![Jonas Ramos / Especial Jonas Ramos / Especial](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/16925150.jpg?w=700)
Nem a boa qualidade das uvas produzidas no Rio Grande do Sul, principalmente na Serra, e que originam vinhos, sucos e espumantes de valor reconhecido em todo o mundo, é suficiente para alavancar a venda dos produtos nacionais.
Isso porque os vinhos finos importados dominam o nosso mercado e representam, em média, 80% das vendas nas prateleiras brasileiras. Apenas no primeiro semestre deste ano, conforme o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a importação de vinhos cresceu 14,11% em relação ao mesmo período do ano passado. No total, ingressaram no país 35,6 milhões de litros de rótulos estrangeiros.
A força dos importados no país, conforme o diretor-executivo do Ibravin, Carlos Paviani, é reflexo de uma série de fatores, principalmente a isenção de impostos de importação para produtos oriundos do Chile e países do Mercosul, os principais fornecedores.
Mesmo sem um cálculo exato, essa dispensa do tributo representa, no preço de um vinho intermediário argentino ou chileno, por exemplo, uma vantagem de aproximadamente 20% sobre o valor do equivalente nacional, estima Paviani. Ou seja, o produto importado já chega mais barato às nossas prateleiras. A produção em larga escala - o Chile produz por ano em torno de 800 milhões de litros de vinho, contra 40 milhões do Brasil - contribui também para uma redução ainda menor no preço do produto. Aliado ao preço atrativo, ainda há a imagem forte na cabeça do brasileiro de que tudo o que é importado é melhor.
- Hoje, é mais barato abrir uma importadora e trazer o vinho lá de fora do que produzir aqui dentro - compara Paviani.
A presença tão ostensiva dos vinhos estrangeiros impede que a própria cadeia produtiva cresça.
De acordo com Paviani, existe estrutura para produzir mais, mas é preciso abrir mais espaço aos produtos brasileiros. Um patamar aceitável, conforme ele, seria as vinícolas brasileiras atenderem em torno de 35% do mercado.
- Não há problema em conviver com os importados, desde que sejam produtos de qualidade - argumenta.
É mais fácil trazer de fora do que produzir
Mas o que faz com que seja tão difícil produzir vinhos no Brasil, especialmente na Serra? O diretor-executivo do Ibravin, Carlos Paviani, lista desde questões envolvendo logística, cobrança de impostos e até o monopólio na oferta de vasilhames:
- A indústria vinícola está localizada principalmente na região Sul e cerca de 50% do mercado está na região Sudeste. Hoje, é mais barato trazer uma carga do Chile até São Paulo de navio do que mandar um caminhão da Serra para lá.
Outra questão burocrática que entrava a produção é o fato das micro e pequenas vinícolas não poderem trabalhar no sistema simplificado de impostos, o Simples Nacional. Os tributos, aliás, representam pesada carga no preço dos vinhos nacionais. Conforme Paviani, entre 40% e 52% do valor do produto é de tributos, dependendo do Estado. O dirigente revela que o setor vem batalhando para tentar reduzir impostos sobre insumos como rolhas, garrafas e caixas, na tentativa de baratear os custos de produção. O assunto, no entanto, não teve avanços nos últimos meses.
Também pesam na conta dos vitivinicultores a compra de garrafas para vinho, suco e espumantes. Os principais fornecedores são duas empresas multinacionais, que estão focadas no mercado cervejeiro.
- Não temos nem como competir com eles: o consumo de cerveja per capita no Brasil é de 40 litros/ano, o de vinho, dois litros. É lógico que nossos pedidos não têm preferência - destaca Paviani, acrescentando que o monopólio e a dificuldade de fazer encomendas a qualquer época impossibilitam maior variedade e melhoria de preço.