Candidato do MDB, Carlos Búrigo foi o sétimo candidato a ser ouvido pela Rádio Gaúcha Serra dentro da série de entrevistas com os postulantes ao cargo de prefeito de Caxias do Sul. Em 20 minutos, o deputado estadual, que já foi prefeito de São José dos Ausentes e ocupou cargo de secretário municipal e estadual durante os mandatos de José Ivo Sartori (MDB) na prefeitura de Caxias e no governo do Estado, respondeu perguntas sobre pandemia, saúde e transporte coletivo urbano. Também falou sobre segurança e gestão da máquina pública.
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A entrevista foi ao ar durante o programa Gaúcha Atualidade na manhã desta terça-feira (3) e foi conduzida pelos jornalistas Tales Armiliato e Babiana Mugnol. Confira:
Quais as ações previstas, caso seja eleito, em relação ao coronavírus? E até agora, em Caxias, o que o senhor considera que foi positivo e o que mudaria?
Nós, como deputado estadual, na Assembleia Legislativa, trabalhamos muito no mês de março, abril, no sentido de equipar o nosso sistema de saúde com respiradores, com a abertura de novos leitos de UTI tanto em Caxias quanto nos hospitais da Serra para que a gente não sofresse aquilo que foi o temor de todas as pessoas, que era que fossem contaminadas, que a gente viu na Europa, em algumas cidades do Nordeste do país, chegar no hospital e não ter atendimento. Então, foi um grande trabalho que fizemos na Assembleia, conversando com o governo do Estado, governo federal. Também trabalhamos no sentido de viabilizar que as instituições financeiras pudessem colocar, sem burocracia, linhas de crédito à disposição das pessoas, dos empreendedores que precisavam. É muito importante, porque a gente sabe que a economia parou, os profissionais liberais, microempreendedores, principalmente do setor de gastronomia, hotelaria, enfim, o setor de serviços, eles perderam suas vendas e precisávamos que os organismos financeiros colocassem isso à disposição. Quanto à questão do atual governo, acho que tratou isso com muita responsabilidade. Podemos verificar que nenhuma pessoa ficou sem atendimento nos hospitais. A rede pública de Caxias e região teve uma expectativa positiva, e quero aproveitar e saudar todos os profissionais da área da saúde, porque foram profissionais da linha de frente. O SUS provou que é um sistema que está funcionando. Precisa, evidentemente de mais recursos, de adequações, mas provou que é um sistema integrado e que resolve.
O senhor não faria nenhum ajuste?
Tudo em nossa vida a gente tem que ajustar e adaptar às novas realidades. Vamos trabalhar cada vez mais para que possamos buscar recursos do governo federal para Caxias. Nós somos a última instância de quem procura atendimento na área da saúde. Precisamos fortalecer e vamos trabalhar nesse sentido. Primeira questão é que os leitos de UTI têm prazo determinado para ficar aberto. Nós vamos trabalhar para que permaneçam abertos para que possamos atender outras enfermidades. Enquanto não vier a vacina, teremos que conviver com essa situação e estar atentos e atender à população. Vamos ajustar o sistema não só para atender a decorrência da pandemia. A gente sabe que temos muitas pessoas que não foram atendidas em exames, de cirurgias eletivas. Queremos fazer um mutirão para diminuir a fila em diversas especialidades. Queremos manter o que está bom, mas tem espaço, e muito, para melhorar o atendimento em saúde.
Um dos problemas da área da saúde é a contratação de médicos. Fazem concurso, são chamados e muitos não assumem em função dos salários baixos. No governo do MDB, do qual o senhor fez parte como secretário da Fazenda, houve a maior greve de médicos da história de Caxias. O que o senhor pretende fazer em relação à contratação de médicos e permitir melhor atendimento na saúde?
É uma função de quem está dirigindo a cidade buscar o equilíbrio das ações. Nós não podemos sempre ouvir só um lado. É importante a gente, com muita transparência, ouvir todos, compreender o que está acontecendo. Por mais que tivemos a greve dos médicos, o atendimento nunca faltou à população. Nós temos muito respeito aos profissionais, estaremos contratando na medida que for possível, médicos, enfermeiros, para dar o atendimento necessário à saúde tanto no que se refere ao Postão, mas também no que se refere às UBSs. Vamos estender o horário de atendimento naquelas unidades que têm mais demanda. Mas também vamos continuar fazendo algo que deu certo, que é a parceria com as universidades no sentido de fazermos o atendimento à população, usando os servidores públicos, mas também podendo buscar o conhecimento de parceiros para que possamos entregar saúde de qualidade. O que interessa é que eu possa, como prefeito, junto com toda a equipe, levar saúde de qualidade para quem precisa. A população não quer saber se quem está devendo saúde é o prefeito, é o governador, é o presidente da República, é a instituição. Ela quer que a saúde esteja a sua disposição, e essa é a nossa obrigação, é isso que vamos percorrer e sabemos fazer isso.
