O PT pretende ingressar com uma ação contra o WhatsApp nos Estados Unidos, sede da empresa, para tentar fazer com que ela forneça dados que não foram repassados à Justiça brasileira.
O partido ainda procura um advogado para esclarecer se, sozinha, a legenda pode processar o WhatsApp ou se é preciso se associar a alguém. Em ofício, o ministro Luís Roberto Barroso havia determinado que Google, Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp revelassem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a contratação de impulsionamento de conteúdos "em favor do candidato eleito à Presidência da República, senhor Jair Messias Bolsonaro" com detalhamento do nome, CPF ou CNPJ dos contratantes.
As empresas, no entanto, não responderam diversas perguntas que esclareceriam o uso das plataformas durante a campanha de 2018. Candidato à Presidência derrotado em outubro, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) vai aos Estados Unidos na semana que vem.
— Está sendo considerada a possibilidade de uma ação judicial em solo americano para que o WhatsApp preste os esclarecimentos que se negou a fazer para a Justiça brasileira, o que é muito grave. Ninguém está interessado em microdados, na privacidade das pessoas. Estamos interessados nos macrodados: quem contratou, quantas mensagens foram disseminadas, com que intuito, de caluniar quem. Para que não se repita em 2020 no Brasil e nos EUA e que, em 2019, não se passe na Europa — afirmou Haddad.
Reportagem da Folha de S.Paulo afirmou, em outubro, que empresários contrataram agências que, usando múltiplos números telefônicos, fizeram disparos em massa de mensagens negativas ao PT pelo WhatsApp.
O procedimento fere as regras da empresa, que proíbe uso da plataforma de mensagens para disparo em massa de mensagens com fins comerciais. Após a publicação da reportagem sobre envio de mensagens anti-PT, o WhatsApp baniu as contas de quatro agências citadas no texto – Croc Services, SMS Market, Quickmobile e Yacows.
A plataforma afirmou que a medida foi tomada após detectar "contas com comportamento anormal, para que elas não possam ser usadas para espalhar spam ou desinformação". O anúncio da possibilidade de se ingressar com uma ação nos Estados Unidos foi feito após uma reunião entre Haddad e as bancadas petistas na Câmara e no Senado.
O objetivo do encontro era fazer uma avaliação da eleição. Questionado se o partido havia feito uma autocrítica, Haddad sorriu e, em sua resposta, apenas falou dos ataques virtuais sofridos por apoiadores de Bolsonaro.
— Não estávamos preparados para este tsunami cibernético que nos afetou com o uso aparente, pelo menos segundo o jornal Folha de S.Paulo, de dinheiro irregular, o famoso caixa dois — afirmou.
No encontro, os petistas se disseram a favor de atuar em duas frentes. Uma menor, para defender pautas como o SUS e condenar o contingenciamento de verbas, por exemplo, e uma maior, incluindo integrantes da centro-direita, para defender a agenda de direitos civis, como a escola pública laica. Partidos de centro-esquerda já organizaram uma frente de atuação que, no entanto, exclui o PT.