Veranópolis, a chamada Terra da Longevidade, tem pela segunda vez na história um único candidato à prefeitura. É também a segunda vez que o atual prefeito Waldemar De Carli (MDB) disputa a reeleição sem opositor. Em 2008, o PDT, que era um dos partidos de oposição, decidiu apoiar De Carli. O apoio fez com que apenas ele disputasse o cargo. Em 2020, mais uma vez ele concorre sem opositor. Desta vez, os oposicionistas PP e PSD não chegaram a um acordo para lançar um nome.
A situação é a mesma de outros 32 municípios gaúchos. O curioso é que a cidade é a única entre as 32 que tem mais de 9 mil habitantes. São quase 26 mil, sendo que o município tem quase o dobro de eleitores das demais:17,5 mil. Outras quatro cidades da Serra terão chapa única a prefeito: Guabiju, com o candidato Diego Vendramin (PP); Protásio Alves, com Itamar Girardi (PP); São Valentim do Sul, com Geri Angelo Macagnan (MDB); e São José dos Ausentes, com Ernesto Valim Boeira (PSB).
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Veranopólis tem apenas um candidato a prefeito em 2020
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Nas ruas da área central de Veranópolis, a candidatura única é bem aceita. Os eleitores ouvidos foram enfáticos: é o melhor nome para a disputa. Alguns sentem falta do debate de ideias e uma eleitora que não quis se identificar critica o fato de não ter outra chapa. A insatisfação maior é por conta de um projeto de revitalização na Avenida Júlio de Castilhos. Com as obras, o passeio público será alargado, os canteiros, modificados, e o estacionamento será paralelo, o que reduz as vagas e desagrada parte dos comerciantes. Mesmo assim, a aceitação ao nome de De Carli parece natural a uma parcela dos veranenes.
DOIS MÉDICOS
O médico de 67 anos foi prefeito de 2005 a 2012 e de 2016 até agora. Também foi secretário de Saúde por seis anos. O candidato a vice-prefeito é Thomas Schiemann (PDT), que também é médico. De Carli analisa o cenário político:
— Acredito que a falta de concorrente é atribuída a múltiplos fatores. Entre eles, a pandemia, a boa aprovação da comunidade quanto à atual gestão e o fato de já ser prefeito e, assim, ter maior visibilidade.
A eleição já promete ser diferente devido aos riscos de contágio de coronavírus. Com as restrições, o contato com o eleitor é menor. Mesmo assim, De Carli e Schiemann, o candidato a vice, pretendem manter o cronograma de campanha praticamente igual, principalmente, em respeito ao eleitor:
— Vamos seguir o planejamento de campanha como se existisse adversário. Poderíamos ficar em casa, mas respeitamos o nosso eleitor. Será uma eleição adaptada às circunstâncias da pandemia. Quero deixar claro para nos policiarmos e não ficar na zona de conforto. A falta de adversários é ambígua. Deixa o ego inflado, e isso é perigoso, porque dá a sensação de que tudo está bem, e não está. Ainda temos muito a fazer e vamos continuar nosso trabalho. Fazendo uma analogia com o futebol, é o famoso salto alto que tem que ser evitado — compara De Carli.
Schiemann ressalta que tanto ele quanto De Carli não estão interessados em dinheiro ou poder:
— Fui vereador em dois mandatos atuando na Câmara mais enxuta da Serra, porque aqui nós, vereadores, recebemos um salário de R$ 2,9, e não temos nenhum assessor. Nos dedicamos às demandas da comunidade. O Waldemar teve três excelentes administrações e somos dois médicos reconhecidos em nossas áreas. Sou político, mas sou um cirurgião de câncer. Somos santos? Não, mas somos pessoas certas e honestas.
Ele ressalta ainda que a condução dos protocolos de saúde para enfrentar a pandemia de covid-19 deixou os veranenses tranquilos.
— Foi bem conduzida a questão da pandemia, sem misturar a política às questões sanitárias para que a população se sentisse segura e tranquila.
FALTOU CONSENSO NA OPOSIÇÃO
Juarte Fracasso (PP) e Moisés Pertile (PSD) haviam se lançado como pré-candidatos a prefeito, mas não confirmaram as candidaturas nas respectivas convenções. A oposição não se acertou na composição para a majoritária. Diante do impasse, optou por não lançar candidatura à prefeito.
O vice-presidente do PP, Claudinei Picolli, falou em nome da sigla:
— Na questão de não haver candidatura da oposição para a majoritária, passa uma falsa sensação de que a atual gestão está com alto índice de aprovação e que esse modelo de administração não possui problemas. Isso não é uma realidade, só não enxerga quem não quer.
