A Corregedoria Nacional do Ministério Público instaurou um procedimento para investigar a venda de palestras do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a investigação é motivada por representação feita pelos deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ).
Dallagnol recebeu, em 2016, R$ 219 mil em 12 palestras feitas para falar da corrupção e da história da Lava-Jato. Em conversa com jornalistas, o procurador afirmou que doa os recursos para um hospital do Paraná que cuida de crianças com câncer. De acordo com Dallagnol, a investigação da Corregedoria Nacional é um procedimento padrão, que deve ser arquivado pela falta de qualquer irregularidade nos eventos que faz.
Leia mais:
Carmen Lúcia pede que Polícia Federal faça varreduras em gabinetes do STF
Perícia conclui que não houve edição em conversa entre Joesley e Temer
Presidente do Conselho de Ética do Senado arquiva pedido de cassação contra Aécio Neves
A atividade docente, disse ele, é autorizada pela Constituição, por resoluções do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As palestras são reconhecidas como "atividade docente" por uma resolução do CNJ.
– A atividade de dar palestras é legal, lícita e privada – disse ele.
Dallagnol fez sua maior palestra em um evento da XP Investimentos, em São Paulo, na noite da última quinta-feira (22), onde reuniu 5 mil pessoas. O procurador, ovacionado pelos presentes, que o aplaudiram de pé, disse que o interesse por suas declarações vem da identificação das pessoas com a causa: o combate à corrupção.
– Recursos públicos são desviados pela corrupção e geram mal-estar – afirmou o procurador.
Perguntado sobre quanto recebeu pela palestra de quinta, Dallagnol disse que não poderia informar por não falar de casos específicos, que no geral possuem contrato de confidencialidade.
– Não posso expor o contratante – disse ele, ressaltando que os valores serão divulgados em 2018, quando saírem os números totais recebidos este ano.
O ingresso para o evento da XP, que termina no sábado (24), custa R$ 800 e vai reunir nomes como o prefeito de São Paulo, João Doria, e o ex-presidente do Itaú, Roberto Setubal.
Dallagnol rebateu críticas de alguns partidos de que estaria enriquecendo com a repercussão da Operação Lava-Jato e mencionando pessoas investigadas em suas declarações.
– Nas minhas palestras, não trato de casos específicos, trato de corrupção. Não faço menções específicas a corruptos – rebateu ele.
– Por decisão própria, em 2016, eu decidi destinar todos os valores que seriam recebidos com palestras para uma entidade filantrópica – afirmou o procurador, citando o hospital no Paraná.
Segundo ele, foi autorizado que o hospital preste informações sobre os valores recebidos. As próprias entidades que bancaram as palestras repassaram os recursos aos hospitais, sem passar por Dallagnol.
No evento de quinta, o procurador afirmou que a corrupção rouba a estabilidade política de um país, afasta investidores e gera descrença nas instituições.
– Em país corrupto, grandes campeões nacionais largaram na frente porque pagaram propina – afirmou o procurador, sem citar nomes.
Dallagnou mencionou estimativas de que a corrupção desvia em torno de R$ 200 bilhões por ano no Brasil.
– A corrupção gera danos qualitativos e quantitativos – observou.