O caminho pode ser terceirização, gestão compartilhada? O que o senhor pensa da gestão de UPAs e UBSs?
Tudo o que é radical não é bom. Tudo o que é oito ou oitenta não tem resultado positivo. Mas nós podemos fazer, sim, uma parceria, um sistema híbrido, onde possamos ter o atendimento com servidores do município, que a gente respeita muito, sabe o quanto são importantes, o quanto já fizeram pela população, mas isso não quer dizer que tu não possa fazer parcerias com instituições, como está sendo feito agora na UPA da Zona Norte. O importante é ter equilíbrio, que você possa valorizar os servidores, possa ter serviços de qualidade, possa diminuir os custos e, principalmente, possa ter resultados. Sempre digo que o que se investe em um setor não é pelo que se gasta, mas pela resolutividade do serviço prestado, e é isso que vamos fazer.
O atual vice-prefeito e candidato a vice na sua chapa, Edio Elói Frizzo (PSB), suspendeu, juntamente com o governo atual, a licitação do Governo Guerra que previa concorrência para o transporte coletivo e quer aprovar a nova licitação antes de encerrar o atual mandato. Não está apressada a decisão? Não seria melhor o futuro governo dar continuidade para entender melhor esse processo? E qual a sua proposta para estimular a concorrência e baratear a tarifa?
Eu respeito muito os governos que estão no seu mandato, independente se é aliado a mim ou não. Sempre respeitei e vou sempre respeitar. Cada um que está no mandato deve pensar em fazer as coisas da melhor forma possível. Eu acompanhei audiência pública onde foi feito um edital pelos técnicos da prefeitura, que eu respeito muito, e que estão buscando essa licitação. Bom, se o que for feito for deixado para a próxima administração, nós tomaremos conhecimento e faremos os encaminhamentos legais e da melhor maneira para atender à população. Nós queremos discutir muito com a população um plano de transporte e vamos ouvir a todos: pedestres, pessoas que precisam do transporte coletivo, ciclistas, quem usa moto inclusive para o trabalho, para que a gente possa fazer algo que atenda a toda a cidade e respeitando a legislação. Então, não vejo problema nenhum de essa responsabilidade vá cair na minha administração, porque nós sabemos como fazer. Vamos buscar exemplos no Brasil e no mundo que deram certo e trazer e adaptar a nossa cultura. O caxiense tem uma cultura diferente. Nós precisamos não fazer as coisas impostas, precisamos de equilíbrio, de passagem mais barata, um transporte com qualidade e que a pessoa tenha menos tempo dentro do ônibus.
Sobre a tarifa, o senhor vai baratear ou não?
Eu vou fazer o equilíbrio. A gente vai sempre buscar baratear a tarifa, dentro de uma composição de transporte de qualidade e de transporte que seja colocado à disposição da população.
Mais segurança muitas vezes é sinônimo de mais policiais para a população. Mas como isso é dever do Estado, o que o município pode fazer para auxiliar no trabalho do efetivo que já existe? Há investimentos em tecnologia previstos em seu plano de governo?
Com muito orgulho, participei do Governo Sartori no Estado, e nós fizemos o maior concurso para a Brigada Militar. Nós concursamos profissionais para a Polícia Civil. Nós compramos equipamentos e veículos para a segurança no Estado, que certamente atendeu em muitos lugares. Estamos vendo em Caxias a questão da grande disputa pelas gangues, pelas facções, pelo tráfico, e nós queremos trabalhar nisso buscando a parceria do Estado. No Estado, já foi feito um trabalho muito forte que foi a Operação Pulso Firme, que foi usar a inteligência das polícias para retirar do território gaúcho, dos presídios, líderes do tráfico. Vamos conversar com o Governo do Estado e com o governo federal para que atuem fortemente em Caxias. A gente sabe que ,quando você aperta em uma cidade, essas pessoas do tráfico migram para outra cidade. Vamos trabalhar para buscar no governo estadual efetivos da BM, da Polícia Civil, fazer convênios, conversar com o Governo do Estado para atuar forte em Caxias no sentido de diminuir esses grupos que estão aí disputando o tráfico. Vamos também colocar câmeras de monitoramento na entrada da cidade, fazer a integração dessas informações para que possamos melhorar a segurança. Concordo que não é atribuição do município, mas é responsabilidade do prefeito buscar soluções com Governo do Estado e federal. E nós sabemos trilhar esses caminhos e certamente vamos fazer isso para que a população possa ter mais segurança e viver com mais tranquilidade, principalmente nos bairros.
O ex-governador José Ivo Sartori é seu principal cabo eleitoral. Como o senhor observa essa receptividade, a presença de Sartori na campanha é vista pelo senhor como um passaporte para chegar ao segundo turno? E a outra situação que envolve as imagens de apoio, que é a opção pelo vice, Elói Frizzo, que pouco aparece na sua campanha (no horário eleitoral). Gostaria que o senhor avaliasse as duas situações.
