Capturar o assaltante que atirou contra um comerciante e um cliente na noite de terça-feira (25) é a prioridade dos policiais de Bento Gonçalves. Mais do que cumprir seu dever, a Polícia Civil e a Brigada Militar (BM) querem passar um recado e impor um limite: latrocínios (matar para roubar) não serão mais aceitos na cidade.
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O vídeo da tentativa de assalto no bairro Fenavinho causa indignação pela covardia. O criminoso não só atirou contra o dono do minimercado, mas também contra um cliente que, como mostram as imagens, não havia se mexido. Por isso, a identificação e prisão deste criminoso é tratada com prioridade.
— Não podemos aceitar. Latrocínio, menos que seja uma tentativa, temos que estancar o mais rápido possível. Não podemos deixar acharem que (os criminosos) podem chegar e atirar em qualquer um — afirma o delegado Álvaro Becker, da 2ª Delegacia de Polícia, especializada no combate a roubos.
A opinião é semelhante a do comando da BM na cidade:
— Ontem (terça-feira), felizmente, os disparos atingiram superficialmente. Mas não tira a gravidade do fato: é um delinquente atirando contra pessoas trabalhando. É um crime que se combate com abordagens, abordagens e abordagens. Temos que tirar as armas que estão nas mãos desta bandidagem — corrobora o comandante do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (3º BPAT), major Álvaro Martinelli.
Sequência de crimes preocupa e sobrecarrega
A gravidade da tentativa de assalto na terça-feira incomoda porque dá sequência a uma onda de crimes violentos na Capital do Vinho. No início do mês, cinco homens foram executados com mais de 70 tiros em um bar do bairro Municipal, o que é a maior chacina do Rio Grande do Sul neste ano. Em maio, uma grávida foi morta a tiros no bairro Santo Antão. Coincidentemente, todos estes casos são investigados pelo delegado Álvaro Becker.
— Temos que investigar, mas não param de chegar casos. Todo dia e toda semana há um fato novo. Final de semana teve mais um homicídio. Estamos sobrecarregados, infelizmente, mas fazemos o que podemos. Iremos dar uma resposta para a sociedade, mesmo que tenhamos que chamar o Exército para ajudar — salienta o chefe da 2ª DP.
A força de expressão do delegado mostra a seriedade com que a Polícia Civil leva a violência crescente, ainda que a extrema atitude, a convocação do Exército, não seja considerada, ainda, uma alternativa para Bento Gonçalves. Tal reforço depende de negociação entre governos estadual e federal, e é cogitada apenas para casos extremos. Esta possibilidade foi cogitada para Caxias do Sul no início de 2017 — após o município registrar 150 assassinatos e mais de 3,8 mil roubos no ano anterior —, mas não se concretizou.
Por outro lado, a Capital do Vinho recebeu reforço no ano passado: 20 policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (BOE) de Porto Alegre foram mobilizados para responder a onda de homicídios provocada pelas disputas de facções. Bento Gonçalves terminou 2018 com 52 assassinatos.
Crimes estão diminuindo, mas a gravidade aumentando
O crime do bairro Fenavinho é a primeira tentativa de latrocínio registrada neste ano, conforme a Polícia Civil. Inclusive, o delegado Becker ressalta que os roubos estão em queda: foram 171 assaltos entre janeiro e junho de 2019 contra 350 no mesmo período do ano passado. Uma queda de 51% nos índices.
— A sensação de segurança nem sempre está diretamente relacionada a um índice baixo de casos registrados. Temos, sim, redução dos indicadores, mas a violência dos casos fazem com que as pessoas não se sintam seguras — lamenta o major Martinelli.
O aumento na gravidade dos crimes é atribuído à cultura trazida pelas facções:
— Grupos criminosos utilizam esta imposição pelo medo. É um comportamento entre estes delinquentes, de dizer que aquele que é mais violento se sobrepõe sobre os outros — aponta o comandante do 3º BPAT.
— Infelizmente, Bento Gonçalves deixou de ser uma cidade pacata — conclui o delegado Becker.