O autor confesso da morte de Daniele dos Santos Camargo, 23 anos, em Serafina Corrêa, foi indiciado pela Polícia Civil pelo assassinato com três qualificadoras (feminicídio, motivo torpe e asfixia) e ocultação de cadáver. O inquérito foi encaminhado à Justiça nesta terça-feira (14). O nome dele não é divulgado pela polícia.
O delegado Tiago Albuquerque, que conduziu o caso, aguardava a chegada do laudo na necropsia para concluir o inquérito, o que ocorreu na última segunda. O laudo comprovou o assassinato por asfixia, inclusive com fratura de osso do pescoço, o que condiz com estrangulamento. Contudo, não foi possível constatar outras lesões devido ao estado do corpo, que foi localizado 22 dias depois do crime. Esse era um ponto a ser esclarecido, já que havia certa quantidade de sangue no porta-malas do carro do homem, o que, segundo a polícia, seria incompatível com a forma utilizada para matar a vítima.
— Ela pode ter sido agredida? Pode. Mas a perícia não conseguiu atestar isso. A decomposição dificulta, porque as lesões superficiais ficam difíceis de ser detectadas — pondera Albuquerque.
Daniele foi morta pelo ex-companheiro, de 40 anos, na manhã do dia 4 de agosto. Ele a esperava no trajeto que ela costumava fazer do trabalho para a casa. Daniele embarcou no carro dele. De acordo com um segundo depoimento em que ele confessa a autoria, eles seguiram até o Morro do Cristo, ponto turístico da cidade. Teriam discutido e ele teria usado um fio de luz de uma extensão que tinha no carro para asfixiá-la e a teria colocado no porta-malas. O delegado também disse que não foi possível confirmar se houve ou não premeditação:
— Não tenho como afirmar que ele saiu de casa pela manhã para matar ela. Até porque, pelo que apuramos, nos últimos dias, eles vinham se falando. Ela entrou espontaneamente no carro (do ex-companheiro).
A investigação apontou que, após matar Daniele e com o corpo dela no carro, o autor confesso esteve na casa de outra ex-mulher dele. A polícia acredita que, neste momento, ele possa ter pegado alguma ferramenta para abrir a cova onde a enterrou. Mas, não há prova que corrobore com a tese. Ele diz ter usado um pedaço de pau encontrado na mata onde ele a enterrou, no interior de Nova Araçá, para abrir o buraco.
A Justiça decretou a prisão preventiva do autor confesso no último dia 2 de setembro. Ele havia sido preso temporariamente no dia 6 de agosto. Desde então, permanece na Penitenciária Estadual de Caxias do Sul.
Os advogados Vinicius Octávio Reis e Giovana dos Reis, que representam o homem, disseram que não tiveram acesso ao conteúdo do indiciamento, portanto, não podem se manifestar.
Entenda o caso
Daniele trabalhava no período noturno em uma indústria alimentícia. Após terminar o expediente, no dia 4 de agosto, a jovem foi a uma academia e depois encontrou uma amiga em uma padaria. Ela deixou o local pouco depois das 7h30min e caminhou em direção da casa onde morava com os pais e a irmã. Ela nunca chegou na moradia da família.
Imagens de câmeras de monitoramento mostram Daniele embarcando, de forma espontânea, no carro do ex-companheiro. Segundo a Polícia Civil, o homem de 40 anos esperou por cerca de 40 minutos até a chegada da jovem. Na sequência, o carro foi flagrado por outras câmeras indo e voltando da localidade de Morro do Cristo, no interior de Serafina Corrêa.
Inicialmente, o homem negou ter encontrado Daniele no dia do desaparecimento. Confrontado com as imagens, ele mudou a versão e admitiu uma conversa. Alegou ter deixado a jovem próximo de sua residência, mas os investigadores não encontraram uma imagem que pudesse confirmar essa versão. O ex-companheiro foi preso temporariamente na noite do dia 6 de agosto.
As buscas, com apoio de bombeiros e voluntários, se concentraram na localidade de Monte Cristo, mas aos poucos foram sendo ampliadas enquanto os policiais conseguiam novas provas. A Polícia Civil conseguiu imagens do veículo do suspeito em direção aos municípios de Nova Bassano e Nova Araçá. Por isso, buscas começaram a ser feitas com apoio de barcos no Rio Carreiro.
Segundo a Polícia Civil, Daniele e o investigado tiveram um relacionamento por mais de um ano. Eles chegaram a morar juntos por um período. Segundo o delegado Tiago Alburquerque, a família fala em dois meses do rompimento antes do desaparecimento. Posteriormente, o homem enviou mensagens para ex-companheira numa tentativa de retomar o relacionamento, segundo apurou a investigação.
Após o Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmar que o sangue encontrado no porta-malas do carro do ex-companheiro era compatível com o de um filho ou filha do pai de Daniele, pessoa da qual foram coletadas amostras para o exame, o investigado admitiu a autoria e informou a localização do corpo, em 26 de agosto. Daniele foi encontrada enterrada em uma área de mata no interior de Nova Araçá.