Concebida para facilitar o início de uma administração recém-eleita, a transição nunca foi tão tranquila no Rio Grande do Sul. Com a inédita conquista da reeleição, Eduardo Leite (PSDB) vai conduzir a primeira reunião na segunda-feira (7) com aliados dos dois lados do balcão.
Leite ainda não fez nenhum pedido específico ao governo atual, mas há pelo menos um mês o secretário de Governança, Planejamento e Gestão, Cláudio Gastal, já trabalhava na coleta de dados para repassar a quem se saísse vitorioso nas urnas. Responsável pelo monitoramento de todos os projetos em andamento, Gastal vem tabulando dados sobre obras, investimento e repasses, com o histórico de cada empreendimento e um prognóstico para os próximos 10 meses.
— A transição é um momento muito crítico porque ela dá o norte estratégico do governo e alinha as pessoas, mas essa é diferente. Como tivemos a reeleição, será uma continuidade com propósito de evolução, com pautas e projetos muito claros — define Gastal.
Com a experiência de quem está partindo para a terceira transição consecutiva, Gastal é um dos coordenadores do processo, ao lado do chefe da Casa Civil, Artur Lemos, e do procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa. Juntos, eles irão conduzir a entrega de informações do governo atual para a equipe de Leite. O governador eleito ainda não designou uma pessoa específica para chefiar os trabalhos da nova gestão, mas já definiu algumas prioridades.
Leite quer deflagrar, já na transição, uma integração maior entre as secretarias de Educação e de Obras. Objetivo primordial para os próximos quatro anos, a melhoria dos índices de aprendizagem e a adoção de ensino integral em 50% do Ensino Médio passa primeiro pela reforma das escolas. Para tanto, a ideia é acelerar a aprovação de projetos e o repasse das verbas.
— Temos de pensar o melhor funcionamento, se é a criação de uma força-tarefa, se agrupamos servidores em cada pasta. O diagnóstico nós já temos, e o conceito é o de buscar maior eficiência. Com o primeiro contato das equipes, na segunda-feira teremos um norte mais claro para colocar as ideias em prática — projeta Gastal.
A previsão é de que a transição seja norteada por setores. Além do foco na educação, também são prioridades o desenvolvimento econômico e as ações sociais. Haverá também um mapeamento da máquina administrativa, com análise da estrutura e do número de pessoas em cada área, com identificação dos ocupantes em cargos em comissão e de servidores concursados em postos de chefia.
À frente da articulação política do atual governo e presidente da federação PSDB-Cidadania, Artur Lemos pretende reunir nos próximos dias os partidos que compuseram a aliança vencedora. O objetivo é buscar nomes em cada sigla para atuar na equipe de transição pelo lado do governo eleito. Segundo Lemos, ainda não há previsão de conversas para ocupação de espaços no futuro secretariado. Por enquanto, o primeiro passo é identificar pessoas com perfil para auxiliar na prospecção de informações e condução dos projetos iniciais.
— As pessoas necessitam ter conhecimento dos projetos do governo para ter foco. Mas, à medida que vai se deixando claro como vai se delinear o governo, todos os partidos serão procurados para ter uma conversa. Mesmo quem não for convidado a fazer parte da base será procurado, afinal, é preciso estabelecer relação com a nova Assembleia Legislativa — diz Lemos.
Pela primeira vez, a equipe de transição irá trabalhar no Centro Administrativo Fernando Ferrari, no Centro Histórico da Capital. Foram reservados os auditórios e ao menos dois andares, o 19º, hoje destinado a coworking, e o 21º, onde fica o gabinete destinado ao vice-governador. As salas nas quais o governador Ranolfo Vieira Júnior trabalhou nos últimos três anos serão agora ocupadas por Leite e seu vice, Gabriel Souza. Ainda não há definição de, no total, quantas pessoas irão atuar com a dupla eleita.
Gabriel tirou alguns dias para descansar e retoma as atividades na segunda-feira. Leite esteve em São Paulo no final de semana, mas retorna a Porto Alegre para a primeira reunião e viaja na terça-feira (8) para Brasília e depois Pernambuco, onde participa de eventos do PSDB e da Conferência Nacional da União Nacional dos Legislativos Estaduais (Unale). Leite irá tirar duas semanas de férias a partir do feriado da Proclamação da República, devendo retornar à Capital apenas em 28 de novembro, para dar sequência à transição e preparar a montagem do novo governo.