e senadores, estamos conversando, mas isso é depois do expediente. Nada de concreto ainda — completou.