A decisão do PMDB em manter aliança com o PDT para a prefeitura de Caxias do Sul ainda gera desconforto na cúpula peemedebista. O racha exposto antes da eleição com o pedido de licença do presidente Ari Dallegrave ainda é difícil de desfazer.
Na segunda-feira, o presidente interino, José Luiz Zechin, convocou uma reunião para deliberar sobre assuntos “políticos e administrativos” com a Executiva e os vereadores eleitos. Na pauta, foi discutido sobre o retorno de Dallegrave e os pedidos de expulsões da ex-secretária de Saúde de José Ivo Sartori e integrante do diretório, Maria do Rosário Antoniazzi, que fez campanha para Daniel Guerra (PRB), e de Pedro da Silva, integrante do Movimento Comunitário do PMDB, que apoiou a candidatura para vereador de Edio Elói Frizzo (PSB). Os dois casos serão analisados pela Comissão de Ética e Disciplina Partidária.
Segundo as lideranças do PMDB, o futuro do partido passa pela saída de Ari Dallegrave e pela formatação de uma nova Executiva antes de iniciar-se a discussão de candidatura própria para 2020. Zechin, que defendeu apoio ao PDT de Edson Néspolo com o argumento que o partido não havia construído uma candidatura própria, mudou de posição após a eleição.
– Vou defender que o PMDB tenha candidatura própria. Hoje somos a maior bancada na Câmara. O partido cresceu.
Segundo o líder da bancada, vereador Adelino Teles, o PMDB cumpriu o acordo assumido de apoiar o PDT durante oito anos. Adelino escancara a ferida aberta e afirma que deixará a Executiva se Dallegrave retornar ao cargo no final do mês.
– Tenho divergências muito grandes com ele e não gostaria nem de falar o nome desse cidadão. Eu me retiro da Executiva se ele voltar. Não só eu como alguns outros – disse.
Para Dallegrave, o partido necessita passar por uma reestruturação, ouvir a sociedade e preparar-se para “estar na linha de frente” na eleição de 2020.
– O partido precisa se reciclar, fazer uma oposição responsável (ao governo Guerra) e se organizar para as próximas eleições.
Dallegrave tratou de minimizar a manifestação de Adelino.
– Talvez seja uma autocrítica do comportamento que ele teve quando defendeu a candidatura própria (do PMDB) e depois passou para o outro lado (na defesa do apoio ao PDT). Não vejo isso como grande problema. O momento é de reunificar o partido e trabalhar.
O Pioneiro tentou contato com o deputado federal Mauro Pereira, mas ele não retornou à ligação até o fechamento da edição. O vice-prefeito Antonio Feldmann disse que só se manifesta sobre a situação do partido após avaliação do diretório.
ENTREVISTA: JOSÉ LUIZ ZECHIN, PRESIDENTE DO PMDB CAXIAS DO SUL
'Vamos defender que o partido tenha candidatura própria'
Pioneiro: Quais assuntos foram tratados na reunião de segunda?
José Luiz Zechin: A gente fez uma reunião de avaliação da Executiva e dos vereadores eleitos. Mais uma vez, ressaltamos que o PMDB saiu fortalecido do processo eleitoral. Todos colocaram as suas opiniões e as decisões do partido foram tomadas de uma forma clara, transparente e democrática, sempre no voto. Não vejo que a derrota na majoritária foi um mau caminho. A derrota foi circunstancial.
O PMDB foi dividido para o pleito?
Não concordo. Dividido em termos. Houve uma divisão que a gente expressou na época das votações, mas, após feito o consenso, saímos abraçados, tanto é verdade que elegemos quatro vereadores. O PMDB demonstrou sua força, unidade, humildade, muito empenho e logramos um grande êxito.
Mas houve dissidências?
Evidente que houve dissidências. Recebi hoje (segunda-feira) duas postulações (pedidos de expulsões) a respeito de dois companheiros nossos que não vou divulgar os nomes. Vou encaminhar ao órgão competente interno para que analise. O PMDB irá tomar uma decisão. Vamos analisar bem os excessos (cometidos), especialmente, por pessoas que participaram do processo de votação (interna). Vamos acatar o resultado.
O partido vai começar a discutir sobre candidatura própria para 2020?
Vou defender que o PMDB tenha candidatura própria. Temos quadros e trabalho. Hoje somos a maior bancada na Câmara. O partido cresceu.
O senhor pretende dar o início a essa construção?
Não me cabe. Estou na condição de interino e o Ari Dallegrave, que é o presidente, está de licença até o dia 28. A gente não sabe como vai proceder. No ano que vem, haverá eleições internas e o diretório que será formatado vai comandar o processo.
A população cansou da coligação de 21 partidos?
Causou uma estranheza porque são muitos partidos. A grande maioria estava agrupada desde o primeiro ano do governo Sartori. O Daniel Guerra desconstituiu e parece que os partidos têm lepra. Está na Constituição, o povo brasileiro se organiza politicamente através dos partidos e eles representam um segmento da sociedade. O PMDB entrou (na coligação) no final por conta do processo interno. Quando chegamos, já havia muitos acordos feitos e não tínhamos como desfazer.
Qual é o futuro do PMDB caxiense?
Temos uma bancada que vai ter uma oposição forte, mas não vai ser oposição irresponsável. Vai ser uma oposição firme, e o que for bom para a população de Caxias, o PMDB não faltará.
O deputado federal Mauro Pereira declarou apoio ao prefeito eleito Daniel Guerra. Qual sua opinião?
O Mauro Pereira tem um mandato legítimo, popular e tem todo o direito de externar a sua opinião. A opinião é pessoal, mas não é posição do partido. A gente respeita a opinião do deputado, mas não vou comentar.
O senhor tem recebido apoio da Executiva para continuar na presidência do partido. Qual a sua vontade?
Não gostaria de permanecer na presidência. Aceitei ser vice a pedido do Ari Dallegrave. Tenho uma relação de amizade com o Ari há muito tempo, embora, pelos últimos acontecimentos, ficamos mais isolados. Ele se licenciou e tem que partir dele uma iniciativa. Não sei se o Ari pretende voltar, é uma decisão pessoal. Não gostaria, mas se tivesse que ficar mais um tempinho, se for para que o PMDB tenha a sua continuidade, não me importaria. Mas não é o meu desejo. Vamos esperar o pronunciamento do Ari.
Depois da eleição
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André Tajes
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