O feminícidio de Gabrielle Paim da Silva, 18 anos, foi o terceiro assassinato de mulher em Bom Jesus em 2019. Para comparação, este é o mesmo número de vítimas que Caxias do Sul, que tem 50 vezes mais população. No total, já são oito mortes por violência no município de 10 mil habitantes. É mais do que o registrado nos últimos cinco anos somados, conforme os dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP).
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O caso de Gabrille é descrito como um caso clássico de feminicídio (morte de mulher em razão de gênero). Segundo a Polícia Civil, ela foi assassinada pelo marido Vilmar Antunes do Prado, 40, que não aceitava a separação. Ele não foi mais visto após o crime e é considerado foragido da Justiça.
O casal estava junto há três anos, têm uma filha de oito meses e morava no bairro Santa Catarina. O suspeito levou a menina para a residência de um familiar antes de atacar Gabrielle. A vítima voltava de uma lancheria com a familiar.
Uma familiar de 27 anos que visitava a jovem em Bom Jesus testemunhou o crime. O acusado estava embriagado e se aproximou já agredindo Gabrielle, sem um aviso ou uma briga anterior. Confira o relato da testemunha:
Pioneiro: Vocês estavam chegando em casa?
Familiar: A gente estava voltando de um xis. Tínhamos ido comer um lanche e, quando passávamos em frente da casa dela, ele saiu de trás de um muro e começou a bater nela. Segurei e mandei ela correr para dentro de casa. Ele arrombou a porta e bateu mais nela. Empurrei ele para fora, só que quando ele voltou já foi atirando. Atirou para todos os lados tentando acertar ela. Bati com um cabo de vassoura nele e ele veio novamente contra mim. Caí no chão e fui rastejando. Ele estava tentando atirar em mim, mas minha sobrinha saiu para fora de casa correndo e ele a alvejou. Ela caiu na rua, em frente de casa, onde fiquei com ela esperando o socorro.
Foi em Bom Jesus para visitar a Gabrielle e demais familiares?
Sim, estou na casa da mãe dela. Cheguei na sexta-feira passada. Passei um bom, mas curto tempo com ela. Foi ótimo. Ela gostava de fazer palhaçada, de fazer todo mundo rir. Era uma pessoa alegre, extrovertida e brincalhona. Não tinha motivos para ter medo. Não tinha uma ameaça aparente. Ela só queria separar. Estávamos conversando, entre nós, dela voltar comigo para tentar uma vida melhor. Se afastar dele. Estávamos recém conversando, mas queríamos ir ainda esta semana.
Eles estavam se divorciando?
Estavam em processo de separação. Ela pagava o aluguel, mas ele não queria sair de dentro em casa. Continuavam morando juntos. Ele tinha sumido com a menina deles, deixado na casa de um parente que só descobrimos depois.
A Gabrielle já tinha relatado alguma agressão?
Ela já tinha feito um boletim de ocorrência contra ele. Não era uma ordem (medida protetiva). Tinha registrado, mas não deu prosseguimento. Foi há alguns meses. Em princípio, ela não tinha medo. Ontem (domingo), conversamos sobre isso e ela até mencionou que ele a tinha ameaçado. Só que estávamos de bem, em casa. Tínhamos passado o dia juntas e estava tudo tranquilo. Ele estava lá e não tinha falado nada.
Não teve uma briga antes do crime?
Não, não teve briga. Ela passou o dia inteiro com a família. Almoçamos e passeamos. Estávamos na casa da mãe dela. (Na hora,) ele estava alcoolizado e bastante alterado. Gritava muito, mas era só que iria matar ela. Não tinha muito nexo.
É preciso falar mais sobre violência doméstica?
Sim. O sentimento é de raiva, não há outro. A vontade é de pagar na mesma moeda, o que fez com ela. Enquanto a lei não mudar, eles irão continuar matando. Teria que ser prisão perpétua ou pior. Não adianta cumprir um tempo e depois sair como se nada tivesse acontecido. Existe muito machismo.