Cartazes colados em postes nas ruas centrais de Caxias do Sul pelo vigilante Jerson Rogerio Gallas, 45 anos, têm sido reproduzidos com exaustão nas redes sociais. Está impressa em folhas de ofício a proposta de Gallas: ele oferece aulas de história em troca de comida. Essa foi a maneira que o vigilante encontrou para praticar um pouco do que aprendeu nos 10 anos em que cursou História na Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Ele concluiu a faculdade no final de 2015 e não conseguiu ainda emprego para trabalhar como professor. Nunca ficou desempregado, já que é vigilante desde 1998, e sua trajetória profissional é extensa. Já vendeu picolés, entregou jornal, bateu de porta em porta para tentar vender enciclopédias. O grande sonho, confessa, é liderar uma sala de aula e ouvir finalmente um pedido de ajuda que comece com "Ô, professor".
— Uma professora aposentada me ligou porque viu meu anúncio e disse que iria me dar uma cesta básica. Mas não é isso que eu quero. Eu quero dar aula — desabafa.
Gallas tranquiliza que nem ele, nem sua família, passam fome. No entanto, a cada 30 minutos de aula, cobra um quilo de alimento não perecível, exceto sal. O que arrecada é dividido entre sua família e crianças carentes. Quer montar cestas básicas para entregar a entidades de Caxias que alimentem esse público. Por enquanto, lecionou três aulas. Arrecadou arroz, feijão e massa, itens que já foram pra sua despensa. Mas espera ansioso pelos próximos alunos: ele aceita pedidos de alunos de qualquer faixa etária, para qualquer série ou conteúdo relacionado às disciplinas. Atendeu de adulto interessado em concurso até uma criança do sexto ano do Ensino Fundamental.
A rotina de vigilante, que trabalha 12 horas e folga o dia seguinte, oferece a facilidade de poder se ocupar com o planejamento do conteúdo ao cliente. As aulas que ministra são de história, geografia, sociologia, filosofia e religião, disciplinas que a habilitação de história permite atuar. Leciona em sua modesta sala de estar, no bairro São José.
— Eu já deixei meu pedido para os colégios, que ofereçam a aula como um reforço aos estudantes. Também estou aceito doação de material de apoio para compartilhar com os alunos — explica.
Gallas seguirá estudando para concursos na expectativa de monetizar seu sonho, recebendo salário como professor. E quem deseja ter aulas de história com ele basta acioná-lo pelo telefone (54) 9.9945.2700. Em troca, é só ter uma sacola de comida.