A investigação da Polícia Federal apontou que não houve ataques a tiros no comitê do candidato à Prefeitura de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), na madrugada do dia 17 deste mês. Conforme o laudo, dadas as condições climáticas naquela noite, a "perícia considera factível a hipótese de quebra dos vidros por pressão do vento".
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A PF destacou que o episódio aconteceu "em uma madrugada em que Porto Alegre registrou intensa e incomum atividade elétrica nos céus, grande volume de chuva concentrada, fortes rajadas de vento, trovoadas e relâmpagos intermitentes".
Conforme a Somar Meteorologia, no domingo, as rajadas chegaram a 62 km/h no início da tarde. Entre as 2h e 3h do dia seguinte, logo após o episódio, o vento chegou a 44 km/h – maior velocidade daquele dia, considerada moderada pelo meteorologista William Minhoto. O volume de chuva registrado em Porto Alegre foi 17mm no domingo e 87mm na segunda-feira. Além do tempo ruim, não foram encontrados vestígios de munição no entorno das vidraças, nem marcas de tiros nas paredes e no teto do prédio.
A investigação concluiu que não havia pedestres nas proximidades nem veículos em atitude suspeita. Os automóveis que passam na frente do comitê, inclusive, estão com os vidros fechados e não há clarões partindo do interior destes veículos, conforme aponta o relatório. "Todos estes fatores indicam que os danos não tenham ocorrido por meio de uso de arma de fogo", diz o documento.
Em nota, a coligação Porto Alegre Pra Frente manifestou "alívio" ao saber que os fatos "provavelmente não tiveram conotação violenta". Leia a íntegra do documento:
"Relativo aos acontecimentos em nosso comitê central de campanha, manifesta seu alívio em saber que os fatos provavelmente não tiveram conotação violenta, tampouco motivação política ou mesmo uma "guerra" entre traficantes e seguranças, como chegou a ser divulgado pela imprensa. A disponibilidade das testemunhas, a entrega imediata das imagens das câmeras internas e outros dados do comitê e a facilidade para a coleta de provas e indícios certamente contribuíram, de nossa parte, para o rápido esclarecimento, ainda em tempo de não restar dúvidas dentro do processo eleitoral. Uma cidade solidária e democrática como Porto Alegre não merecia mesmo que o desfecho fosse outro, pela sua história de lisura e maturidade eleitoral. Agradecemos e parabenizamos a presteza, celeridade e eficiência da Polícia Federal para o correto esclarecimento dos fatos".
Incidente com muitas versões
A possibilidade de o comitê ter sido alvo de ataques e a morte do então coordenador do programa de governo do candidato Sebastião Melo (PMDB), Plínio Zalewski, provocaram uma série de manifestações e cobranças públicas, como do senador Aécio Neves (PSDB). O tucano pediu ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o envio de policiais federais ao Rio Grande do Sul para garantir a normalidade das eleições no segundo turno em Porto Alegre.
"Os fundamentos deste pedido são os graves fatos ocorridos no dia de ontem (17 de outubro), já de conhecimento público e notório, consistentes no atentado ocorrido na madrugada desta segunda-feira, no qual o comitê de campanha da coligação 'Porto Alegre pra Frente' (...) foi alvo de tiros (...) e a confirmação da morte do senhor Plínio Zalewski (...). A gravidade dos fatos é ímpar, pois o contexto revela indícios claros de que vidas estão sob risco", escreveu Aécio.
No dia do episódio, o candidato Nelson Marchezan Júnior disse imaginar ter sido um ataque preparado, "porque ocorreram dois disparos à meia-noite e, quando as pessoas voltaram, foram disparos direcionados contra as pessoas".
– Foi uma tentativa de homicídio – disse à época.
O vigilante Fábio Sartori Pinto, 41 anos, que estava no prédio, chegou a relatar em entrevista que local tinha sido atacado a tiros duas vezes. Na primeira, por volta de meia-noite, explicou que dois disparos tinham trincado parte das janelas. Depois de pedir reforço, perto de 1h20min, Pinto contou que ouviu cerca de 10 tiros, que acabaram estourando parte dos vidros do segundo andar do prédio.
Algumas horas após o incidente, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), lançou uma tese diferente para explicar o episódio envolvendo o comitê. Em entrevista a ZH, o prefeito rechaçou a possibilidade de motivação política, alegando que uma servidora da prefeitura havia procurado o setor de Recursos Humanos para pedir com urgência a concessão de licença-prêmio. Como o município não vinha concedendo o benefício para conter gastos, a funcionária teria insistido e revelado que precisava sair do Estado com a família por causa do incidente durante a madrugada.
– O irmão dessa servidora é policial e, um tempo atrás, participou de uma operação em uma vila na qual houve confronto e apreensão de armas. Esse policial estava no comitê do Marchezan na noite. Quem foi lá, queria matar esse segurança – afirmou o prefeito.
A Polícia Civil, que deu início à investigação antes de a PF assumir o inquérito, já havia apurado que o irmão da servidora não era policial.