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Os passageiros que viajarem entre Porto Alegre e Rio de Janeiro poderão compartilhar o avião com a ex-presidente Dilma Rousseff. A petista, que após a cassação não tem mais direito ao transporte por meio de jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB), dividirá a sua nova rotina, longe da Presidência, entre as duas cidades.
Apesar de ter sinalizado a vontade de retornar à Capital para “voltar a caminhar na rua” e ficar perto da família, Dilma não desistiu da política. Com o incentivo de amigos e companheiros de partido, usará o apoio intelectual e artístico que recebe em terras cariocas para manter a luta política pelo legado do seu governo e contra a gestão de Michel Temer.
Segundo pessoas próximas a Dilma, a decisão de estabelecer uma segunda moradia no Rio foi tomada nas semanas que antecederam o impeachment. A ideia é ficar mais próxima dos centros econômico (São Paulo), político (Brasília) e cultural (Rio) para reforçar a sua atuação. O fato de a mãe da ex-presidente, a professora aposentada Dilma Jane da Silva, 93 anos, ter um apartamento no Rio também contribuiu.
Nas últimas semanas, a petista encarregou-se de separar livros, presentes e outros objetos que recebeu durante o mandato e guardava no Palácio da Alvorada. A maioria foi trazida a Porto Alegre. Uma última leva de pertences sairá no avião da FAB que a transportará à Capital – a previsão é de que Dilma chegue ao Estado na terça-feira. Quando desembarcar, ela deve ser recepcionada por militantes da Frente Brasil Popular, que pretendem fazer uma espécie de escolta até o apartamento na Rua Copacabana, na Zona Sul.
De convites para palestrar até participação em comício petista
Os vizinhos da ex-presidente evitam comentar sobre a presença dela no local. Na quinta-feira, ZH tentou conversar com moradores do condomínio, mas a responsável pela portaria disse que a orientação é não permitir contato com proprietários. Por telefone, um vizinho de Dilma aceitou falar sem se identificar. Disse que ninguém considera negativa a movimentação de seguranças pelos corredores, mas cita que, algumas vezes, isso prejudica a privacidade.
Na Capital, Dilma pretende resgatar um pouco da sua vida antes da Presidência. Ela ainda tem um carro (Tipo 1996), que foi levado a Brasília, mas com pouca utilidade, já que teve direito a motoristas nos últimos anos e manterá dois no staff de oito assessores.
Do ponto de vista político, as pessoas mais próximas a Dilma são reticentes sobre o seu futuro e até que ponto a manutenção de uma agenda de combate ao impeachment é vontade dela ou insistência dos companheiros. Desde que a cassação foi consumada, a ex-presidente já recebeu mais de 10 convites de universidades e entidades estrangeiras para palestras e seminários. Também já manifestou a amigos a vontade de escrever um livro sobre o período na Presidência.
Na sexta-feira, Dilma concedeu entrevista a jornalistas estrangeiros no Palácio da Alvorada. Ao lado do advogado José Eduardo Cardozo, insistiu na tese de que não cometeu crime. Por enquanto, a ideia de se aposentar e levar uma vida mais afastada da política parece distante. Tanto que a petista garantiu à candidata do PC do B à prefeitura de Salvador, Alice Portugal, que na próxima sexta-feira participará, na Bahia, de seu primeiro comício como ex-presidente.
Repouso, aconselhamentos e negócios imobiliários na Capital
Os laços de Dilma Rousseff com Porto Alegre vão além da família formada com o ex-marido e ex-deputado pelo PDT, Carlos Araújo. Conselheiro pessoal de Dilma, Araújo costuma receber a ex-presidente em sua casa, às margens do Guaíba, na Zona Sul. As conversas, que vão da política até a rotina dos netos, serão mais frequentes com o afastamento da Presidência da República.
A petista também pretende estar mais presente na vida da filha, Paula, e dos netos, Gabriel, cinco anos, e Guilherme, de oito meses. Na próxima sexta-feira, mesma data em que ela garantiu presença em um comício na Bahia, Gabriel completará seis anos.
Além da ligação com os parentes, Dilma mantém negócios na Capital. No dia da votação do impeachment, a amiga e senadora Katia Abreu (PMDB-TO) foi ao microfone do Senado pedir que os colegas não retirassem os direitos políticos da petista. A justificativa foi curiosa: disse que a então presidente, sem poder trabalhar no setor público, ficaria com uma aposentadoria de R$ 5 mil por conta dos anos trabalhados na Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Na prática, não é bem assim. Dilma tem dois imóveis locados que, somados, garantem um reforço superior a R$ 7 mil na sua renda. – Nunca tive contato com ela, fiz tudo pela imobiliária. Nunca tive nenhum problema aqui.Se ela (Dilma) vier aqui um dia, vou dar um abraço nela e dizer que foi injustiçada. Quem sabe ela passa aqui, né? Acho que deveria cuidar dos netos e sair da política – afirma a empresária Cristiane Bonacina, 44 anos, dona da lavanderia Bolha Azul, montada em casa alugada por Dilma no Menino Deus.
O outro imóvel ainda não foi ocupado pelo novo inquilino. Trata-se de um apartamento de três dormitórios localizado no bairro Higienópolis. Até o ano passado, um casal de idosos vivia no local. Depois, o apartamento ficou por mais de oito meses disponível para locação sem que aparecessem interessados.
Por e-mail, Dilma acompanhou todo o processo com os corretores da imobiliária – a mesma pela qual alugou a residência no Menino Deus.– Tudo era tratado com ela por e-mail, nunca por telefone ou pessoalmente. Conseguimos um locatário faz pouco tempo – conta um funcionário da imobiliária.