Os números do governo estadual apontaram que Caxias do Sul teve a maior alta de assassinatos em abril. Segundo os dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), foram de seis mortes no mês em 2019 para 12 neste ano. Os dados do Contador da Violência, ferramenta abastecida pela reportagem do Pioneiro com base em informações oficiais, são ainda maiores: foram sete homicídios no ano passado e 14 em 2020.
Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (14) pelo vice-governador e secretário estadual da Segurança, Ranolfo Vieira Junior. Em todo o Rio Grande do Sul, abril terminou com 158 vítimas, seis a mais do que as 152 do mesmo período do ano passado. O vice-governador acredita que os conflitos após a soltura de lideranças criminosas, devido à recomendação Conselho Nacional de Justiça como forma de prevenir a propagação do coronavírus no sistema prisional, têm relação direta com o crescimento de assassinatos em território gaúcho.
Do total de mortes violentas registradas, 22 foram de detentos que tiveram liberdade concedida pelo Judiciário acabaram virando vítimas de homicídio. Isso representa 13,9% dos assassinatos no Estado em abril. No mesmo período de 2019, foram oito assassinatos de presos que tiveram liberdade concedida.
Dados da SSP mostram que nos meses de março e abril, 11.677 detentos foram beneficiados com concessões de liberdade. No ano passado, foram 6.966 presos beneficiados em igual período.
— Não tenho dúvida que isso, mais o enxugamento do mercado do tráfico, acabou impactando neste indicador. Não vou fazer discussão se o Judiciário deveria soltar ou não. Estou trazendo um dado objetivo — frisa Ranolfo.
Somados os homicídios e um feminicídio, as 15 mortes de abril em Caxias do Sul foram o maior número de assassinatos em um mês desde julho de 2018, quando foram 21. As solturas também foram um fator apontado pelo coordenador da Delegacia de Homicídios, delegado Adriano Linhares, para o aumento da violência na cidade:
— Ao menos sete desses homicídios estão relacionados a conflitos envolvendo presidiários — aponta o delegado.
Outro fator determinante para o aumento das execuções foi a turbulência entre facções. O primeiro sinal aconteceu no final de março, quando um vídeo gravado com celular pelos próprios detentos mostrou uma briga dentro da Penitenciária Estadual na localidade do Apanhador.
— Este pico (de homicídio) foi pontual em abril e o principal fator foram brigas e rixas em organizações criminosas. São disputas de poder e troca de lideranças, e o reflexo foi visto nas ruas. Este atrito das organizações criminosas teve origem lá no sistema carcerário — destaca o tenente-coronel Ribas, ressaltando que em maio a cidade só contabiliza um homicídio.
Feminicídios aumentam 66% no Rio Grande do Sul
O que já era uma preocupação entre a cúpula da Segurança do Estado, o aumento de feminicídios durante o distanciamento social, acabou se confirmando em abril. Foram 10 mulheres assassinadas por questões de gênero no período, contra seis no mesmo período de 2019, o que representa acréscimo de 66,7%.
Embora a alta ocorra em meio à pandemia, Ranolfo acredita que isso não tenha sido o grande motivador dos crimes, uma vez que os meses de janeiro e fevereiro já vinham registrando aumento considerável de mortes de mulheres no Rio Grande do Sul, seguidos por estabilização em março. Em janeiro de 2020, foram 10 mulheres assassinadas contra três no primeiro mês de 2019. Já em fevereiro foram cinco mortes, contra uma no segundo mês do ano passado.
— Já vínhamos tendo crescimento considerável. Seguimos buscando explicação. Temos feito inúmeras ações, buscando autoria, representando pela prisão e recolhendo para o sistema prisional.
Dados do setor de inteligência da Polícia Civil apontam que nenhuma das dez vítimas do mês de abril tinha registro de ocorrência ou medida protetiva contra o agressor. O vice-governador reforça a necessidade de conscientização quanto à denúncia de violência doméstica:
— Fazer o registro da ocorrência é fundamental. Além da mulher, parentes, amigos, vizinhos precisam trazer isso ao conhecimento das autoridades. Se o Estado não tem conhecimento dessa agressão, fica muito difícil agir. É muito difícil imaginar, embora não seja impossível, que na primeira agressão o companheiro já vá cometer o feminicídio. Isso é algo que acontece ao longo do tempo. Vem numa linha ascendente. A conscientização do agressor também é fundamental, pois 99% destes crimes já nascem com a autoria esclarecida. Se o homem cometer esse delito, será descoberto e preso.
Destes 10 feminicídios em abril, um aconteceu na Serra. Andiara Cristians Fernandes da Silva, 28 anos, foi esfaqueada dentro de casa no bairro Montes Claros, em Caxias do Sul, no dia 26 de abril. No dia seguinte ao crime, o marido da vítima confessou a autoria e foi preso preventivamente. O homem de 22 anos, que não teve o nome divulgado em razão da lei de abuso de autoridade, se apresentou voluntariamente à Polícia Civil. Em depoimento, ele alegou foi atacado e, no momento de pegar a faca, acabou atingindo o pescoço da esposa.