Em continuidade à série de entrevistas com deputados estaduais da região com enfoque na pandemia, o Pioneiro conversou com Carlos Búrigo (MDB). Confira trechos da entrevista:
Qual sua linha de atuação no enfrentamento à pandemia?
Desde quando começou, no dia 17 de março (de 2020), a gente trabalhou no sentido de fazer com que os hospitais de Caxias e da região pudessem se preparar para receber as pessoas. Trabalhamos para habilitar UTIs, para que viessem respiradores e todos os insumos que precisavam. Trabalhamos na conscientização dos protocolos sanitários e também tivemos uma forte atuação com os bancos, no incentivo a linhas de créditos para as empresas, assim como auxílios dos governos do Estado e federal. Trabalhamos para viabilizar e minimizar os problemas que as pessoas enfrentam. Também buscamos sensibilizar para que comércio e serviços precisavam estar abertos em funcionamento para as pessoas proverem o seu sustento. Tentamos também economizar e repassar os recursos da Assembleia para o Estado, conseguimos também ajudar na mobilização entre os poderes para que recursos que seriam aplicados nesses poderes sejam canalizados para o governo do Estado.
E como o senhor avalia a atuação do governo do Estado?
Todos os Estados, como também os municípios, estão a cada semana, a cada dia, com um novo desafio. Seja desafio para ter recursos para suprir seu sistema de saúde e também tomar decisões importantes, pois temos pessoas que pedem que o comércio fique fechado, outros que as atividades econômicas estejam abertas. O equilíbrio é muito difícil, mas vejo que o governo do Estado está fazendo aquilo que pode e precisa fazer. Nós mesmos, na Assembleia, temos ajudado muito no elo da sociedade com o Estado, levando as reivindicações que diversos segmentos têm. Então acredito que o governo está fazendo tudo que é possível para disponibilizar recursos aos hospitais e também ouvindo a sociedade para buscar equilíbrio para ter flexibilidade nas decisões que visem à saúde e a deixar a economia viva. Precisamos que as escolas também voltem a funcionar. Sou presidente da Comissão Estadual da Educação, onde nosso tema é colocar os professores e servidores das escolas no programa de vacinação do governo federal o mais rápido possível. O governo do Estado já autorizou os municípios a fazer isso (retomada de aulas presenciais), mas uma liminar na Justiça cancelou essa condição e o governo tem trabalhado no sentido de derrubar a liminar para que, nas próximas semanas, em uma situação mais amena, tenhamos as escolas infantis funcionando.
O senhor diz que o governo busca equilíbrio, mas o modelo de distanciamento é controverso. Acha esse modelo ideal?
Primeiro, que acho que nenhum modelo é o ideal, pois estamos conhecendo agora e trabalhando. Eu defendo que governos do Estado, federal e municipais têm de flexibilizar mais para as atividades econômicas. Sabemos que as grandes contaminações não acontecem no trabalho, pois os protocolos são rígidos e temos uma cultura de cumprir os protocolos. Onde temos contaminações maiores são, sem dúvidas, em aglomerações que não são no trabalho e nem nas escolas, são aquelas de final de semana, nas praças, no final do ano, as que tivemos no Carnaval e muitas vezes pessoas que não respeitam isso. Então acredito que governo deve flexibilizar mais dentro da responsabilidade que as pessoas possam viver, produzir seu sustento.
E a atuação do governo Bolsonaro, o que está achando?
Tem sido muito importante na questão econômica, com o auxílio emergencial, também as linhas de crédito para as empresas e flexibilizações para as folhas de pagamento. Evidentemente que nas questões sanitárias poderia ter atuação mais proativa. Mas acho que os governos estão tentando fazer o seu papel, que é o de prover as necessidades da população na saúde e economia.
O saldo do governo Bolsonaro é positivo ou negativo?