Meu vice, Elói Frizzo, é uma pessoa experiente. Foi seis anos vereador (Nota da Editoria: foi vereador em seis mandatos), ocupou diversos espaços na prefeitura e conhece muito. Não sou daquelas pessoas que discrimina quem tem experiência. O Elói nunca teve nada que o desabonasse e, como muitos que estão nos ouvindo, que são pessoas de idade, que têm experiência na sua atividade, eles têm muito para contribuir. E o Elói tem muito a contribuir porque conhece muito a prefeitura. Estou com muita tranquilidade, ele faz parte da minha chapa e tem participado comigo em todas as atividades. Ontem mesmo, eu e ele ficamos duas horas e meia no entroncamento da R$-122 (na verdade, da RSC-453) com a BR-116 fazendo campanha, e temos ido em todos os lugares. Ele, sim, aparece nas imagens do programa de televisão. Não tem problema nenhum, não estamos escondendo o Elói, pelo contrário, ele tem muito a ajudar Caxias do Sul. Quanto ao Sartori, primeiro, é meu amigo particular. Segundo, tenho muito orgulho de ter uma pessoa como o Sartori, com 44 anos de vida pública, sem uma mancha no seu currículo, que foi vereador, deputado estadual por cinco mandatos, deputado federal, secretário de Estado na época do (ex-governador Pedro) Simon, presidente da Assembleia, oito anos prefeito de Caxias, fazendo uma das melhores administrações de Caxias, cuidando do social, cuidando da infraestrutura, e depois governador, e conseguiu mostrar para a população que temos um Estado com muitas dificuldades financeiras, um Estado que está quebrado, que precisa fazer a virada. Modernizamos o Estado e tenho muito orgulho de o Sartori estar nos apoiando. Sem dúvida que o Sartori acrescenta muito na nossa campanha e eu gostaria que o Sartori sempre estivesse ao meu lado. A gente trilhou caminhos importantes em Caxias, no Governo do Estado, fazendo o que precisa ser feito, entregando serviços de qualidade.
Quais seriam as suas primeiras ações com relação ao caixa da prefeitura?
Essa é uma das linhas que sempre atuei, mesmo quando era prefeito em São José dos Ausentes, sempre cuidava do cofre, dos recursos. Aqui em Caxias fiz isso, e nós vamos adequar as finanças. Precisamos mostrar ao governo federal que Caxias é a segunda cidade do Estado do RS, uma cidade com mais de 500 mil habitantes, uma cidade que tem orçamento de R$ 2,3 bilhões, mas é uma cidade com muitos problemas sociais e que nós precisamos fazer com que os recursos do governo federal possam chegar até aqui. E vamos adequar a questão interna. Onde pudermos, vamos racionalizar, diminuir os custos, vamos fazer uma prefeitura digital para que possamos atender melhor nossos contribuintes, nossos empresários, para que a nossa base de contribuição possa cada vez mais ser ampliada e possamos ter recursos. Quando assumimos a prefeitura em 2005, a inadimplência do IPTU era 19,5%. Terminamos os oito anos de Governo Sartori com menos de 10%. Nós sabemos como trabalhar, como racionalizar os recursos públicos e como priorizar. Um governo precisa administrar com racionalidade dentro do seu orçamento, que é finito, recebendo uma demanda da população que é legítima e infinita. Cabe ao prefeito estabelecer prioridades atendendo a todos os setores, principalmente aqueles em que as pessoas mais necessitam do poder público.
O senhor tem destacado os caxienses de coração, caxienses de outras cidades que escolheram Caxias para viver. O senhor também tem falado sobre como decidiu trabalhar por Caxias. Por que não ser de Caxias tem sido uma preocupação de sua campanha?
Não tem sido preocupação. Pelo contrário. Eu gosto de dizer que Caxias é uma cidade que foi colonizada pelos italianos, uma cidade que soube trabalhar com a questão da indústria que dá muito orgulho para todos os caxienses. Nós somos o segundo polo metalmecânico do país, mas que essa indústria deu oportunidade que as pessoas de outras cidades viessem para cá construir sua vida, construir suas famílias, buscar emprego, dar estudo para os seus filhos. E hoje mais de 50% das pessoas que moram aqui vieram de fora. As pessoas que chegam aqui se sentem caxienses porque são recebidas com muito carinho e muito calor humano. Eu sou de São José dos Ausentes, mas me sinto caxiense. Foi aqui que escolhi conviver com a minha família. Tenho dois filhos, a Larissa e o Felipe, moro aqui com a minha esposa Danusa e vou ficar aqui a minha vida toda porque escolhi morar aqui apesar de ter meu parentes, minha mãe que mora em São José dos Ausentes. Caxias é uma cidade que é metrópole, mas é uma cidade que sabe acolher a todos. E todos que vieram para Caxias, tenho certeza que se consideram caxienses de coração. Eu me considero um caxiense de coração.
Ouça a entrevista: