Policiais que atenderam ao homicídio com incêndio em Forqueta desconfiam que o ataque tenha acontecido na casa errada. O crime teve características comuns de execuções ordenadas por facções que disputam o domínio sobre a venda de drogas em Caxias do Sul, mas este não aparentava ser o perfil da casa destruída. Jonatan Felipe Machado Lopes, 28 anos, possuía apenas uma passagem por jogo de azar em sua ficha policial.
Para o pai da vítima, este engano sobre o alvo seria a única explicação para o ataque. Sergio Glademir Gonçalves Lopes, que é divorciado e mora em Farroupilha, conta que Jonatan era trabalhador e cuidava da mãe e do irmão mais novo.
— Ele era um soldador de mão cheia, com vários cursos, e trabalhou em empresas grandes de Caxias. Estava desempregado no momento, mas fazia alguns "bicos" e estava aproveitando para construir um muro para a casa deles. Era um rapaz caseiro, respeitoso e trabalhador, que cuidava da mãe e do irmão. Eu me via muito nele. O que ele era, é o que eu sou. Sempre trabalhando e batalhando para ser alguém na vida — lamenta o pai.
Natural da Região da Fronteira, a família se mudou para a Forqueta há 18 anos. Além dois pais e do irmão caçula, Jonatan deixa quatro irmãs.
— Por sorte, o mais novo não estava em casa ou teriam matado também. O meu filho foi morto na frente da mãe (que os criminosos mandaram sair da casa antes de atirarem). Ela está arrasada, né? E está só com a roupa do corpo, porque não sobrou nada, foi tudo queimado. Eles (mãe e filho caçula) estão na casa da nossa filha mais velha — conta Sergio.
O homicídio aconteceu na Rua Jacob Grigoletto, às 23h22min de sábado (31). Dois criminosos armados invadiram a moradia e expulsaram a mãe. Na sequência, foram ouvidos quatro tiros. Ao sair, a dupla espalhou algum líquido combustível na porta e ateou fogo na casa. A vítima foi carbonizada, por isso, o corpo foi liberado pelo Departamento Médico Legal (DML) somente na tarde de domingo (1º) — o que só aumentou o sofrimento da família.
— Todos conhecem a nossa família (em Forqueta). Ele era conhecido por Marreca. Ele lutava capoeira e queria se aperfeiçoar para ensinar crianças carentes. Esse era o tipo de rapaz que era. Não era usuário de drogas, em hipótese nenhuma. Inclusive, ele conversava com o irmão (caçula) e o aconselhava para não entrar neste mundo das drogas — garante Sergio.
Em seu registro, os policiais militares que atenderam a ocorrência apontaram que o ataque pode ter ocorrido na casa errada — o que será investigado pela Delegacia de Homicídios. Este é o 56º assassinato registrado em Caxias do Sul em 2019. No mesmo período no ano passado, eram 89 mortes por violência — uma redução de 37% no número de vítimas. No total, 2018 registrou 110 assassinatos.
Despedida
O corpo de Lopes será sepultado na segunda-feira (2), às 11h, no Cemitério Público Municipal de Caxias do Sul.