Luiz Pizzetti não recusava qualquer oportunidade de se manifestar na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Inclusive, volta e meia, "Seu Pizzetti", como ficou conhecido, precisava ter o discurso abreviado pelo presidente do Legislativo devido ao seu ímpeto participativo. Aos 94 anos, era um fiscalizador ativo e incansável do poder público e dos parlamentares. Ainda assim, era querido por todos os vereadores e, acima de tudo, respeitado.
A cerimônia de despedida de seu Pizzetti, portanto, não poderia ser em outro lugar que não a casa legislativa, lugar que frequentou por mais de 50 anos e onde é velado, na tarde desta terça-feira. Pizzetti lutava há um longo tempo contra o câncer, que desde março havia lhe agravado o quadro de saúde. Ele morreu na terça-feira pela manhã, no hospital Virvi Ramos.
A ausência de seu Pizzetti nos últimos meses vinha sendo sentida por quem já estava acostumado com a presença dele, fosse na tribuna ou na plateia.
— Vínhamos notando que ele não aparecia mais no plenário. A gente perde um exemplo de cidadão que sempre buscou seus ideais em qualquer circunstância, foi lutador, guerreiro. Todos temos de nos espelhar nele — destaca o vereador Flavio Cassina (PTB), recém-eleito presidente do Legislativo.
Pizzetti integrou o movimento comunitário: foi presidente da Associação dos Moradores do Bairro (Amob) Madureira e um dos fundadores da União das Associações de Bairros (UAB) de Caxias. Também foi emblemático na luta contra a ditadura. Em 1954, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) - hoje Partido Popular Socialista (PPS) e chegou a exercer a função de vereador, como suplente, em 1964. Porém, acabou sendo cassado e preso durante o regime militar (cargo que lhe foi devolvido em ato simbólico em 2015). O episódio, no entanto, não inibiu o amor de Pizzetti à política. Mesmo quando dedicou sua vida a trabalhar como sapateiro, motorista, taxista e vendedor, Pizzetti continuou a participar ativamente das discussões da cidade.
— Era obstinado e ficava doente se não estivesse participando de movimentos comunitários, políticos ou sociais. Ele dedicou à comunidade — comenta a filha de Pizzetti, Cleia Luiza Pizzetti.
Segundo Cleia, acima de qualquer ideologia, Luiz Pizzetti era muito claro no propósito ao que buscava:
— Sempre visou igualdade de valores entre todos, dando preferência aos mais humildes. Transmitia valores éticos que já não existem mais, o respeito pelas pessoas e a neutralidade dos partidos políticos. Valorizava as pessoas, tinha amor incondicional por elas.
Legado e exemplo
A mesma valorização que buscava para comunidade, Luiz Pizzetti dedicava à família.
— Apesar da luta, nos momentos que tinha em casa, ele aproveitava para ficar com a gente. Era uma pessoa muito humana, que sempre procurou fazer o bem, muito alegre, muito festivo. Morreu no Natal, numa data que só pode ter sido escolhida a dedo por Deus — comenta a neta Melissa Pizzetti.
Gostava de fazer churrasco nos finais de semana para os netos e também de ir à praia. Onde quer que estivesse, ainda assim, buscava reiterar sua busca por ideais sociais.
— Vivia lendo e gostava de compartilhar ensinamentos, principalmente às crianças. Sempre dizia para pais de qualquer criança que encontrasse para que cuidassem bem dos filhos pois eles representam o futuro do Brasil— comenta a filha Cleia.
A própria conduta de Luiz Pizzetti é inspiradora para a família. Emocionada, Cleia conta que a ausência do pai deixa saudade, mas, sobretudo, um legado de luta e bondade:
— Foi um exemplo de pai, amigo e libertário. Ele sempre defendia a libertação das mulheres. Eu nunca me casei porque nunca encontrei modelo do meu pai em homem nenhum. Foi um defensor das mulheres, crianças e dos mais necessitados. Um modelo de vida.
Luiz Pizzetti deixa a mulher Hyeda, três filhos. Aquiles (já falecido), Cleia e Felipe, além de cinco netos e três bisnetos.