Ele acrescenta que, democraticamente, não oportunizar ao eleitor uma nova proposta de gestão reflete negativamente dentro de qualquer quadro político.
— O Partido Progressista volta-se para o pleito proporcional para atuar de maneira fiscalizadora, construtiva e solidária com os eleitores que desaprovam a atual administração. Sem uma proposta nova, claro que frustramos parte da população — destaca Picolli.
Já Pertile explica que decisão de não concorrer foi motivada por inúmeros fatores, dentre eles a não concordância interna dos partidos da coligação e questões pessoais familiares:
— A existência de candidato único leva à continuidade da atual administração e traz à realidade as falhas do sistema político brasileiro, que não permite a criação de novos líderes, uma vez que beneficia a reeleição, como, por exemplo, Veranópolis que em 20 anos terá apenas dois nomes de prefeitos. Na busca pelo maior de número de cadeiras, o partido terá 13 candidatos a vereador.
Ele ressalta ainda que o PSD está construindo uma forma diferente de fazer política, como oposição ao atual governo, mas de forma construtiva.
— O debate deve permanecer somente no campo político e das ideias. O respeito às pessoas deve estar em primeiro lugar. O PSD irá continuar atuando de forma massiva para a comunidade de Veranópolis — finaliza.
A COLIGAÇÃO
A coligação é formada por MDB, PDT, PSB, PTB e DEM.
"Ele promoveu o progresso, desenvolvimento e estrutura da nossa cidade. Avalio que teria que ter uma chapa de oposição, a cidade merece que se tenha outras opções e outras ideias, mas também penso que outra candidatura não teria sucesso neste momento." Mara Lourdes Garib Guzzo, presidente do MDB
" A coligação é sólida e vencedora. Representamos as aspirações da ampla maioria dos eleitores do município. Nossos governos conquistaram os melhores índices de desenvolvimento. É um reconhecimento do trabalho realizado." Carlos Alberto Spanhol, ex-prefeito que integra a executiva municipal do PDT
"Veranópolis está no rumo certo em saúde, educação e infraestrutura, melhorando o trânsito e a acessibilidade sempre pensando no idoso, já que somos referência. A cidade está em ótimas mãos, porque Waldemar, por ser médico, conduziu este momento de pandemia muito bem, sempre transmitindo para a comunidade muita segurança." Alzir Secchi, presidente do PSB
"O nome do doutor Waldemar de Carli é muito forte em Veranópolis e na região. Ele está acima das siglas partidárias. Ele concorrer sozinho não é de graça. É fruto de muito trabalho, de muita competência e esmero à comunidade veranense." Lari José Marin, presidente do PTB
"A população aprova a administração do prefeito Waldemar, basta analisar os mandatos que ele exerceu e o fato de ser candidato único. Não é porque temos apenas uma candidatura que vamos trabalhar menos. Vamos seguir ouvindo as demandas da população." Clóvis Moraes Ribeiro, presidente do DEM
O QUE DIZEM OS ELEITORES
"Ser o único concorrente tem relação por ele ser médico. Ele conciliou e conduziu bem a gestão e a saúde. No começo da pandemia, ficamos assustados, e a atuação dele nos tranquilizou. O prefeito foi muito cobrado para ter um retorno eficiente no combate ao vírus." Marieli Rauber, 34 anos, gerente de loja
"Acho que ele faz uma boa administração. Não falta emprego." Luís da Cunha, 49, pedreiro
"Tem dificuldades como qualquer gestão, mas ele faz um bom trabalho. Os adversários não teriam chance nas urnas." Douglas Geralch, 31, autônomo
"Seria interessante ter outra chapa. Como não há concorrente, ele tem que continuar o que está fazendo, porque se preocupa com o povo e com a saúde e infraestrutura de Veranópolis." Tatiana Salvetti, 41, dona de casa
"Melhor prefeito que Veranópolis já teve. A cidade tem trabalho, médicos, postos de saúde e educação." Leonildes Sanches, 62, aposentada
"Ninguém quer se opor porque o nome dele é muito forte. Conta o fato de, além de prefeito, ele ser um excelente médico." Gisele Gasparin, 21, vendedora
"Não tem candidato melhor e nenhum à altura para enfrentar ele." Fábio José Brustolin, 64, taxista natural de Farroupilha, que mora há 25 anos na cidade
"A administração dele é eficiente e coerente. Ele também lidou bem com a pandemia, mas o debate de ideias é sempre válido." Diego Maciel, 33, ótico
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