Figuras de destaque nos palanques do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o momento de sua prisão, a deputada estadual Manuela D'Ávila (PCdoB) e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos (PSOL), voltaram a dividir o microfone neste domingo (29), em Porto Alegre. Dessa vez, porém, em espanhol.
Os pré-candidatos à Presidência da República participaram do principal painel do 2º Fórum Latino-Americano La Poderosa, evento formado por moradores de favelas e comunidades rurais de 11 países do continente.
Manuela e Boulos fizeram parte de mesa que reunia também Carol Proner, jurista e professora de Direito Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Adolfo Pérez Esquivel, ativista de direitos humanos argentino vencedor do Nobel da Paz em 1980.
Frente a uma plateia na maior parte de estrangeiros, que lotaram os 1,2 mil lugares da Casa do Gaúcho, tanto a deputada quanto o líder do MTST falaram em espanhol, vestiram os lenços verdes da campanha em prol da legalização do aborto na Argentina e centraram seus discursos no argumento de que o continente como um todo é alvo de "um novo tipo de golpe de Estado", conforme definiu Boulos:
— Começou em Honduras, contra (Manuel) Zelaya. Seguiu no Paraguai, contra (Fernando) Lugo, e chegou ao Brasil, contra Dilma. Esses golpes têm uma características em comum. Não se limitaram a tirar um presidente eleito pelo povo para colocar governos ilegítimos. Também nos impuseram, e isso é especialmente doloroso no Brasil, uma ampla agenda de retrocessos sociais.
Manuela também comparou a situação de Lula a processos contra outros ex-chefes de Estado do continente.
— Quando botamos nossas vozes a dizer "Lula livre", dizemos que não aceitamos um Estado de exceção como temos em Brasil e como temos passos em muitos países de nosso continente. "Lula livre" quer dizer que não detenham Rafael (Correa, ex-presidente do Equador), que não detenham Cristina (Kirchner, ex-presidente da Argentina). A melhor época do nosso continente foi quando tínhamos presidentes que falavam entre si, que olhavam nos olhos do povo e que não falavam baixinho com quem está geograficamente acima — discursou Manuela.
Rafael Correa teve um pedido de prisão preventiva expedido na semana passada pelo suposto envolvimento no sequestro de um rival político em 2012. Cristina Kirchner enfrenta cinco processos, entre as acusações estão tráfico de influência e lavagem de dinheiro.
O "La Poderosa" começou em 2004, na Argentina, e desde o ano passado ganhou uma versão latino-americana. Em 2017, o fórum foi realizado em Havana, Cuba. Seu nome é referência à motocicleta com que Che Guevara e Alberto Granado percorreram a América do Sul em 1952. Manuela pediu compreensão da plateia e da mesa para deixar o evento antes do final.
— Quem é mãe, vai me entender. Tenho pouco tempo antes do início da campanha e prometi à minha filha de três anos que a levaria ao cinema — declarou a deputada, às pressas para assistir a Os Incríveis 2.