Bento Gonçalves não registrou assassinatos no mês de novembro, conforme dados apresentados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) nesta quarta-feira (9). É a segunda vez em 2020 que o município de 120 mil habitantes tem esta estatística zerada — janeiro também não teve homicídios. No total, a Capital do Vinho contabiliza 22 homicídios do ano, uma redução de 57% na comparação de janeiro a novembro de 2019. A tendência é que este seja o primeiro ano de queda nos homicídios desde 2013 na cidade da Serra.
No início da década, Bento Gonçalves registrava uma média de 16 homicídios por ano. Os crimes contra a vida cresceram a partir de 2013, até alcançarem a marca de 52 assassinatos em 2018 — número de mortes que se repetiria no ano seguinte. O aumento dos crimes contra a vida colocou a Capital do Vinho na posição de cidade mais violenta do interior do Rio Grande do Sul.
O aumento da violência era explicado, pelas forças policiais, em razão das disputas entre organizações criminosas pelo controle da venda de drogas: uma facção com base na Zona Leste de Porto Alegre tentou invadir a cidade e os traficante locais se uniram para evitar. Foi este conflito, por exemplo, que motivou uma chacina com cinco mortos em um bar do bairro Municipal.
— Iniciamos um trabalho, ainda em agosto do ano passado, quando houve um ápice dos homicídios. Focamos em inteligência e na integração com a Polícia Civil, PRF e Susepe. O trabalho se tornou mais cirúrgico. Também é preciso destacar o novo presídio (inaugurado em outubro de 2019), que ajudou muito (contra o crime organizado) na região — destaca o tenente-coronel Paulo Cesar de Carvalho, comandante do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (3º BPAT).
Esta mobilização policial resultou em um período de 45 dias de calmaria entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020 — o maior período sem assassinatos na Capital do Vinho nos últimos três anos. Outro ponto positivo foi que, em julho, Bento Gonçalves foi incluída no programa RS Seguro, estratégia estadual que foca as 23 cidades mais violentas para operações e destinação de recursos.
— Em 2019, iniciamos um trabalho importante de investigação contra as facções. A redução dos homicídios continua em razão deste trabalho conjunto, com trocas de informações muito grande com a Brigada Militar, e um cerco muito forte ao tráfico de drogas. O novo presídio, com uma outra disciplina, rompeu aquela comunicação deles (com comparsas soltos), que estava muito fácil — avalia o delegado regional Paulo Roberto Rosa da Silva.
Este trabalho focado em conter as facções na cidade contou com o apoio da prefeitura, Guarda Civil (que completou um ano de atuação em agosto), o Ministério Público e Poder Judiciário. As reuniões mensais discutem vulnerabilidades sociais e formas de conter o crime organizado.
— O destaque é a integração das forças policiais, mas também é preciso entender o papel de outros órgãos. Foram dois anos de números muito altos e estava claro que o motivo era a disputa destas facções que desejam o predomínio sobre o tráfico de drogas. Alguns líderes foram transferidos de casa prisionais e saíram sentenças que mantém presos algumas destas pessoas que são contumazes nestes crimes. Este é o resultado deste foco conjunto — opina o secretário municipal de Segurança Pública e capitão da Brigada Militar Diego Caetano.
O principal foco policial estava em reduzir o elevado número de homicídios, mas também teve efeito em outros indicadores criminais. O principal deles é o roubo de veículo, que também não teve registros em novembro deste ano (o terceiro mês de 2020 sem este tipo de assalto) e apenas 21 registros no ano. Já os roubos a pedestre tiveram queda de 56,76%: eram 111 crime até novembro de 2019 e foram apenas 48 no mesmo período deste ano.
— São mais de 14 mil abordagens, entre carros e pessoas, feitas neste ano. Temos que entender que o crime anda sobre rodas. Precisamos abordar e verificar pessoas. Quem não deve nada, logo será liberado e irá para sua casa. Estas barreiras são a presença de policiais nas ruas. As pessoas de bem têm que se sentir seguras quando são abordadas — afirma o tenente-coronel Carvalho.
Assassinatos por ano em Bento Gonçalves
2011: 16
2012: 16
2013: 15
2014: 20
2015: 21
2016: 28
2017: 34
2018: 52
2019: 52
2020: 24