Faltando 11 dias para o primeiro turno, os principais candidatos à prefeitura de Porto Alegre se enfrentaram em mais um debate promovido pela Rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (25). Por duas horas, Felipe Camozzato (Novo), Juliana Brizola (PDT), Maria do Rosário (PT) e Sebastião Melo (MDB) confrontaram ideias e apresentaram propostas para o futuro da Capital.
Mediado pela jornalista Andressa Xavier, o programa realizado nos estúdios da RBS TV foi marcado por embates diretos entre os concorrentes. Como não havia restrições para a escolha de interlocutores, Melo foi a opção preferencial de Rosário e Juliana, enquanto a candidata do PT foi escolhida com mais frequência por Melo e Camozzato.
O programa começou com perguntas elaboradas pela produção da Gaúcha. Sorteada para começar, Maria do Rosário respondeu sobre a população em situação de rua, prometeu reforçar a assistência social e lembrou do incêndio na Pousada Garoa, que provocou 11 mortes em abril. Em contraponto, Melo mencionou a resistência ao acolhimento, disse que o governo federal é "devedor" da cidade para esse tipo de política e que a Garoa foi contratada via licitação.
— Não dá para dizer que a senhora não tem responsabilidade. Essa política de acolhimento começou no governo Tarso Genro (PT) — disse Melo.
— Fico estupefata que o senhor queira transferir a responsabilidade da pousada Garoa para mim. O prefeito não é o presidente Lula, não é o governador, é o senhor — respondeu Rosário.
Na sequência, a candidata do PT foi convidada por Camozzato para discutir o sistema de prevenção a enchentes. Rosário prometeu "recuperar a inteligência instalada" que existia com o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), extinto em 2017. Já Camozzato mencionou a necessidade de construir diques que não foram implementados e atualizar cotas de enchente.
— É absurdo que as casas de bombas não tenham sido protegidas e não tenham sido contratados nem geradores — criticou a deputada.
— Entrava em torno de três vezes mais água na cidade do que o sistema de drenagem era capaz de tirar — ponderou o candidato do Novo.
Convidada a responder sobre o déficit de vagas nas creches, Juliana selecionou Melo para comentar. O prefeito afirmou que, durante seu mandato, abriu mais de 7 mil vagas a crianças de zero a cinco anos, enquanto a pedetista disse que o adversário foi vice e depois prefeito e não conseguiu solucionar o déficit.
— Com o Melo, tudo o que é bom foi ele quem fez, mas tudo o que deu errado a culpa é do governo estadual, do governo federal, da "mãe do Badanha", mas não dele.
— O povo de Porto Alegre me conhece muito bem. Sou um prefeito que tenho atitude. A senhora está confundindo posicionamento com atitude — respondeu Melo.
Na última rodada, os candidatos do PT e do MDB elevaram o tom ao debater sobre o transporte coletivo. Rosário disse que os ônibus da Capital são "latas de sardinha" e não cumprem horários, enquanto Melo ressaltou que a passagem está congelada há três anos.
— A senhora prometeu a passagem zero para as pessoas, mas o custo do sistema é de R$ 750 milhões por ano. Ninguém é contra a tarifa zero, só quero saber quem vai pagar a conta — disse o candidato à reeleição.
— O senhor desestruturou o sistema retirando cobradores e repassando R$ 130 milhões (às empresas), que é uma caixa-preta — devolveu Rosário.
Segundo bloco
Com tema livre, o segundo bloco foi aberto por Melo e Rosário, que trataram sobre desenvolvimento econômico. Melo lembrou que reduziu o Imposto Sobre Serviços para 62 atividades e flexibilizou regras para licenciamento e obtenção de alvarás, enquanto Rosário prometeu criar a "casa do MEI" para ajudar microempreendedores. Ambos se comprometeram a não aumentar impostos.
Depois, Camozzato e Rosário e subiram o tom ao discutir a defesa de direitos humanos. Rosário disse que o adversário representa a "extrema direita", enquanto ele a classificou como "representante da extrema esquerda".
Juliana escolheu Melo para responder sobre saúde pública e ambos discutiram a proposta da candidata do PDT de acabar em seis meses com a fila de espera para consultas e cirurgias. Melo apontou que a promessa é "irrealizável" e ponderou que a Capital absorve pacientes de outras regiões do Estado. Por sua vez, a pedetista reafirmou o compromisso e acusou o prefeito de transferir responsabilidade.
A saúde continuou pautando a discussão seguinte, entre Melo e Rosário. A deputada afirmou que a baixa resolutividade na atenção básica provoca o aumento na fila para atendimentos de complexidade e prometeu ampliar o número de equipes de saúde da família. Melo prometeu transformar atuais centros de referência em saúde em policlínicas para qualificar o atendimento.
Terceiro bloco
No bloco final, as perguntas partiram de comunicadores do Grupo RBS, com respostas e comentários dos candidatos. Camozzato convidou Melo para discutir limpeza urbana e coleta de lixo, enquanto o prefeito chamou Rosário para debater sobre o desenvolvimento do Centro Histórico e as obras de revitalização. Os adversários marcaram a diferença com Melo dizendo que a antiga sede do INSS, no Centro, foi alvo de invasão, enquanto a petista classificou o movimento como ocupação.
Rosário e Melo repetiram o confronto ao discutir sobre a cultura em Porto Alegre. Na sequência, Melo foi escolhido por Juliana para dialogar sobre a proteção contra cheias. O prefeito defendeu a atuação da gestão municipal durante a enchente de maio, enquanto a candidata do PDT apontou falta de cuidado.
Sobraram alfinetadas no final, quando Melo chamou Juliana de "candidata Copa do Mundo", por, segundo ele, aparecer a cada quatro anos, enquanto a adversária disse que o prefeito está com medo em razão de seu crescimento nas pesquisas.
A despeito de momentos mais calorosos, todos os candidatos se cumprimentaram ao final do debate, que terminou pouco depois das 10h.
Foram convidados a participar do programa candidatos cujos partidos têm representação no Congresso Nacional. Dessa maneira, ficaram de fora Carlos Alan (PRTB), Cesar Pontes (PCO), Fabiana Sanguiné (PSTU) e Luciano Schafer (UP).