A Procuradoria-Geral da República (PGR) foi consultada por representantes do deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para avaliar a possibilidade de discutir sua situação, segundo o jornal Valor Econômico. Embora não tenha sido marcada reunião entre procuradores e defesa do ex-assessor especial da Presidência, a procura sinaliza abertura para realização de acordo de delação premiada, com potencial para implicar diretamente Michel Temer, com quem o deputado mantinha estreita relação até a divulgação da delação da JBS.
Em abril, Loures foi filmado pela Polícia Federal recebendo uma mala com R$ 500 mil, enviada pelo empresário Joesley Batista. Nesta quinta-feira, a defesa do parlamentar informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que depositou em juízo R$ 35 mil que haviam faltado do total – a mala foi devolvida à PF na segunda-feira à noite, com R$ 465 mil. No documento em que atestaram a apreensão, os policiais contaram 9,3 mil notas de R$ 50. Na ocasião, a defesa não se manifestou sobre a falta do dinheiro. Os advogados não esclareceram se o valor devolvido nesta quinta-feira também estava na mala.
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O dinheiro recebido por Loures, conforme as investigações, seria parcela de propina combinada com o ex-diretor de Relações Institucionais da J&F – que controla a JBS – Ricardo Saud. Pelo acerto, a empresa pagaria R$ 500 mil por semana durante 20 anos para que fosse exercida influência sobre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Ao receber a oferta em um café de São Paulo, Loures afirmou a Saud que teria de submeter a proposta a um superior. Um mês antes, o deputado havia sido indicado por Temer como interlocutor do governo a Joesley durante reunião secreta no Palácio do Jaburu, quando a conversa com o presidente foi gravada. Esse encontro, conforme comprovou interceptação telefônica, foi agendado por intermédio de Loures, a quem o presidente qualificou como de sua "mais estrita confiança".
São lacunas nessa cadeia de eventos, com potencial para relacionar Temer à propina, que poderiam ser preenchidas por eventual delação do deputado. Mas a extensão da crise no governo impõe urgência ao acerto com a PGR, sob pena de o acordo perder valor – se presidente vier a deixar o Planalto em razão dos capítulos dos próximos dias, as possíveis revelações perdem relevância.
O advogado de Loures, José Luís de Oliveira Lima, não confirma mas também não nega o interesse do cliente em fechar acordo com a PGR – também é ele quem negocia a delação do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro.
Lamúrias e relação apenas institucional
Em pronunciamento no último sábado, Temer afirmou que indicou Rocha Loures apenas para ouvir "as lamúrias" de Joesley e negou que, com isso, o empresário fosse obter alguma vantagem do governo. Depois, na segunda-feira, em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente voltou a afirmar que sua relação com o parlamentar era apenas "institucional". Ao comentar o flagrante da entrega da mala milionária, disse que a atitude do seu ex-assessor especial "não é aprovável", mas ressaltou sua "muito boa índole".
A possível delação do parlamentar é tida, desde que as revelações da JBS vieram à tona, como um dos principais temores entre aliados de Temer. A expectativa do Planalto era de que ele assumisse sozinho a responsabilidade pelo recebimento da propina.
Fator que também pressiona Loures é a possibilidade de acabar preso nas próximas semanas, caso o STF acolha pedido feito pela PGR – e que inclui a detenção do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) –, submetido ao plenário da Corte pelo ministro Edson Fachin, mas ainda sem data para votação.
Por outro lado, o deputado tem ao menos um motivo de alívio. A Mesa Diretora da Câmara decidiu na quarta-feira não interromper o pagamento do salário de Loures, de R$ 33.763.