Não é nem 8 nem 80, sempre tem espaço para fazer mais, mas não podemos desvalorizar o que já foi feito. O que sou contra, seja no governo federal, estadual ou municipal, é a questão da paralisação, de ser radical, seja num extremo ou outro. Isso não ajuda nada no enfrentamento da pandemia, que é mundial, mas que aqui temos mais dificuldades, pois não somos um país da Europa em que as pessoas podem ficar em casa e o governo sustenta essas pessoas, pois tem recursos. Somos um país pobre e que não tem condições de entregar a todos recursos financeiros para que as pessoas possam ficar em casa sem trabalhar. Esse equilíbrio é difícil. Então, o governo tem tido acertos e tem tido morosidade muitas vezes. O que é ruim de tudo isso é a questão de briga de extremos.
Mas muitos países não se importaram em agravar sua própria dívida pública para oferecer suporte financeiro à população. O Brasil poderia ter feito isso ou acha que não é um risco válido?
Eu concordo que tem de aumentar a dívida. Tanto é que o Brasil aumentou seu déficit de R$ 170 bilhões para quase R$ 800 bilhões em um ano. Mas temos limitações econômicas, não temos esse espaço de construir uma dívida impagável que vai cada vez mais aumentar o desemprego, então temos limite. Acho que o governo tem aumentado a sua dívida pública para subsidiar diversos setores da economia
Por que acha que o Brasil é o epicentro da pandemia? Onde erramos?
O Brasil poderia ter trabalhado em buscar a vacinação o mais rápido possível, é a única chance de passarmos pela pandemia e buscarmos ter uma realidade e vida mais perto do normal. Mas somos um país continental, com muitas diferenças de realidade, seja social, econômica, cultural e de muitas fronteiras. Então eu acredito que tudo isso somado faz com que o Brasil tenha uma contaminação muito rápida, sabemos que foi muito forte em muitos lugares, como Amazonas, Rio de Janeiro, e isso faz com que os números sejam assustadores. Agora o governo federal e os consórcios de Estados e municípios precisam buscar vacinas. O Rio Grande do Sul agora acredito que já está numa curva descendente, enquanto o centro do país está numa curva muito alta. Como somos um país continental, nem sempre o nível de contaminação e velocidade se dá em todo o país.
A priorização dos profissionais de educação já constava no plano de vacinação do governo. Não estava previsto para maio?
Não, ele está lá em 13º ou 14º lugar. Queremos que os professores sejam colocados num grupo prioritário. Temos uma discussão que está acontecendo que os servidores da segurança pública estão sendo colocados com antecipação no grupo prioritário, nós queremos que os professores também sejam. Sabemos que só com professores vacinados é que podemos ter escolas em funcionamento de maneira bem mais adequada.
O que o senhor pensa sobre o kit covid?
Primeiro, que quem tem de ter a responsabilidade de prescrever é o médico. Eu peguei covid e usei o kit covid, agora, eu estava acompanhado de médico. O kit covid pode ser importante, mas tem de ser prescrito por médicos.
Está acompanhando o Governo Adiló? O que está achando?
Acho que assumiu uma prefeitura com muitas dificuldades econômicas e financeiras. E está administrando a prefeitura no momento mais difícil que algum prefeito pode ter assumido. É muito fácil as pessoas darem a sua opinião quando não têm a responsabilidade de decidir e prestar contas daquilo que decidiu. Então acho que o prefeito Adiló está trabalhando da maneira correta no sentido de pacificar, unir e conversar com a sociedade e buscar soluções que tenham convergência de atender a população.
Em retrospecto, como avalia a derrota nas eleições?
Tenho uma história de vida pública de 27 anos, fui prefeito (de São José dos Ausentes), secretário da Fazenda em Caxias, secretário de Estado, sou deputado. Coloquei meu nome à disposição para participar de uma eleição que tinha 11 candidatos e apenas um seria prefeito. Então não considero isso uma derrota, eu entendo que, na realidade, a população escolheu alguém que naquele momento entendia que poderia fazer com que a cidade pudesse retomar um caminho que nós mesmos construímos no governo do (José Ivo) Sartori como prefeito. Tivemos uma experiência muito ruim com o prefeito anterior aí.