Na próxima sexta-feira (31), o engenheiro civil Marcus Vinicius Caberlon será empossado como secretário de Planejamento e Parcerias Estratégicas de Caxias do Sul. Antes disso, nesta terça (28), o ex-diretor presidente do Samae (2005 e 2012, na gestão José Ivo Sartori) participou do programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha Serra, para abordar os principais eixos de atuação da pasta, como a ocupação da Maesa, parcerias público-privadas e o encaminhamento de obras estruturantes.
Caberlon foi anunciado como novo integrante da 2ª gestão Adiló Didomenico (PSDB) na tarde da segunda (28). Desde 1° de janeiro, quem respondia interinamente pelo Planejamento era o vice-prefeito, Edson Néspolo (União Brasil). Nesse intervalo de tempo, o novo secretário fazia os trâmites para deixar um cargo na prefeitura de Porto Alegre.
Ele vê a indicação ao Executivo caxiense como "uma oportunidade de voltar para casa depois de 10 anos" mas, também, para "ajudar a cidade e contribuir com a administração do Adiló e do Néspolo".
Caberlon entende que é preciso construir projetos e dialogar para 'tirar do papel' obras importantes, como a construção de um viaduto que desafogue o tráfego entre a BR-116 e a Perimetral Norte.
— Lembro que a BR-116, com a Perimetral Norte, era uma discussão que fazíamos na época do governo Sartori, praticamente 20 anos atrás, e ainda não tiramos do papel. Vamos para Brasília buscar dinheiro. Assim se fez em 2005, 2006, e vamos fazer isso de novo — disse.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista:
Gaúcha Serra: Como o senhor recebe esse desafio e como surgiu essa oportunidade?
Marcus Caberlon: É a primeira vez que eu trabalho na prefeitura (de Caxias). Eu estive na Codeca, lá no final dos anos 1970, início dos anos 1980, e depois no Samae. Agora eu entro no CNPJ da prefeitura. O prefeito Adiló me ligou no começo de dezembro para uma conversa inicial, depois com o Néspolo, depois com os dois, e assim nós viemos conversando há dois meses sobre esse assunto, sobre o convite.
Eu vejo como uma oportunidade de voltar para casa depois de 10 anos, fazem 10 anos que eu trabalho em Porto Alegre. Eu fiquei em Caxias alguns meses durante o período da Covid-19, onde não se podia fazer nada. De resto, são 10 anos em Porto Alegre.
Então, eu acho que o ciclo também está se fechando, está se abrindo essa nova possibilidade de eu voltar para Caxias, voltar para a minha terra, para a minha casa, para a minha família, e desenvolver um trabalho, ajudar a cidade, contribuir com a administração do Adiló e do Néspolo, para que a gente possa construir algumas coisas. Tem grandes desafios estruturados, vamos dizer assim, ou deixados em estruturação para serem implementados.
Nesse período que o senhor ficou em Porto Alegre, ocupou cargo na Corsan e também na prefeitura de Porto Alegre. O que mais pesa na sua decisão de aceitar esse convite para a Secretaria do Planejamento é mesmo poder voltar a morar em Caxias do Sul? Porque, normalmente, as pessoas tendem a fazer o caminho contrário para cargos, governo do Estado, entre outros.
Eu concordo, essa é a lógica natural e foi isso que me mobilizou para vir a Porto Alegre 10 anos atrás. Agora, eu estou chegando numa fase da vida, vou fazer 70 anos, né? Eu tenho que começar a pensar em outras coisas. Mas, na verdade, o desafio, acho que é a oportunidade de contribuir com Caxias, de ter uma visão um pouco diferente. Nesses 10 anos, como tu disseste, eu passei na Corsan, passei na Susepe também, fazendo o licenciamento de presídio para a área de engenharia do sistema prisional.
Enfim, eu adquiri uma experiência interessante. A prefeitura de Porto Alegre foi uma experiência fantástica nesses quatro anos com o prefeito (Sebastião) Melo. Viver a enchente, viver várias coisas, vários problemas aqui, resolver, me deu uma experiência que há 10 anos eu não tinha. E aí surge a oportunidade,. Acho que eu tenho condição de receber aquilo que recebi, uma parte da transição que foi preparada especialmente pelo Matheus (Neres da Rocha, ex-secretário de Parcerias Estratégicas), que fez um trabalho brilhante nas Parcerias, de seguir e contribuir com a cidade.
Tem muita coisa para fazer. E voltar para casa é interessante, contribuir com a cidade. Tenho bons amigos aí e todos com quem eu conversei me incentivaram a voltar, minha família também.
No fundo, qual é a missão da prefeitura, qual é a missão da administração municipal? Fazer melhor pela vida das pessoas, ou seja, facilitar a vida das pessoas. E a gente consegue contribuir para que isso aconteça. Eu acho que esse é o grande desafio e é isso que me motiva. Eu quero, quem sabe, mais uma vez poder contribuir para que Caxias volte ou retome o seu rumo, o seu caminho de crescimento.
A Secretaria de Planejamento tem um espectro muito amplo de ações, está agregada agora a questão das Parcerias Estratégicas. Tem grandes projetos em andamento em Parcerias, especialmente a Maesa. Como é que você imagina a condução desse setor específico? O que ele pode contribuir para essa melhoria que você citou na cidade?
A Maesa, se não me falha a memória, começou em 2013 (o movimento para ocupação do prédio), com (o então prefeito) Alceu (Barbosa Velho, PDT). E agora, na segunda-feira, abrem as propostas dessa primeira chamada de licitação que está sendo feita. Vamos receber, vamos ver o que tem e responder, vamos tratar. Eu acho que a Maesa hoje é ocupada pela Semma (Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade), tem esse projeto do Mercado Público, mas eu conheço a Maesa da época da fundição. Aquilo é enorme. Depois eu não tive mais oportunidade lá, não conheço o estágio atual.
