Horas após o assassinato de Weslei Amaral da Luz, 18 anos, o 95º de Caxias do Sul, a comunidade da Zona Oeste começou a se mobilizar por seus jovens. Pelas redes sociais, Maickol Cidade Nunes, 30 anos, lamentou que o acesso ao crime é muito mais fácil do que ao estudo e convocou os amigos por um movimento para atrair adolescentes para o lado certo: da arte, da cultura e do esporte.
Em cinco horas, a publicação teve 126 curtidas e 20 pessoas se prontificaram a ajudar na mobilização, como o grafiteiro Gustavo Gomes e representantes do grupo de hip hop Essência Crew.
— O pessoal do bairro está interessado. Queremos voltar com as atividades de grafite, dança e capoeira para desviar esses jovens da rua. Não queremos perder mais nossas crianças. O bairro, infelizmente, parou de incentivar as crianças e adolescentes — conta Nunes, que é pintor industrial e grafiteiro e mora no Reolon há 26 anos.
Nunes conheceu Weslei durante um projeto voluntário em parceria com o metalúrgico e professor de dança Pablo Silva Pinheiro, entre 2014 e 2015. Por falta de recurso, as oficinas foram encerradas e os voluntários se acostumaram a ver o antigo aluno entre os jovens que se reúnem pelas ruas.
— Começou a faltar recurso, infelizmente. O Weslei gostava de todas as atividades, da dança ao grafite. As crianças criam essa afinidade com a gente. É complicado, muito triste. A cultura é uma baita ferramenta de tirar esses jovens desse mundo obscuro. Quando estão na aula, não estão fazendo coisas negativas — conta Pinheiro.
O próximo passo da mobilização comunitária seria uma reunião para determinar como cada voluntário pode ajudar. No entanto, o principal empecilho ainda é a falta de local para as atividades. Nos próximos dias, Nunes pretende pedir ajuda ao presidente do bairro.
— No Reolon mesmo, não tem nada. O que há é o centro comunitário do Vale da Esperança, mas tinha sido interditado. Teve uma época que a igreja cedia um espaço, mas a parceria acabou. Hoje não tem mais opções. Precisamos de atividades para atrair esses jovens e afastá-los destes caminhos errados — ressalta o grafiteiro.
Assassino invadiu moradia horas antes
Weslei foi morto com seis tiros de pistola calibre .40, que é uma arma de uso restrito, na Rua Clovis Gonçalves Maciel, por volta das 20h40min de quarta-feira. A execução aconteceu cerca de 30 metros da casa da vítima. O atirador estava na carona de uma motocicleta azul e, horas antes, teria invadido a moradia do seu alvo.
— Ele (assassino) entrou na casa, mas se assustou quando me viu. Queria o Weslei, chamava pelo nome. Não mostrou arma, só chegou e entrou. Como sou vigilante e tenho curso de defesa pessoal, imobilizei e joguei ele para fora de casa. Eu vi o motoqueiro esperando do lado de fora — relata o padrasto da vítima, que por segurança tem a identidade omitida.
Algumas horas depois, Weslei retornou para casa e foi avisado pelo familiar que estava sendo procurado por "alguém com más intenções". Apesar do conselho para se esconder, o jovem decidiu ir falar com os "moleques da rua" para descobrir alguma coisa. Logo depois de sair de casa, foi morto.
— Há muitos rumores e boatos, mas não sabemos nada de concreto. Uns dizem que (o Weslei) tinha envolvimento com drogas, mas eu nunca vi. Dentro de casa, nunca aconteceu. Foi uma tragédia e está muito mal contada — lamenta o padrasto, que conta que o enteado havia largado os estudos e trabalhava como pintor junto com um outro familiar.
Weslei foi sepultado no Cemitério Público Municipal II, no bairro Rosário. Respeitando o luto, a Delegacia de Homicídios pretende ouvir os familiares da vítima na sexta-feira.
— A vítima não tinha antecedentes relevantes e, neste momento, não há nada que indique envolvimento com drogas. Procuramos testemunhas, mas esse é um bairro de pouca colaboração. Após o sepultamento, começaremos a ouvir os familiares — resume o delegado Rodrigo Kegler Duarte.