Será preciso muita coragem para disputar o governo do Rio Grande do Sul em 2014. Porque nenhum candidato poderá alegar desconhecimento da situação das finanças do Estado, nem vender ilusões, como se costuma fazer nas campanhas eleitorais. Se um candidato disser que vai pagar o piso do magistério, aumentar os salários dos policiais ou nomear mais funcionários públicos, terá de dizer de onde sairá o dinheiro, já que a receita ordinária não cobre nem as despesas atuais. E as perspectivas são sombrias para os próximos anos, a menos que a economia cresça em ritmo chinês.
Cada um dos últimos governadores financiou o déficit usando um artifício. No regime militar, os governos tinham o poder de fabricar dinheiro. Emitiam títulos, as Obrigações do Tesouro Estadual, inchavam a máquina e ninguém se preocupava com a equação receita versus despesa. Até o Plano Real, a inflação elevada mascarava o déficit e o Estado se financiava deixando render no overnight o dinheiro que no fim do mês pagaria os credores e os funcionários públicos.
Com a estabilização da moeda, o rombo se tornou visível. Antônio Britto vendeu patrimônio público, governou quatro anos com o equivalente ao orçamento de cinco, mas, às vésperas de entregar o cargo, seu então secretário da Fazenda, Cézar Busatto, previu que Olívio Dutra atrasaria salários nos primeiros meses de governo porque a receita era insuficiente. Olívio usou o dinheiro reservado à Ford para pagar funcionários e, na última hora, precisou de um socorro emergencial do governo Fernando Henrique para não atrasar o 13º.
Germano Rigotto assumiu em 2003 com os cofres raspados. A seca afetou a economia, reduziu a arrecadação e agravou a situação das finanças. Para pagar o 13º, recorreu a empréstimos do Banrisul, feitos em nome dos funcionários. Em 2004, a Assembleia autorizou o uso dos depósitos judiciais, até o limite de 70%. Foi insuficiente. Para fechar o balanço, em 2006 o limite foi elevado para 85% e, no fim das contas, Rigotto sacou R$ 2 bilhões - que nunca serão repostos. Ontem, Tarso Genro o elogiou pela iniciativa que à época o PT torpedeou.
Yeda Crusius elegeu o déficit zero como sua bandeira e não usou dinheiro dos depósitos judiciais. Teve como receita extra a venda de ações do Banrisul. O bolo cresceu e, quando passou o governo para Tarso, a conta dos depósitos judiciais tinha R$ 4,7 bilhões, que em dois anos subiram para R$ 8 bilhões. Nesta semana, Tarso transferiu para o caixa único R$ 4,2 bilhões, para gastar até o final de 2014.
Opinião
Rosane de Oliveira: "Sem espaço para mágicas"
Rosane de Oliveira
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