Tem o restante da ocupação daquilo para ser pensado e planejado. Eu sei que isso já foi muito bem estudado. Tem várias contribuições de pessoas ligadas à área do turismo e cultural. E junto com todas as outras áreas afins, vamos retomar o processo de ocupação mais séria daquele espaço. É um espaço público fantástico, que cabe tudo aquilo que a gente quiser fazer lá dentro, com calma, com serenidade, com tranquilidade, ouvindo a comunidade, como tem sido feito até agora. Isso eu acho que é primordial, é uma coisa que pretendo olhar, assim como a questão do aeroporto, que eu acho que é importante também ser recuperado, deixar ele em perfeitas condições de uso, melhores condições, mas também tocar para frente o projeto do novo aeroporto de Vila Oliva.
Nesse sentido do Aeroporto de Vila Oliva, esse seria o maior desafio hoje, ou o maior projeto, pelo menos, que está na pasta do Planejamento? O senhor já conseguiu se inteirar do projeto? Em qual estágio está? O prefeito falou em pelo menos licitar as obras nesse primeiro semestre. É possível?
Não sei se isso é possível, não sei a condição financeira, não sei se há recursos para isso, não sei te situar. O que eu sei é que existe aquela discussão com o governo de Estado que ficou de fazer o projeto da estrada, que está pendurada. A primeira licitação não deu certo, está sendo feita. Eu acho que tudo isso tem que ser retomado. Na verdade, talvez a gente tenha que pensar numa concessão daquele espaço para que alguém construa, opere ou só opere. Enfim, isso é uma discussão que vai ter que ser retomada agora. Tem que conversar, nós vamos botar isso no eixo também.
Ainda em relação a parcerias público-privadas, o senhor cogita, vê possibilidade do aeroporto, da Maesa, dos pavilhões da Festa da Uva, por exemplo, serem contemplados?
Alguns anos atrás, eu ajudei a fazer uma modelagem para fazer um centro de eventos. E o local que a gente acabou discutindo era na Festa da Uva. Então, acho que ali tem um caminho interessante. Vi que o Milton (Corlatti, presidente da Festa da Uva S.A.) é um bom amigo, que já se manifestou nesse sentido. Acho que tem espaço, sim, tem necessidade, agora tem que fazer uma discussão. Não é uma decisão única de uma pessoa. Ela precisa ser qualificada, precisa ser complementada, não que seja um espaço ruim, mas ele (pavilhões da Festa da Uva) tem problemas estruturais. É uma questão antiga que exige permanente manutenção e melhorias também. Acho que ela deveria ser um espaço mais aberto à comunidade.
Ouvir também a diretriz do prefeito Adiló, tem um plano de governo, eu estou me inteirando sobre ele até para propor, porque também, o Planejamento também monitora resultados, monitora evolução, monitora um monte de coisas pequenas que não são para o público externo, mas para a gestão, para saber se você está sendo eficiente ou não, se você tem que corrigir rumo ou não, elas são importantes de serem feitas.
O Planejamento não é uma atitude isolada. Eu percebo que o Planejamento está espalhado por várias secretarias, mas você precisa, de alguma forma centralizar no sentido de que as informações partam de um único lugar. Então, vamos sentar com essas unidades e ver onde a gente pode corrigir.
Tem o Plano Diretor também que precisa ser revisado no ano que vem, em 2026, 2027. Ou seja, é uma discussão que não dá para esperar para 2027. Tem que começar a falar agora com as pessoas, com a comunidade, ver o que ela quer.
Na linha do Planejamento, há um conjunto de obras, que a primeira gestão Adiló vinha chamando de projetos estruturantes, onde entram projetos como o viaduto da BR-116 com a Perimetral Norte, obras que estão previstas, inclusive, no Plano de Mobilidade. Mas tem o desafio do financiamento, por ser rodovia federal. Que caminho o senhor enxerga que é possível seguir para conseguir tirar isso do papel?
Primeiro a gente tem que fazer projetos. A gente precisa sentar, pegar todos esses gargalos históricos. Eu lembro que a BR-116 com a Perimetral Norte era uma discussão que fazíamos na época do governo Sartori, praticamente 20 anos atrás.
Passados 20 anos, nós não tiramos do papel. Então, a gente tem projeto de engenharia para aquela solução. Vamos atrás, a prefeitura vai estabelecer um instrutor de representação em Brasília. Não sei quem será, mas vai ter esse instrumento e vamos para Brasília buscar dinheiro. Assim se fez em 2005, 2006, e vamos fazer isso de novo. A minha relação com Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e Daer (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem) é muito próxima em Porto Alegre. Então, facilita também o diálogo com eles. Tem uma outra coisa que também é histórica, que é a duplicação daquele trecho da BR-116 na região do Palermo. Também tem que sair do papel aquilo. Tem que ter um projeto. Se tem projeto, vamos pegar o projeto, vamos atualizar o projeto, vamos revisar o projeto, vamos botar embaixo do braço, vamos a Brasília.
Porto Alegre assinou quase R$ 6 bilhões de financiamento com quatro agentes financeiros diferentes no final do ano passado. Nós podemos fazer a mesma coisa, os caminhos são os mesmos, Caxias é uma cidade que tem uma capacidade econômica relativamente boa, tem um orçamento interessante, é adimplente, respeita a legislação, cumpre as normas legais, o que habilita a cidade a pleitear o recurso.