Avesso a celulares, para se comunicar com o ex-prefeito de Caxias do Sul, Mansueto de Castro Serafini Filho (PTB), é preciso descobrir se ele está em casa ou no novo trabalho e entrar em contato no telefone fixo. Isso, no entanto, deve mudar em breve, garante Mansueto, que afirma estar "treinando" para aprender a lidar com o dispositivo móvel _ por necessidade, após ter passado a exercer, desde 1º de janeiro, o cargo de presidente do Conselho de Governança da prefeitura de Caxias. A função, criada no governo de Adiló Didomenico (PSDB), atribui a Mansueto o papel de de conselheiro do prefeito e interlocutor de demandas e sugestões de entidades representativas à administração pública, além de se envolver em assuntos das secretarias.
— Estou ainda tomando pé. Faz 20 anos que não vinha na prefeitura, nem sei onde ficam os lugares, mudou tudo. Mas já estou estabelecendo contatos. O prefeito quer que eu seja uma espécie de auxiliar, de conselheiro. Juntamente com algumas entidades, vamos formar um conselho de governança — relatou Mansueto à reportagem.
Na verdade, são mais de 28 anos desde que ele deixou a prefeitura, em 1992, após reeleição em 1988. A primeira consagração foi em 1977, em mandato que durou até 1982.
A relação com Adiló iniciou-se na segunda gestão de Mansueto, quando o atual prefeito era diretor da Codeca. Pelas boas impressões já naquela época, Mansueto ressalta que vê em Adiló o perfil "certo" para governar Caxias. Sobre o convite para participar do governo, o ex-prefeito de Caxias afirma que se viu "obrigado" a aceitar integrar a equipe no papel de articulação e voltar à prefeitura aos 82 anos.
— Adiló trabalhou comigo no meu segundo governo, foi diretor do conselho da Codeca. Naquela época, deu várias e excelentes sugestões. Fui surpreendido, inclusive, não foi um convite, foi uma imposição do prefeito (que ele participasse do governo). E eu não posso mais me negar a esse serviço para prestar ao Adiló, e espero dar uma colaboração modesta para que ele possa realizar um grande governo.
Apesar do tempo relativo longo longe da política, Mansueto diz que sempre acompanhou o andamento da cidade e conhece muitas das dificuldades que a cidade enfrenta, embora reconheça que o início de governo deve ser ainda mais complicado em razão da pandemia. Já Adiló reconhece projetar na figura de Mansueto a função de conselheiro e auxiliar direto do prefeito.
— Vai estar por aí trocando ideias, nos aconselhando, mobilizando quando o assunto requerer. Isso é muito importante, é uma maneira de ouvir a sociedade por alguém que tem experiência, pois o prefeito sozinho não pode fazer tudo, já vimos isso no dia a dia. Agora mesmo na questão do transporte coletivo ele vai nos trazer sugestões. Também queremos que ele use da sua experiência acompanhando secretários em visitas e viagens, principalmente para mobilizar empresas que se interessem pelo transporte de Caxias — ressalta Adiló.
Entre os primeiros contatos, nesta semana foi formalizado convite para a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) integrar o Conselho de Governança. A entidade aceitou o convite e deve indicar um representante para compor o grupo. Mansueto informa que também foi feita conversa inicial com a União das Associações de Bairros (UAB).
"Contrato" de um ano como CC8
Para desempenhar a função, Mansueto foi nomeado como CC8 e, portanto, receberá salário equivalente ao cargo de R$ 7.653,59. Adiló comenta que Mansueto teria pedido para não ser remunerado, no entanto, por questão de "legalidade", foi nomeado como CC.
— É uma questão de legalidade, inicialmente ele queria trabalhar sem remuneração, mas legalmente não pode. Ele precisa estar nomeado com portaria, com cargo, para poder usar a estrutura. Ele vai ter bastante trabalho, pode ter certeza. Se precisar se deslocar, ele vai usar um carro nosso ou da central de veículos, até por isso ele precisa ter um cargo. Se ele não tivesse cargo e tivesse uma reunião na universidade, ou na CIC, ele não poderia solicitar o carro do município — defendeu Adiló.
Questionado se temia alguma repercussão negativa por assumir cargo remunerado, Mansueto negou preocupação. Disse também que o combinado é permanecer no cargo neste ano e, após, vai ver se continuará:
— Não me preocupa de forma nenhuma. Não pretendia estar aqui, já estava descansando, mas acho que posso prestar algum serviço para a cidade. Já disse ao Adiló que permaneço enquanto eu tiver condições de saúde para poder colaborar com ele. O meu compromisso com o prefeito é por um ano no máximo, e depois vamos estudar a possibilidade de continuar ou não, pois eu já estou numa idade avançada e está na hora de descansar um pouco.
Primeiros desafios e ideias
Como primeira missão, paralelamente à estruturação do próprio conselho, Mansueto se envolverá no processo de escolha da empresa que irá gerir o transporte público de Caxias.
— Ele e o secretário de Trânsito (Transportes e Mobilidade, Alfonso Willenbring Júnior) devem visitar essas empresas para que venham participar da licitação — explica Adiló.
Mansueto conta que deve se reunir com o secretário de Trânsito e Transportes nos próximos dias para se apropriar do edital prestes a ser lançado e da própria situação do transporte público em meio à pandemia.
O prefeito também adiantou que pretende incluir Mansueto no planejamento da Secretaria de Trânsito, visando "readquirir a credibilidade de Caxias no trade turístico", nas palavras do prefeito.
À parte as atribuições já projetadas pelo prefeito, Mansueto tem uma agenda própria do que considera "sonhos" a serem analisados. Um dos principais é a criação do Instituto de Planejamento:
— Está na hora de criar aqui, e é um sonho que tenho há muito tempo, até sugeri a outros prefeitos, mas eles tinham outras prioridades, que é o Instituto de Planejamento, visando ao futuro da cidade, como existe em Curitiba, onde tem o Instituto de Planejamento Urbano, que pensa Curitiba para o futuro, e vários prefeitos seguiram esse plano e transformaram Curitiba em uma cidade exemplo para todo o Brasil e para o mundo no que diz respeito a desenvolvimento urbano. Isso ajudaria muito Caxias e os futuros prefeitos — comenta.
Outras ideias que o presidente do Conselho de Governança menciona se referem ao próprio transporte público, inclusive estudos para implantação de um "trem" urbano, o que possivelmente iria ao encontro da proposta de implantação de um sistema VLT (veículo leve sobre trilhos), que foi defendida por alguns candidatos durante a campanha.
— A próxima etapa do transporte coletivo se estuda o uso de ônibus elétricos, que são menos poluentes e é uma necessidade para o momento. E por que não, não agora, mas no futuro, estudar a possibilidade de um trem, de Ana Rech a Forqueta, por exemplo. Isso é para ser estudado.
Mansueto ainda destaca que se dedicará a analisar o material elaborado pelo MobiCaxias contendo propostas para a cidade e entregue aos candidatos à prefeitura no ano passado, durante o período pré-eleitoral.
Perfil
- Quem é: Mansueto de Castro Serafini Filho.
- Idade: 82 anos.
- Trajetória: foi prefeito de Caxias do Sul de 1977 a 1982 e de 1989 a 1992. Também foi vereador de 1964 a 1968 e vice-prefeito na gestão de Victorio Trez de 1969-1972.
- Cargo: Conselho de Governança.
- Atribuição: setor ligado ao gabinete do governo, ficará encarregado da articulação e interlocução entre entidades representativas e o poder público e também se envolverá em assuntos pontuais de secretarias do governo.