
O interior de Caxias do Sul tem aproximadamente 3,5 mil produtores rurais, que fazem do município o maior polo de hortifrutigranjeiros do Estado. Mas a pujança da agricultura serrana não tem contrapartida à altura dos serviços de telefonia oferecidos pelas operadoras Oi, Vivo, Claro e TIM.
Nos distritos de Criúva, Fazenda Souza, Santa Lúcia do Piaí, Vila Cristina e Vila Seca, além de comunidades como 3ª Légua e Forqueta, o sinal de celular é precário e o acesso à internet, quase inexistente.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto, além da dificuldade de comunicação via telefone, incluindo linhas fixas, que chegam a ficar até três meses sem funcionar, os agricultores terão uma dor de cabeça para resolver em breve: a emissão da nota fiscal eletrônica. Atualmente, o documento é obrigatório a produtores que vendem para fora do Estado, em valores acima de
R$ 10 mil. No entanto, alerta Menegotto, a partir de janeiro, a nota passará a ser obrigatória para vendas fora do Rio Grande do Sul com qualquer valor.
- Aqueles que não tiverem como emitir na propriedade, terão de procurar um ponto onde há sinal de internet para providenciar a nota. Isso deve causar grande transtorno - prevê o sindicalista, acrescentando que os maiores prejudicados devem ser os produtores de frutas e alho.
Menegotto calcula que em torno de 30% dos produtores tenham acesso à internet na propriedade. O presidente do sindicato acrescenta que, apesar do anúncio de providências por algumas operadoras, como a instalação de mais antenas, a situação é semelhante à de 2013, quando foi feito levantamento dos pontos críticos com telefonia celular no município. Na época, o Procon de Caxias acumulava mais de 200 reclamações envolvendo o serviço móvel.
Neste ano, o serviço de defesa do consumidor tinha cadastradas 579 queixas até o dia 18 de setembro. Conforme o coordenador do Procon, Dagoberto Machado dos Santos, as reclamações referem-se principalmente a cobranças indevidas e baixa qualidade do serviço.
A telefonia móvel, no entanto, afirma Santos, vem perdendo para as denúncias de problemas sobre telefonia fixa, principalmente no interior.
Telefone móvel que virou fixo
A empresária Santina Dalico, 58 anos, tem uma pequena pousada na localidade de São Jorge da Mulada, no distrito de Criúva, em Caxias do Sul, há 12 anos. Distante cerca de 12 quilômetros da sede do distrito, o estabelecimento não tem telefone fixo. Para receber ligações dos clientes e fazer contatos, Tina, como é conhecida, só pode contar com o celular.
E é aí que começam os problemas. Como o aparelho não funciona direito porque o sinal é fraco, ela diz que já cansou de perder clientes, que desistiam de tanto ligar por não conseguirem contato.
- E quando eles ficam sabendo que aqui não pega celular e não tem internet, desistem na hora - lamenta.
Na tentativa de amenizar o problema e não precisar mais sair pela propriedade em busca de um lugar com sinal, Tina instalou uma antena. Agora, o celular até recebe chamadas, mas apenas se ficar dentro da sala.
- Se eu for lá na pousada, não posso levar, senão ele não pega. Se precisar me afastar, na volta tenho de ver quem ligou e retornar a ligação. Nessa manobra, a conta do telefone ia nas alturas. Cheguei a pagar mais de R$ 400 por mês. Agora, decidi optar pelo cartão pré-pago - revela.
Mesmo com a antena, Tina conta que, quando o tempo fica muito úmido ou chuvoso, o sinal e a chance de conseguir falar pelo celular vão embora. Internet, então, ainda é coisa distante para ela. Acessar a web só de Caxias do Sul, onde os filhos e a mãe dela moram.
- Eles até poderiam morar aqui no sítio, mas não há condições de comunicação para que possam trabalhar. Então, lá em Caxias, eles também ajudam com os contatos da pousada e na administração do site - destaca Tina.
O problema de comunicação rural é o quinto tema da série Eu Prometo, em que os candidatos ao governo do Estado respondem quais soluções teriam, caso eleitos (leia ao lado). A série é publicada diariamente com diferentes assuntos até 3 de outubro, antevéspera da eleição.