A tentativa de assalto a uma loja que revende armas em Farroupilha, na manhã dessa quarta-feira (17), teve uma rápida resposta do 36º Batalhão de Polícia Militar (36º BPM) que tem quartel a cerca de uma quadra do estabelecimento. Ao todo, foram três momentos em que houve troca de tiros entre o grupo e os policiais militares, o primeiro deles em frente à loja, como mostram as imagens de câmera de monitoramento.
Um morador, de 60 anos, estava em casa, quando ouviu os disparos. Ele conta que a filha de 24 anos quase foi levada pelos assaltantes, durante a ação.
— Eu comecei a escutar os gritos e tiros, muitos tiros, daí, vim na sacada olhar. Não me dei conta do que estava acontecendo. Vi minha garagem aberta com a caminhonete meio para fora e desci correndo as escadas, de pés descalços... na rua estava um tiroteio e sangue na caminhonete. Fiquei em choque. Minha mulher está no hospital, em choque. Eles (assaltantes) tentaram levar minha filha como refém, mas graças a Deus deu tudo certo — relatou o homem que mora há 38 anos no bairro e nunca teve notícia de nenhum assalto.
O morador relata que viu o momento em que o policial foi baleado e socorrido rapidamente bem perto da casa dele. Ele se disse impressionado com a rápida resposta da BM e a quantidade de viaturas na cidade.
A jovem de 24 anos relata que os assaltantes estavam vestidos como policiais civis e federais. Eles queriam levar a caminhonete com ela e a mãe dentro.
— Estava saindo com a caminhonete, um (homem) me abordou com a arma, abriu a minha porta e disse: "estou numa operação da polícia, está tudo certo." Mas, eu achei estranha a abordagem. Ele começou a me revistar. Estava bem nervoso. Abriu o porta-luvas para ver se tinha arma. Veio outro cara pelo outro lado da caminhonete para pegar a minha mãe. Ela entrou na caminhonete. Aí, vi um cara com uma arma enorme e ele estava encapuzado. Daí, pensei: "é assalto". Minha mãe saiu e disse: "vocês não são da polícia." Começou a chamar socorro. O cara agarrou ela por trás para parar de gritar e jogou ela no chão — conta a jovem.
Os criminosos mandaram que ela saísse com o veículo da garagem, mas, atordoada ela não conseguiu. Então, um dos bandidos mandou que ela passasse para o banco de trás. Dois entraram nos bancos da frente e um ficou com a mãe dela no lado de fora. Contudo, não conseguiram dirigir a caminhonete.
— Vi que a minha mãe não queria entrar na caminhonete e ele arrastou ela para trás. Nisso ouvi tiros e me abaixei atrás do banco do carona. Minha mãe começou a gritar e os tiros se afastaram. Saí e corri — relata ela.
Foi nesse momento que a BM chegou ao local, houve a primeira troca de tiros e os assaltantes fugiram.
A mãe da jovem, de 63 anos, precisou ser atendida por causa do choque. Ela foi puxada pelos cabelos e arrastada, mas não teve ferimentos físicos graves.
A dona da loja que os bandidos tentaram assaltar disse que passava um pouco de 9h, quando avistou o carro chegando pelas câmeras de monitoramento, com homens descendo com uniformes da polícia e desconfiou:
— Vimos que era um assalto e, na hora, já chamei a polícia. Temos esse contato direto com eles. Ficamos dentro da loja. Ele (assaltante) tentou abrir a grade e não conseguiu. As vizinhas estavam saindo e pegaram elas de refém. Um voltou, tentou abrir de novo a loja e não conseguiu. Aí, já veio a polícia e começou o tiroteio.
A empresária referiu que estava sabendo sobre o assalto recente em loja semelhante em Taquara, por isso, estavam atentos.
O tenente-coronel Márcio Uberti Moreira, comandante do 36º BPM avaliou a ação dos assaltantes e a resposta dos policiais:
— Eles subestimaram ou desconhecem a realidade do município. Não sabem como o Comando Regional atua. Escolheram um lugar quase do lado do quartel, onde, por óbvio a resposta seria rápida. Como estavam com rádio em escuta na frequência da Brigada, acharam que daria tempo de monitorar. Só que eles não conseguiram entrar na loja. Ficaram expostos. Quando recebemos a ligação via 190, de imediato acionamos duas viaturas, que não estavam ocupadas no momento e estavam próximas. Foi muito rápido o tempo de resposta.
Ele comenta que ao avistar a viatura chegando, três homens fugiram em um Citroën, utilizado na ação, e um fugiu a pé. Ele estava armado com uma espingarda calibre 12 e atirou contra os PMs. Nesse momento, um soldado foi atingido de raspão na cabeça. Ele foi levado para Porto Alegre. Não corre risco de morte, mas inspira cuidados porque teve ferimentos na face.
— Um foi pego na rodoviária. Ele se entregou sem confronto. Outro, pego perto do Parque dos Pinheiros, também sem confronto. E o último, dentro de uma residência, entrou em confronto com o 4ºBPChoque de Caxias e veio a óbito — contou o comandante, referindo que tiveram apoio rápido do 12º Batalhão de Polícia Militar e do 4º Batalhão de Choque, ambos de Caxias do Sul.
A ação contou com apoio do Grupo Rodoviário da BM, Bombeiros Militares e Polícia Civil. O uso de um helicóptero chegou a ser cogitado, mas o céu encoberto não permitiu.
Segundo o delegado da Polícia Civil, Ederson Bilhan, foram apreendidas a espingarda e um revólver 38. Em um dos carros utilizados pelo grupo foram encontrados miguelitos (espécie de pregos retorcidos usados para furar pneus de viaturas, quando em fuga), uma sirene semelhante a da polícia e outros objetos comuns nesta prática.
— Ao que tudo indica são criminosos vindos da Região Metropolitana. Falta apurar todas as identidades, mas um deles se sabe que é originário do Vale Sinos. O objetivo era efetuar o roubo de armas. Vamos apurar as circunstâncias, mas os dois presos serão autuados por tentativa de homicídio contra os policiais, tentativa de roubo e uma tentativa de cárcere privado, porque tentaram colocar duas vítimas em um veículo — aponta o delegado.
Durante a tarde, a Polícia Civil identificou os suspeitos, mas sem divulgar seus nomes. Um dos presos tem 25 anos e é morador de Porto Alegre, conforme o último registro policial. O outro detido tem 35 anos e é natural de São Leopoldo.
Um dos mortos foi identificado, tem 42 anos e também é de São Leopoldo. O outro morto ainda não foi identificado oficialmente.
Segundo a Polícia Civil, os três identificados possuíam antecedentes criminais, sendo a maioria por crimes de roubo.